A Casa do Dragão: 6 coisas que não funcionaram na primeira temporada da série

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A Casa do Dragão: 6 coisas que não funcionaram na primeira temporada da série

Por Jaqueline Sousa

Atenção: Alerta de Spoilers!

Após dez episódios, a primeira temporada de A Casa do Dragão chegou ao fim. A série tem como foco as intrigas familiares da Casa Targaryen e conta com o apoio de um excelente elenco para narrar os eventos que resultaram na famosa guerra civil chamada de A Dança dos Dragões.

Muitas coisas legais aconteceram ao longo desse primeiro capítulo, mas nem tudo foi tão empolgante assim. Isso vai além de uma simples (e redutora) comparação entre a adaptação audiovisual e o livro Fogo e Sangue, de George R. R. Martin (que não vem ao caso aqui), pois diz respeito a algumas escolhas que não funcionaram tão bem na narrativa da primeira temporada da série.

Pensando nisso, aqui estão as 6 coisas que não deram certo no capítulo inicial de A Casa do Dragão e o motivo pelo qual elas não funcionaram!

Lembrando que a lista está repleta de spoilers da primeira temporada da série. Portanto, continue por sua conta e risco.

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O exagero de saltos temporais

Talvez uma das coisas que mais prejudicaram o desenvolvimento da narrativa de A Casa do Dragão foi o exagero de saltos temporais. Por mais que seja compreensível que a equipe por trás da série tenha optado por esse artifício para conseguir preparar o terreno até a Dança dos Dragões, ainda assim sua execução não foi uma das melhores.

O excesso de avanços temporais comprometeu o desenvolvimento dos personagens, e um exemplo é o que aconteceu com Harwin Strong e Laena Velaryon no sexto episódio. Isso porque não tivemos tempo o suficiente com eles na série para que suas mortes causassem qualquer tipo de comoção sincera. Isso porque tudo pareceu muito corrido e superficial, deixando lacunas que poderiam ter sido preenchidas se o enredo não tivesse tanta pressa para chegar no grande conflito.

Por mais que personagens como Rhaenyra e Daemon Targaryen sejam carismáticos, outros acabam perdendo esse apelo porque não conseguimos nos importar com o que acontece a eles. Não há vínculo emocional com os personagens, e essa ausência faz com que eles sejam apagados pelos acontecimentos grandiosos, algo que não deveria acontecer. Afinal, são os personagens que dão vida à trama e não o contrário.

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A violência contra mulheres

Não é de hoje que a representação feminina em Game of Thrones é pauta entre os fãs da franquia. Desde o início da série original da HBO, muito tem se falado sobre a forma como a violência contra as mulheres é retratada na produção de um jeito irresponsável e problemático. Infelizmente, esse “legado” se repetiu em A Casa do Dragão.

Você pode até pensar que “ah, é uma história medieval e o sistema da época era rigidamente patriarcal e opressivo em relação às mulheres", mas isso não é uma desculpa para que esse tipo de violência seja usado como um simples artifício de choque (aspecto que será detalhado no próximo item), sem acrescentar nada mais à narrativa.

Afinal, qual foi o intuito de mostrar Daemon enforcando Rhaenyra no último episódio da primeira temporada de A Casa do Dragão além de contribuir para o grande espetáculo que a série quer oferecer? Logo, não tem como não fazer um paralelo com a violência sofrida por Sansa Stark em Game of Thrones, que estava ali apenas para chocar o público, ou as constantes cenas de abuso físicos e sexuais sofridos por mulheres na narrativa. Isso não é e nunca foi entretenimento, e também não houve justificativa no enredo de nenhuma das duas séries que sustentasse esse tipo de representação.

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Cenas impactantes apenas para chocar o público

Uma coisa que definitivamente não funcionou em A Casa do Dragão foi o uso de cenas impactantes apenas para chocar o público. Isso também não é algo novo para os fãs desse universo, pois Game of Thrones já vinha fazendo isso em suas últimas temporadas com maestria.

O maior exemplo desse problema está no nono episódio de A Casa do Dragão, que conta com a polêmica sequência em que Rhaenys Targaryen invade o septo onde Aegon II Targaryen está sendo coroado como rei dos Sete Reinos.

Na cena, a Rainha Que Nunca Foi simplesmente chega ao local com seu dragão – matando um número considerável de civis inocentes, diga-se de passagem – apenas para encarar os Verdes e partir logo em seguida. Além de não acrescentar em nada na narrativa, a invasão do septo escancara como a produção desenvolveu certas cenas só para chocar o público, sem construir uma justificativa que sustente aquilo a longo prazo.

