9 dicas de veteranos da indústria para começar a trabalhar com animação

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9 dicas de veteranos da indústria para começar a trabalhar com animação

Por Gabriel Mattos

Desenhos animados fazem parte da infância de todas as crianças no Brasil. No auge da nossa imaginação, conhecemos mundos repletos de ninjas, monstros, robôs e super-heróis. Alguns despertam até um interesse em trabalhar no mercado de animação, de ser aquilo quando crescer. Mas o tempo passa e quando chega a hora de transformar este sonho em realidade: o que fazer?

No mês de maio, tivemos a oportunidade de entrevistar três profissionais incríveis da indústria da animação — Leo Matsuda, que trabalhou no storyboard de Operação Big Hero; Fred Cassar, cenarista em Irmão do Jorel; e Gabriel Franklin, artista de storyboard em Ninjin. Todos tiveram trajetórias bastante diferentes e deixaram dicas que podem ajudar artistas iniciantes a ingressar na tão sonhada carreira. Confira 9 dicas de ouro para começar a trabalhar com animação!

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Comece pelo básico

A primeira dica pode parecer tão óbvia que acaba sendo subestimada por muita gente, mas independente da área que você pretende atuar, é importante saber o básico do processo de animação. “Tem muitos cursos legais, muitos tutoriais online… Tem o Crehana, Domestika, tem bastante lugar que a galera pode pegar informação,” sugere Franklin, que começou como animador 2D e hoje trabalha como diretor na Birdo Studio.

O processo de animação exige muita criatividade, sim, mas o primordial é saber trabalhar em equipe. E, para isso, é importante que todos estejam alinhados sobre os princípios técnicos de modo que a equipe fale a mesma língua. “Por mais que você não queira ser animador… Se você quer fazer, sei lá, design de personagem ou cenário, eu acho que é muito importante você saber o básico de animação,” reitera o diretor.

Depois que dominar as teorias mais genéricas, que ajudam todos os campos, é a hora de procurar conhecimentos mais específicos. Fred Cassar do Copa Studio diz que para trabalhar com cenários, por exemplo, é crucial saber lidar com perspectiva, teoria de cores e composição. “Estudar o básico disso, saber construir uma cena de maneira equilibrada, executar cor e pintar puxando o foco para o lugar certo… É importante demais e é reconhecido quando batem o olho em um portfólio," comenta o cenarista.

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Seja flexível com sua arte

Um erro comum de quem está entrando no mercado de animação é esquecer que, em sua essência, animação é um negócio. Ter um estilo de ilustração único é interessante, mas ser flexível é essencial! Esta foi a primeira lição que Matsuda deixou em nosso bate-papo: “Você tem que entender o que cada estúdio está pedindo!”

“Às vezes você quer fazer sua arte (do seu jeito), mas não necessariamente o que você faz é o que o estúdio está querendo,” alerta o diretor. Muitos iniciantes, apesar de talentosos, acabam sendo rejeitados em entrevistas por apresentar um portfólio que não combina com a cultura do estúdio em questão.

“Mas aí que é importante você tentar entender que se você está tentando entrar em um estúdio específico, você tem que saber como agradar aquele estúdio,” lembra Matsuda, “Nas suas horas vagas você pode fazer sua arte no seu estilo, mas é importante se você quiser ingressar nessa carreira, ter essa flexibilidade: entender que não é só arte, também é negócio.”

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Tenha cara de pau!

Além de ser maleável, para Gabriel Franklin o mais importante é ter cara de pau! Não espere que as oportunidades surjam e caiam no seu colo. Por ser um mercado muito visado, as vagas são preenchidas muito rapidamente quando aparecem, então para aumentar suas chances não tenha medo de se comunicar. Foi assim que ele começou na indústria, inclusive.

“Quando eu entrei na Birdo, por exemplo, eu lembro que estava no meu último ano de faculdade. E eu mandei e-mail para todo mundo. Eu entrei no Google e digitei literalmente ‘estúdios de animação do Brasil’,”conta o diretor, “E meu portfólio na época, tinha logo, tinha umas coisas nada a ver, mas eu mandei mesmo assim. E a Birdo foi uma das únicas que me respondeu de uns 100 e-mails, sendo que os outros dois foram um ‘não’. Aí eu fiquei insistindo bastante e eles me chamaram quando eu me formei.”

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Saiba ouvir críticas

Seja diretamente do recrutador de um estúdio ou no processo de entrevista para uma vaga, você vai ouvir críticas sobre o seu desenho. Não leve para o lado pessoal e evite se apegar demais ao seus vícios. “Às vezes é difícil aceitar crítica — você escuta e você discorda — mas eles estão ali fazendo essa crítica por uma razão,” explica Matsuda.

