[CRÍTICA] Caça-Fantasmas – Controvérsias, renovação e muita diversão!
[CRÍTICA] Caça-Fantasmas – Controvérsias, renovação e muita diversão!
Um dos filmes mais controversos da década, Caça-Fantasmas finalmente estreou nos cinemas nacionais na última quinta-feira. Nós conferimos e aqui vai a crítica da nova versão cinematográfica que veio para renovar a franquia!
Ficha Técnica
Título original: Ghostbusters; Duração: 119 minutos; Data de estreia: 14 de julho de 2016 (Brasil); Direção: Paul Feig; Produção: Ivan Reitman e Amy Pascal; Roteiro: Paul Feig e Katie Dippold; Elenco: Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Leslie Jones, Kate McKinnon, Chris Hemsworth, Neil Casey, Andy Garcia e Cecily Strong.
Caça-Fantasmas: Renovando a Franquia!
Depois de várias críticas antecipadas e até mesmo injustas com o novo reboot do filme original de 1984, Caça-Fantasmas retorna em uma nova franquia, atualizada com tecnologia e questões contemporâneas, além de uma boa dose do humor que consagrou toda a carreira do seu elenco e de sua equipe técnica.
Na nova história, Erin Gilbert, uma acadêmica fracassada acaba se reunindo com uma antiga amiga, Abby Yates, e juntas de Jillian Holtzmann e Patty Tolan, as quatro abrem uma firma de investigação e combate sobrenatural na cidade de Nova York. Dessa forma, elas têm que lidar com uma ameaça crescente manipulada por um inimigo misterioso.
Elenco monumental
Para todos preocupados com a qualidade do elenco, já se faz necessário dizer que ele é um dos pontos altos do filme. Apesar de estarem mais contidas do que em outros trabalhos, as quatro protagonistas esbanjam uma química muito boa em entre si e não descansam em momento algum na quantidade de humor e piadas.
Kristen Wiig interpreta Erin, que é a personagem central do filme. A ação transcorre a partir dela, e percebe-se o quanto ela está confortável no trabalho. Melissa McCarthy e Leslie Jones, que interpretam Abby e Patty são duas comediantes natas, e sabem conduzir a trama com um ótimo humor que sequer precisa sair das falas. Já Katie McKinnon, a Jillian, interpreta uma das personagens mais afetadas do filme, mas permanece fiel no papel do começo ao final, com destaque para uma cena de ação que combina os dois pontos altos do filme: o viés cômico e a aventura.
Desenvolvendo a aventura
A história não foge muito da estrutura do filme original, embora os detalhes são o que o diferenciam da matéria-prima. Aqui, as quatro meninas investigam aparições sobrenaturais “provocadas” por um vilão humano. Após planos falidos e interferência do governo, elas acabam tragadas em meio ao caos de um apocalipse sobrenatural em Nova York.
Nesse ponto, é curioso que o filme funcione como uma crescente para um clímax, tangenciado por piadas e cenas de ação funcionais. Porém, um detalhe que prejudica o andamento dessa história é a edição, que torna o filme pelo menos quinze minutos mais longo que o necessário, perdendo-se um pouco a agilidade e a força da trama e das piadas.
Dinâmica de humor
Assim como qualquer filme de comédia, Caça-Fantasmas possui uma variedade grande de cenas cômicas e piadas. Algumas não funcionam como deveriam, mas a maioria consegue pegar carona no talento sem igual do elenco e ganham pontos ao arrancar risadas do público, seja fazendo referências aos filmes originais ou apostando em algo novo.
E, apesar de ser claramente destinado a um público infanto-juvenil, o filme sabe diversificar seu humor. As cenas vão desde o humor pastelão barato até diálogos ácidos e pontuais, que requerem um pouco de conhecimento em toda a história do filme nas redes sociais para serem perfeitamente compreendidos e apreciados.
Rebatendo críticas com representação
E quando falo de história nas redes sociais, me refiro precisamente a toda a dose cavalar de ódio que o filme recebeu na Internet antes de seu lançamento, algo que não há precedentes na história de nenhum outro reboot ou remake Holllywoodiano. Se muitos criticavam – sem nenhum nexo – a decisão de transformar os Caça-Fantasmas em uma franquia encabeçada por mulheres, o filme não apenas reconhece isso como também rebate críticas de uma forma brilhante.
