Gaslighting é como se descreve uma situação em que há um abuso psicológico em que o abusador manipula a cabeça da vítima, fazendo-a duvidar de si mesma em vários âmbitos, como identidade e sanidade, por exemplo, criando uma situação de dependência para com o abusador.

Isso nos leva ao caso de Coringa e Arlequina, mais especificamente para o momento em que os dois se conheceram. A cada sessão de terapia no Asilo Arkham, o vilão começava a fazer a mente de Harleen, que mudou totalmente sua vida por conta de seu paciente, deixando de ser médica psiquiátrica a ajudante de crime do Príncipe Palhaço do Crime.

E muitas das histórias envolvendo os dois mostram o quanto que ela acaba sendo muito dependente dele, mesmo com toda a manipulação do Coringa.

Ao longo da série animada do Batman, Arlequina cria muitos momentos de flerte para o Coringa, sempre tentando colocar mais "fogo" na relação - quase sempre em vão, pois ele se concentra mais em fazer planos para derrotar o Batman.

Em um dos episódios, Harley faz uma surpresa pro Senhor C: banhada em pudim, ela começa a dançar sensualmente enquanto canta "Parabéns Pra Você" para o Coringa. Poderia ter funcionado para ela se ele não dissesse que não gosta de pudim, e imediatamente voltar à mesa de planejamento.

Em outro episódio da série animada, o Coringa está colocando sorrisos nos peixes, para poder criar uma marca registrada em cartório e vendê-los para fazer dinheiro. Em certo momento, Arlequina reclama que o Senhor C não está dando atenção para ela.

Em resposta, o Coringa diz que ela poderia ser sua sereiazinha, e coloca uma enorme fantasia de peixe na cabeça dela, mesmo sabendo que ela não gosta de peixe. A cena é hilária, típica do tom de humor que o personagem pratica na série.

Em outro episódio, Arlequina concluiu que, para o Coringa se apaixonar por ela, Harley tinha que matar o Batman. Assim, ela executa um plano para capturar o Homem-Morcego, e, além do plano ter dado certo, ela o prende de ponta-cabeça a um tanque d'água cheio de piranhas. Só que, quando o Coringa aparece, ele reage de maneira totalmente diferente do que ela esperava.

O vilão fica muito zangado, e, enquanto batia em Arlequina por ter quase matado o Batman usando um de seus planos, ele diz que ela nunca entendeu que isso acabaria com a relação entre ele e o Batman, e a joga de uma janela. Depois de ser encontrada pela polícia e acordar num hospital, Harley recebe um buquê de flores com uma mensagem dizendo "Fique bem logo". Bizarro, né?

O filme animado do Batman do Futuro mostra uma história onde o casal de vilões procura criar uma família, tendo inclusive um filho. Mas, ao invés de tentar criar um da maneira convencional, os dois capturam o Robin (Tim Drake), e, através de experimentos, limpam sua memória e o transformam num Coringa Júnior.

A cena, que é um flashback onde Bruce Wayne conta a Terry McGinnis como o Coringa original havia morrido, mostra uma situação bastante inusitada entre os dois, além de ser um dos planos mais macabros que os dois já realizaram juntos.

Na graphic novel Coringa, o Príncipe Palhaço do Crime é retratado como um mafioso, e Arlequina é muda e uma stripper, que o ajuda nos crimes. Em uma das cenas da história, o Coringa é visto chorando desesperadamente no colo de Arlequina, durante uma disputa de território com o vilão Duas Caras.

Como a história não é canônica, isso deu mais liberdade ao roteirista Brian Azzarello de criar uma versão mais realista do Coringa, diferente do vilão da qual o leitor é habituado a ver.

Ainda na graphic novel, o Coringa promove um enorme momento de sadismo e crueldade a Monty, dono de um clube de strippers, que confude a Arlequina com uma de suas empregadas.

O Palhaço fica bastante irritado com a situação, e, como lição, ele tira a pele de Monty, e o jogo no palco de seu clube para todos verem. Uma verdadeira mostra para que ninguém mexa com o Coringa, ou com sua ama, ou sofrerão as consequências.

O reboot promovido pela fase dos Novos 52 na DC promoveu uma série de histórias bizarras e horripilantes envolvendo Coringa e Arlequina. Mas aqui, destacamos uma em específico: durante sua passagem pelo Esquadrão Suicida, Harley é capturada pelo Coringa, que a prende num calabouço com outras Arlequinas.

Quando ele diz isso a ela, é possível ver uma série de corpos e esqueletos vestindo o mesmo traje que o dela, que a deixa em pânico. Uma cena bastante cruel promovida pelo vilão, que poderia tanto estar mostrando para Arlequina que ela é só mais uma na sua vida, como também poderia estar fazendo um jogo mental bem sádico para manipular a mente dela. De qualquer forma, é bem repulsivo.

O universo do jogo Injustice apresenta uma versão totalmente diferente da Arlequina num universo onde o Coringa é morto pelo Superman. Mas um dos detalhes que os roteiristas adicionaram à história foi a filha do casal, Lucy. No Ano 2 das HQs do jogo, Harley conta para a Canário Negro que chegou a ficar grávida do Coringa, e que se afastou dele por quase um ano por conta da gravidez. Ela voltou pra ele, mas sem contar da sua filha, que ficou com a tia para ser criada.

O momento diz muito sobre a Arlequina na história, mostrando que ela, apesar de depender muito do Coringa - que nem se importou dela ter passado tanto tempo longe -, tinha consciência de que era melhor pra sua filha que crescesse como uma criança normal, longe da sua vida criminosa. Um momento muito emocional para a personagem.

E, pra finalizar, não poderíamos deixar de fora o encontro cinematográfico do casal, no filme Esquadrão Suicida, que mostra uma versão similar da origem da Arlequina nos Novos 52, com a diferença de que ela é quem escolhe entrar nassa cilada - digo, na vida de crimes com o Coringa, mostrando que a maior razão dela ter se tornado uma vilã é a consequência dessa escolha.

O filme também mostra cenas memoráveis, como uma recriação da famosa arte de Alex Ross do casal, os dois juntos sendo perseguidos pelo Batman e o Coringa querendo resgatar sua amada do Esquadrão Suicida durante o filme. Chega a ser uma pena que não devemos ver, pelo menos não tão cedo, novos momentos entre os dois, seja de paixão, loucura ou conflito, nos cinemas.