“É importante você escutar,” reforça o diretor. Não precisa ignorar seus instintos e aceitar qualquer sugestão sem questionar, mas é crucial ponderar como aquela crítica pode melhorar seu trabalho. Busque um equilíbrio entre ouvir os outros e ouvir a si mesmo. “Depois que você estiver no estúdio, quando você já estiver contratado e tiver um certo respeito, aí sim as pessoas vão começar a escutar a sua voz. Entendeu?”

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Faça das redes sociais aliadas

Uma das maiores dificuldades de começar na indústria visual é ser notado pelas empresas. Com tantos profissionais tentando ingressar a todo momento, é importante procurar um jeito de expor o seu trabalho de forma chamativa e um dos grandes aliados do Leo Matsuda, que conseguiu trabalhos na Disney e Paramount, é o Instagram.

“Várias pessoas da indústria usam o Instagram, apesar dele ser tão casual. Todos os tipos mesmo: diretores, executivos, produtores… Você tá fazendo uma coisa e várias pessoas estão vendo. Inclusive é um ótimo lugar para encontrar oportunidade de trabalho: montar portfólio, manter contato…,” reflete.

Franklin, que está sempre divulgando seus projetos no Twitter, sugere que você aproveite essa disponibilidade para fazer networking. “Toda essa galera que trabalha nos estúdios tá aí postando seus trabalhos. Então puxa a conversa, manda mensagem, pergunta as dúvidas que você tem,” sugere, “Aí seguindo essa galera você já sabe que tipo de trabalho eles postam, que tipo de trabalho o estúdio está procurando e quando tiver vaga aberta eles vão postar lá…”

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Paciência é uma virtude!

Mas as coisas não vão se resolver do dia para a noite. Como diria o Franklin, "Animação no geral demora. No Brasil, é mais ainda!” Conseguir um trabalho na área pode levar tempo, mas não desanime. Continue polindo suas habilidades para chegar no emprego dos sonhos no seu melhor momento. ”Eu achava que eu ia me formar na faculdade e em um ano eu ia estar com o meu Oscar no braço,” brinca.

Mas não foi assim que aconteceu. Somente agora que o Gabriel está tirando do papel seus projetos autorais, mas foram anos consolidando sua carreira e aprendendo os processos. ”Eu comecei como animador, depois fui supervisor… E todo esse tempo (que levei) para chegar onde eu queria chegar me ajudaram a ter uma visão ampla,” reflete.

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Seja legal!

Pode parecer brega, mas ser legal te ajuda não só na parte de conseguir o emprego, mas também a se manter nele. Quem deu a dica foi o Gabriel Franklin e o motivo faz bastante sentido: “Você trabalhando em estúdio, 120% da animação se torna trabalho em equipe.” Então, para se dar bem em um estúdio, nas palavras dele, “você tem que ser uma pessoa boa com quem você tá trabalhando, saber ouvir crítica e aprender com a galera que tá ali trabalhando no mesmo projeto que você.”

Você pode ser um artista incrível, mas se trabalhar em equipe for um problema, talvez seja melhor tentar outro caminho na sua carreira. Como um artista independente, talvez. Mas ser agradável te ajuda até a conseguir os próximos empregos. “Se você for legal com todo mundo, tratar todo mundo bem, a galera vai lembrar de você e vai te chamar de novo, sabe?,” comenta o diretor.

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Encontre a sua voz

Especialmente em trabalhos que exijam mais da sua criatividade, como artista de storyboard ou concept artist, saber o que você quer passar com o seu trabalho ajuda muito a se destacar. Matsuda conta que isso foi algo que ele precisou reaprender em sua carreira. “Às vezes a gente até esquece, às vezes a gente tem até vergonha, mas esse é o nosso maior tesouro,” declara.

“O desafio de cada um é encontrar essa ideia e lapidá-la em um diamante,” acrescenta. Como cada pessoa cresce com experiências diferentes, cada história tem um toque único que pode diferenciar um profissional no meio de muitos. “Todo mundo tem uma história para contar. O importante é voltar atrás e ver quais são as histórias que valem a pena ser contadas.”

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JAMAIS DUVIDE DO SEU POTENCIAL!

Acima de tudo, o mais importante é nunca duvidar do seu potencial. Todos nós começamos a vida cheio de esperanças e sonhos que acabam sendo podados por pessoas desmotivadas e com medo de arriscar. Para Matsuda, essa confiança foi o ponto de virada em sua carreira: “Você vai escutar várias opiniões e até pessoas que você admira dizendo coisas [negativas] do seu trabalho que acabam desmotivando, fazendo você acreditar [no pior], por ser uma pessoa que você admira… Nunca deixe isso te abalar.”

“Se é uma coisa que você tem essa paixão para fazer, isso é o mais importante,” complementa, "Se isso for o que você realmente quer fazer, não deixe ninguém te parar. Porque várias vozes excepcionais que surgiram vieram disso: de pessoas pisoteadas, pessoas que não foram escutadas, projetos que foram ignorados, que disseram que não eram bons… E essas ideias acabaram várias vezes virando inspiração de todos nós.”