Outro exemplo é a cena do banquete de casamento entre Rhaenyra Targaryen e Laenor Velaryon, que acontece no quinto episódio da primeira temporada: em um show de violência gratuita, Criston Cole assassina Joffrey Lonmouth brutalmente. A sequência é confusa e estranha, já que não houve sequer um desenvolvimento para que ela fosse cabível ali.

É por isso que a justificativa simplória de que os casamentos de Westeros sempre são sangrentos não deveria nem ser levada em consideração neste caso, pois não houve um pano de fundo coerente com a narrativa e nem com as ações dos personagens. A sensação que fica é que o impacto das cenas está ali apenas para gerar engajamento nas redes sociais, servindo a um espetáculo onde tudo é permitido.

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Consequências? O que é isso, um filme?

Outro ponto sofrível na primeira temporada de A Casa do Dragão é a ausência de consequências em relação às ações dos personagens na trama, uma questão que também está ligada com o choque gratuito que a série proporciona em determinadas sequências.

Aqui, a cena que melhor exemplifica é justamente aquela em que Criston Cole assassina brutalmente Joffrey Lonmouth. Como um cavaleiro da Guarda Real causa uma comoção de tal nível durante o banquete de casamento da filha do rei e simplesmente sai impune?

A questão não é nem a violência da cena, mas sim a falta de justificativa para que esse derramamento de sangue acontecesse. Afinal, depois do tumulto, o assunto nunca mais vem à tona e fica por isso mesmo. Cole continua com sua posição de prestígio como se nada tivesse acontecido.

De maneira geral, conflitos são deixados de lado ou resolvidos superficialmente sem apresentar um efeito de causa e consequência ou, quando elas existem, são desequilibradas, como no caso de Harwin Strong. O cavaleiro recebe uma punição severa após dar alguns socos em Cole, sendo que este último segue caminhando pelo reino depois da violência que cometeu no banquete do casamento de Rhaenyra.

Mais uma vez, o contraste mostra que a série poderia ter acertado ao apresentar as consequências de ações na narrativa, mas o choque sempre prevalece e isso atrapalha uma boa execução.

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Tudo parece ser “acidental”

E se Jamie Lannister tivesse “acidentalmente” empurrado Bran Stark da janela de uma torre em Game of Thrones? Parece que é partindo dessa premissa que A Casa do Dragão construiu a última cena da primeira temporada, quando Aemond Targaryen “acidentalmente” instiga Vhagar a matar Lucerys Velaryon durante uma luta de dragões.

A grande vingança de Aemond contra Luke era bastante aguardada pelos fãs da obra de George R. R. Martin, mas sua execução não foi uma das melhores. Além de ser uma tentativa de amenizar ações repulsivas de seus personagens, a cena em questão apenas exemplifica como certas coisas parecem ser feitas por acaso.

O ponto de virada para a maior guerra civil da Casa Targaryen, na verdade, agora é uma mera questão acidental. A coroação de Aegon II Targaryen após a morte de Viserys? Apenas um mal-entendido de Alicent Hightower. São coisas simples que poderiam ter encontrado soluções mais plausíveis, algo que a segunda temporada pode trabalhar com mais afinco.

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Amenização das atitudes dos personagens

Como dito no item anterior, a suavização das ações dos personagens na trama é outro ponto que também não funcionou tão bem assim na primeira temporada. É compreensível que a série queira trabalhar com as nuances entre o bem e o mal, afinal ninguém é 100% uma coisa ou outra. O problema é quando isso começa a atrapalhar o desenvolvimento dos personagens.

Se por um lado alguém como Daemon consegue transitar entre essa dicotomia, embora ele penda mais para o lado sombrio da coisa, figuras como Alicent e o próprio Aemond, que “acidentalmente” deu um fim na vida de Lucerys, já não recebem o mesmo tratamento. Há um certo impedimento no caminho que faz com que suas ações sejam suavizadas, como se atitudes controversas não pudessem ser associadas a eles. A própria Rhaenyra é outra que também sofre com a amenização de atitudes problemáticas.

A questão aqui não é que todos os personagens precisam sujar as mãos de sangue o tempo inteiro. Mas a obra criada por George R. R. Martin possui um universo violento, onde as peças que movem essa guerra pelo Trono de Ferro fazem aquilo que é preciso para sobreviver, custe o que custar. Assim, levando em consideração uma guerra civil tão sangrenta quanto a Dança dos Dragões foi, fica a dúvida como ambos os lados – os Pretos e os Verdes – irão se posicionar nessa história a partir da segunda temporada.