Uma coisa que temos que ter em mente, é que essa abordagem do Coringa foi completamente diferente de qualquer outra abordagem já feita nos cinemas, desenhos, jogos, mas ainda assim tem muito da alma de algumas versões do vilão dos quadrinhos.

Essa é uma abordagem que eu, pessoalmente, sempre tive curiosidade em saber como seria trabalhada. Estou falando de um Coringa mais violento, mais criminoso, completamente desapegado da vida humana e tudo que ela representa.

Isso quer dizer que os outros Coringas não eram violentos e deixavam essa característica do personagem de lado? Não. Mas em nenhum deles esse ponto era tão focado quanto foi com Jared Leto.

Você pode até achar que esse Coringa não tem absolutamente nada parecido com nenhum Coringa já feito nos quadrinhos. Mas aí que você se engana pois ,mesmo em um visual controverso, nós temos um “mosaico” de referências de diversos Coringas como o de Endgame, de Batman R.I.P, entre diversos outros.

Mas não as referências param apenas no visual. O Coringa de Jared Leto as tem bastante fortes em seu comportamento também. Se focar apenas na personalidade, conseguirá facilmente identificar o Coringa de Brian Azzarelo misturado com o Coringa de Frank Miller. Inclusive, falando em Azzarello, toda a sequência da boate lembra muito a fotografia e uma cena específica da sua graphic novel “Coringa”.

E não poderia falar das referências deste Coringa sem mencionar a maior delas, a referência ao Coringa de Alex Ross, que acontece diversas vezes durante o filme, principalmente na cena da valsa.

Ok, você podia até estar esperando uma risada muito mais histérica e aguda, como nós já estamos acostumados, principalmente vindo do Coringa de Mark Hamill - e não me entendam errado, a “risada Hamill” é realmente incrível e expressa perfeitamente o que aquele Coringa representa.

Mas para o que o Coringa de Jared Leto veio representando, ela não caberia. Ele precisa de uma risada que não fosse engraçada e foi o que ele entregou, uma gargalhada do Coringa sombria, perturbadora e que dá calafrios quando é ouvida.

Isso é algo que venho demonstrando ao longo dos itens anteriores: o Coringa de Jared Leto é algo bem diferente do que nós estamos acostumados. Mesmo que ele esteja em um filme recomendado para maiores de 12 anos, as pessoas um tanto quanto mais velhas conseguem ver os teores mais adultos no personagem, como por exemplo, ele incentivando a prostituição de Arlequina.

Definitivamente, fica nítido que Jared Leto entregou um Coringa para maiores de 18 anos, “preso” em um filme para maiores de 12. Caso, um dia, este Coringa venha a ser um vilão mais importante em outro filme da DC, espero realmente que tenha pelo menos uma versão Rated-R.

Acho que a coisa mais importante - e mais incrível - que notei sobre esse Coringa, foi que ele é bem diferente do personagem da série de jogos Arkham (que, provavelmente, é o vilão que a maioria das pessoas estava esperando ver): louco, histérico, maníaco, mas que ao mesmo tempo é engraçado e divertido.

Jared Leto entregou uma atuação que não vai te fazer rir ou simpatizar com ele. É um vilão, um monstro, um psicopata, um personagem que vai te deixar incomodado e aflito com o tamanho de sua perturbação mental.

É disso que o Coringa se trata em muitas histórias dos quadrinhos.

Eu sei, existe o argumento (que eu até acho que faz bastante sentido) dizendo que o filme e o romance de Coringa e Arlequina se passa pela visão da Arlequina, o que mostraria um Coringa muito mais romântico pela ótica da personagem.

Porém, ainda assim, foi o que nos foi apresentado no filme. Um Coringa apaixonado e obcecado pela Arlequina, a ponto de colocar a própria vida em risco para salvar sua “amada”. Isso não foi legal. Não que o Coringa nunca fosse se apaixonar pela Arlequina, isso é algo até aceitável e já aconteceu em alguns quadrinhos. O problema está em apresentar um palhaço que tem um total desapego pela própria vida ou qualquer outra vida humana e colocá-lo para se arriscar salvando outra pessoa, por amor.

Quero começar deixando logo uma coisa bem clara: o visual do Coringa no filme me incomodou? Não. Mas então por quê ele está na parte dos pontos negativos? Porque poderia ter sido muito melhor.

Não são as tatuagens, nem os dentes metálicos, acredite. Isso é completamente irrelevante na caracterização. Mas quando você vê todo o conjunto da obra, tudo o que você pensa é “está faltando algo mais”.

Apesar de todos os pontos positivos que já foram apontados sobre a personalidade do Coringa, no fim eles esqueceram de adicionar uma sutileza nesse sentimento de posse que o Coringa tem com as coisas. Ou seja, isso resultou em um Coringa que em certas vezes parecia um garotinho mimado que queria seu brinquedinho de volta.

Agora é aquela hora que você me chama de bipolar, porque eu estou me contradizendo. De fato foi pontuado nesta lista o detalhe de que o Coringa não te fazer rir era um ponto positivo do personagem. Mas o personagem que foi baseado originalmente no filme “O Homem que Ri” precisa dar mais que alguns poucos sorrisos no filme.

Em muitos momentos Jared estava completamente sério e carrancudo sendo que seriam momento em que normalmente o Coringa estaria pelo menos com um sorriso no rosto.

Isso aqui não foi culpa de Jared Leto, muito menos do seu Coringa. Mas não poderia deixar de citar já que, a maior mancada com relação a esse personagem, foi o Marketing do filme pegar pesado em cima do personagem de Jared Leto, sendo que ele tinha uma participação quase mínima. Fora que os trailers mostraram cenas do Coringa que nem foram para a versão final. Ou seja, os estúdios criaram uma expectativa enorme, venderam um filme que tinha o Coringa com grande participação na história e no fim das contas não foi nada disso.

Por que isso é uma menção honrosa? Simples: por que a maior motivação do Coringa é fraca, mas ao mesmo tempo estamos falando de um personagem que nunca precisou de motivação alguma para fazer as coisas.

Coringa já teve as motivações mais imbecis de todas nos quadrinhos para fazer as maiores atrocidades. Dentre todas, até o tédio e a diversão já foram mais do que razões o suficiente para o palhaço agir. Então mesmo que tenha sido uma motivação medíocre, ela ainda está dentro do personagem e não dá pra inserir nem em pró nem em contra.