12 momentos LGBTQIA+ que fizeram história nos quadrinhos
12 momentos LGBTQIA+ que fizeram história nos quadrinhos
Motivos para nos orgulhar!
Junho é conhecido como o mês do Orgulho LGBTQIA+, um mês para celebrar as batalhas e a sobrevivência da comunidade, além de celebrar as diferenças e provar que, apesar delas, somos todos iguais. Nos quadrinhos, a comunidade tem feito grandes avanços, com vários personagens e equipes se mostrando como estandartes da representação.
Parte disso se deve muito a vários momentos-chave que definiram a inclusão de personagens diversos, seja através de suas orientações sexuais ou identidades de gênero. São heróis que nos fizeram perceber que gays, lésbicas, bissexuais, pessoas trans e queer possuem espaço. E é por isso que listamos aqui 12 momentos das HQs de super-heróis que deram orgulho à comunidade LGBT!
Em colaboração com: Gabriel Mattos
Estrela Polar: O pioneiro
Embora vários subtextos LGBT tenham aparecido nas HQs há um bom tempo, o primeiro grande herói a ganhar destaque - e se assumir publicamente - foi o Estrela Polar, um membro bem famoso da Tropa Alfa. Desde que a revista da equipe foi anunciada, o escritor John Byrne já queria introduzir o personagem como gay. No entanto, a política do editor-chefe vigente da editora, além do selo do Comics Code Authority, o impediam.
Então, em 1992, as barreiras foram quebradas quando o personagem finalmente se assumiu, tornando-se o primeiro grande herói gay de uma editora em quadrinhos. No entanto, pouco era feito com o personagem a respeito disso - sendo que só anos depois ele viria a ter relacionamentos, até se firmar com Kyle Jinadu - uma relação que gerou outro momento LGBT importantíssimo nas HQs.
Mística e Sina: Um relacionamento acima das adversidades
Muito antes do Estrela Polar, outro casal deveria ter sido o pioneiro da diversidade LGBT na Marvel: Mística e Sina, duas vilãs que fazem parte de uma das versões da Irmandade dos Mutantes. Desde que as duas foram apresentadas, o escritor dos X-Men na época, Chris Claremont, queria desenvolver um relacionamento entre as duas - mas novamente foi impedido devido às ordens de cima.
Originalmente, as duas seriam mães do Noturno, já que a Mística se transformaria em um homem e engravidaria Sina. A história foi repudiada pelo alto-escalão da Marvel, que não estava pronto para admitir a existência de um casal lésbico, o que fez com que o mutante teletransportador se tornasse filho de Mística e Azazel. Posteriormente, o romance foi confirmado e assumiu um papel central em uma fase recente das histórias dos mutantes, tornando a Mística uma das primeiras personagens bissexuais das HQs.
Apolo e Meia-Noite: Desafiando os estereótipos
No lado da DC Comics, as coisas foram um pouco mais lentas. Oficialmente, a empresa introduziu o primeiro super-herói gay dos quadrinhos em 1988, o peruano Extraño, porém de uma maneira super estereotipada, marcada por muitos preconceitos enraizados na época.
Assim, o que chamou atenção foi um selo menor: a Wildstorm, que posteriormente foi integrada ao universo padrão da editora. Ali, fomos apresentados a The Authority, um grupo de super-heróis mais "pé-no-chão" e violentos, que contava com o aval do governo norte-americano. E nessa equipe, conhecemos o Apolo e o Meia-Noite.
O primeiro grande casal gay das histórias em quadrinhos, os dois firmaram uma união estável, e são interessantes por quebrar uma série de estereótipos normalmente associados à comunidade LGBT. Poderosos e violentos, eles inclusive foram alguns dos primeiros personagens LGBT a terem revistas solo, o que foi um grande avanço para a época, já que podíamos acompanhar mais de sua vida "nos bastidores", enquanto não estavam salvando o dia.
Karolina Dean e Xavin: Quebrando a barreira de gênero
Fugitivos foi uma revista importante para a Marvel na década passada, reaproximando um público mais juvenil e adicionando novos personagens para o universo da editora, formando um grupo bem diversificado e com uma premissa interessante: heróis que são filhos de vilões e precisam se livrar da influência maligna de seus pais. Nisso tudo, surgiu Karolina Dean, uma personagem lésbica com poderes belíssimos.
Karolina se apaixonou por sua colega de equipe, Nico Minoru, que até então a recusava por se achar heterossexual. Foi só depois que inseriram Xavin na história, um príncipe Skrull ao qual fora prometida a mão de Karolina. Ao chegar à Terra, ele se encantou com ela, e sabendo que ela não gostava de homens, adotou uma forma feminina. Muitos afirmam que, por conta disso, Xavin representa padrões de gênero não-binários. A personagem, inclusive, aparece na edição Vozes da Marvel como alguém que desafia noções culturais de gênero.