Em algumas cenas, podemos ver as personagens lendo comentários odiosos ou discutindo com outros coadjuvantes que são representativos de grupos reais. E embora isso seja funcione no humor do filme, nota-se o quanto a equipe foi afetada pela pressão de um público controverso. Ainda assim, nota-se o esforço de traçar uma representatividade para crianças – independente do gênero – e um bom exemplo disso no filme é toda a história do passado de Erin, que lhe confere profundidade e ainda fica como a lição de que todos podemos achar pessoas semelhantes a nós que podem nos ajudar em nossa jornada.
Coadjuvantes e subversão
Quanto ao lado coadjuvante do filme, um destaque muito especial precisa ser dado para Chris Hemsworth. O ator interpreta uma versão subversiva e divertidíssima do estereótipo da “loira burra”. Embora seu personagem acabe ficando exagerado e até mesmo um pouco fora de sintonia com o resto do filme, ele arranca gargalhadas e demonstra um crescimento na trama. Por outro lado, o vilão do filme é decepcionante e não equilibra o carisma com o resto do elenco, e apesar de toda sua importância, é provavelmente o ponto mais baixo do filme.
Porém, eles são os únicos coadjuvantes a ter tal importância na trama. O resto dos personagens estão lá de forma unidimensional e simbolizando estereótipos. Os agentes federais, o prefeito que não quer colocar a cidade em pânico e a secretária que cuida da maior parte do trabalho sujo com a imprensa. E no meio disso, várias e várias participações especiais do elenco do filme original...
Assombrado pelo legado
Se essas participações simbolizam algo é como o maior problema do filme é o legado deixado pela franquia anterior. Embora as cameos sejam legais, em sua maioria, elas começam a acontecer com tanta frequência que o filme acaba perdendo seu foco. Alguns personagens aparecem gratuitamente e sem função alguma, mas acabam tomando mais tempo de tela que o necessário.
É curioso notar que na sequência final, o inimigo a ser enfrentado acaba tomando a forma do logotipo da franquia. Isso, seja consciente ou não por parte dos realizadores, acaba demonstrando que o maior inimigo a ser enfrentado pelas Caça-Fantasmas é o peso deixado culturalmente pelos filmes originais. E assim como outros filmes atuais como Jurassic World e Exterminador do Futuro: Gênesis, o filme por vezes acaba servindo como um subproduto dos filmes originais, preso por uma quantidade absurda de referências e ligações que, embora sejam legais, não precisavam realmente estar lá.
Fantasmas e problemas
E apesar de conseguir superar a maior parte de suas adversidades, Caça-Fantasmas acaba caindo em alguns problemas. A já mencionada edição é o principal deles, pois retira um pouco da agilidade do filme, algo que seria mais bem-vindo. Além disso, diálogos exagerados sobre a cientificidade por trás das buscas sobrenaturais acabam saturando um pouco o público. O filme também não traz nenhuma melhora ou diferença significativa na história da franquia original, o que nos faz perguntar a necessidade de sua realização.
Com tantas renovações, outro problema acaba sendo o humor mal dosado. Embora o filme seja muito engraçado, há cenas que acabam exagerando demais, retirando um pouco o foco da trama e funcionando melhor como esquetes independentes dentro da trama – uma guitarra quebrada e um jogo envolvendo os cabelos de Kristen Wiig e Melissa McCarthy mais no final do filme exemplificam bem isso. Ainda assim, destaque para o campo técnico. Embora o uso de computação gráfica se limite ao funcional, não dando nada a mais que isso, ela funciona bem no 3D do filme, o que é um alívio numa era onde o 3D só é usado para encarecer os ingressos. Outro destaque para a direção de arte do filme, que embora reduzida, é bem empregada.
Considerações finais
De forma geral, Caça-Fantasmas é um ótimo filme. Tem seus defeitos, mas a forma como lida com eles é bem empregada e na maior parte dos casos, consegue disfarçar seus problemas graças ao brilho do seu elenco, que está confortável e bem disposto em cena. A direção de Paul Feig é eficaz e funciona muito bem com o tom do filme, de forma que o saldo é bem positivo. Com sorte, o futuro trará uma continuação que se livre mais das amarras da franquia original e que ouse em ir além e construir sua própria mitologia. Mas, por ora, é um filme de transição, mas diferente de outros com a mesma categorização, está longe de ser morno ou ofuscado.
NOTA: 4/5
PS: Fiquem até o final... tem cena pós-créditos e pode ser um bom indicativo da continuação. E evitem a versão dublada, pois ela retira muito do humor do filme.