Um problema recorrente entre os filmes de herói tem sido o seu marketing. Entre a greve de atores e roteiristas e uma fadiga do público, a Marvel Studios e DC Studios têm encontrado dificuldade em fazer com que os espectadores engajem com suas tramas.

No caso de As Marvels, o carro chefe da produção ficou por conta da química de Brie Larson, Teyonah Parris, Iman Vellani e a diretora Nia DaCosta. Infelizmente, não apenas tivemos pouco das quatro em entrevistas como o material promocional não conseguiu criar uma procura pela equipe criativa.

Antes de As Marvels, Monica Rambeau apareceu outras duas vezes no MCU: Capitã Marvel e Wandavision. Enquanto ainda era apenas uma criança no filme solo de Carol Danvers, Monica adquiriu seus poderes na série da Feiticeira Escarlate e Visão. Porém, foi apenas no novo filme que mostrou do que é capaz.

Em As Marvels, vemos diversas utilidades para os poderes de Fóton, desde simples manipulação de energia até se tornar intangível e voar. Tudo isso foi exposto e explicado sem complicações, fazendo o público querer ver mais da heroína.

Por outro lado, os poderes da Ms. Marvel representaram um deslize para o filme. No final da série solo da personagem, vimos a totalidade dos poderes de Kamala Khan com a sua famosa frase de efeito: “Engrandecer!”. Por isso, havia uma expectativa para que a heroína mostrasse mais do que é capaz em As Marvels. Infelizmente, seus poderes permaneceram no campo dos escudos e criação de plataformas.

As Marvels tem uma das melhores cenas de luta do universo cinematográfico do estúdio. Em determinado momento, temos as três heroínas contra Dar-Benn. Entre teletransportes e o uso de diferentes poderes, Nia DaCosta foi capaz de direcionar a atenção do público com maestria, transformando o que poderia ser uma “bagunça” em algo fluido e divertido.

Não é de hoje que a Marvel tem encontrado dificuldade com seus vilões. Entre erros e acertos, alguns parecem apenas favorecer a trama enquanto lhes falta profundidade e motivação. Algo que a personagem de Zawe Ashton, Dar-Been, também sofre.

Apesar de um plano consistente e o carisma da atriz, a vilã parece vazia, como se tivesse sido criada apenas como um contraponto para Capitã Marvel e companhia. Infelizmente, isso a transforma em um personagem monodimensional e pouco interessante.

Por outro lado, o retorno da família Khan foi uma escolha acertada. Os pais e irmãos de Kamala conseguiram construir uma química interessante com Nick Fury e a tripulação da S.A.B.E.R. Servindo como alívio cômico, mas também muito drama, Zenobia Shroff como Muneeba Khan é o destaque. Seu amor por Kamala não é apenas grande parte da força motriz da heroína como também impulsiona diversos momentos cativantes na estação espacial da S.W.O.R.D.

Assim como todo filme do Universo Cinematográfico da Marvel, As Marvels serve a uma propósito. Desta vez, se trata de abrir uma brecha na realidade e levar uma de suas personagens para um universo onde os X-Men existem. Apesar dessa trama significar uma grande abertura na Marvel Studios, isso também apaga a jornada das três heroínas.

A lógica de que cada filme do MCU precisa servir a algo limita o potencial criativo de diretores e roteiristas. Desta forma, uma trama interessante sobre três mulheres fortes é reduzida a uma cena pós-crédito.

Goose foi um dos pontos altos em 2019 com o lançamento de Capitã Marvel. O “gato” é um flerken e antigo mascote de Mar-Vell No novo filme, descobrimos que se tornou um companheiro indispensável nas aventuras de Carol Danvers. Mas, desta vez, o “gato” não apenas assustou Kamala e sua família como também deu início a uma das cenas mais divertidas do filme: a invasão dos flerken na S.A.B.E.R.

Além de servir a um propósito, As Marvels também pinta diversas questões: a impulsividade de Carol Danvers, a relação de Monica Rambeau com sua mãe e a admiração de Kamala Khan pela figura de Capitã Marvel. Infelizmente, nenhuma dessas questões é totalmente resolvida. Enquanto algumas recebem um digno ponto e vírgula, outras parecem passar batido, sem uma profundidade adequada.

Se antes havia alguma dúvida na escalação de Brie Larson, Teyonah Parris e Iman Vellani como Carol Danvers, Monica Rambeau e Kamala Khan, As Marvels apaga qualquer uma delas. Aqui, a “família Marvel” ganha um aspecto animado que funciona desde seu primeiro encontro. O talento e a química das três atrizes é o que sustenta boa parte do filme, o transformando em uma aventura que, acima de qualquer coisa, é divertida.