Rictor e Shatterstar: O primeiro beijo gay das HQs de super-heróis
Embora personagens LGBT já existissem em um número sólido, ainda era difícil ver o relacionamento desses casais como algo natural. Embora alguns tivessem namoros ou casamentos explícitos, nunca os víamos com seus parceiros de uma forma afetiva, enquanto os personagens héteros sempre tiveram espaço para o amor em suas vidas. Isso mudou graças a Peter David, que em uma edição de seu X-Factor, apresentou o beijo de Rictor e Shatterstar.
Os dois haviam sido integrantes da X-Force, quando se conheceram e passaram a ter uma relação muito próxima, fazendo com que alguns fãs levantassem a suspeita de um relacionamento. No entanto, só em 2009 os dois tiveram a oportunidade de darem seu primeiro beijo, confirmando a relação. A partir daí, os dois tiveram várias histórias juntos - e vale mencionar que Shatterstar é um personagem pansexual.
Wiccano e Hulkling: O beijo que parou o Brasil
Mesmo que personagens como Rictor e Shatterstar ou Apolo e Meia-Noite já existissem, suas histórias serviam mais como pano de fundo, já que eles não era os "protagonistas" propriamente ditos de suas respectivas equipes. Isso mudou com o surgimento de Wiccano e Hulkling, até hoje considerado o melhor casal LGBT dos quadrinhos, e protagonistas dos Jovens Vingadores.
Ao longo do primeiro volume da HQ da equipe, vimos o relacionamento dos dois desabrochando aos poucos, de uma forma natural e orgânica. Contudo, em Cruzada das Crianças, eles não apenas tiveram seu primeiro beijo como também se tornaram noivos.
A revista foi ressurgir nas notícias anos depois, quando o então prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, tentou censurar a sua venda na Bienal do Livro de 2019 . Entretanto, a tentativa de esconder o beijo entre dois rapazes falhou e logo a imagem do beijo entre os heróis estampava a capa dos principais jornais de todo o país.
No ano seguinte, em 2020, o casamento de Wiccano e Hulking finalmente acontece durante a saga Impéryo. Juntos, o filho do Capitão Marvel e o filho da Feiticeira Escarlate são um dos casais mais fofos do Universo Marvel como um todo — e também o mais poderoso. De um lado, o imperador do exército skrull e kree. Do outro, um feiticeiro com o poder de acabar com o próprio universo.
Jovens Vingadores: A primeira super equipe majoritariamente queer
E por falar em Jovens Vingadores, vale o destaque para o segundo volume da revista da equipe, publicado entre 2013 e 2014. A equipe ganhou novos integrantes, como Noh-Var, Miss America e Kid Loki, além dos ex-X-Men Prodígio. E trata-se da equipe mais diversificada da editora no que diz respeito a personagens LGBT, já que boa parte dos membros faz parte da comunidade, com histórias que se integram à trama de uma forma excelente. De acordo com a edição Vozes da Marvel, esta é a primeira super equipe majoritariamente queer das grandes editoras.
O grande foco da revista está no relacionamento de Wiccano e Hulkling, que é tratado de uma maneira mais "real". Eles têm problemas e crises, mas seu amor é o suficiente para que fiquem unidos. Além disso, outros heróis tiveram sua sexualidade tratada de uma maneira bem interessante, e é importante ressaltar o quanto a equipe não se prendeu apenas a personagens gays, já que também conta com bissexuais e pansexuais.
Wanda e Coagula: Vanguarda de histórias trans
Introduzida em 1993, Coagula, ou Kate Godwin, foi a primeira super-heroína assumidamente transgênero dos quadrinhos. Criada por uma mulher trans, Rachel Pollack, a personagem da DC Comics fez parte das histórias da Patrulha do Destino após ser rejeitada pela Liga da Justiça por ser LGBTQ+. Seus poderes envolvem dissolver materiais com uma mão e solidificar com a outra, o que lhe transformou em uma peça central das missões em que participou.
Mas antes da heroína surgir, uma civil causou bastante tumulto em Sandman, de Neil Gaiman, ainda em 1991. A morte de Wanda Mann resultou em uma das imagens mais emblemáticas da história LGBTQ+ nos quadrinhos. Amiga de Barbie, a mulher aceita a missão de proteger seu corpo durante uma projeção astral e acaba morrendo no processo. Em seu funeral, sua família transfóbica insiste em utilizar seu nome morto na lápide, que Barbie risca com um batom, escrevendo em cima o nome que Wanda escolheu para si. A história será adaptada na segunda temporada da série.
Batwoman: Das sombras para a luz
A Bat-Família sempre foi alvo de polêmicas, uma vez que um suposto "relacionamento homossexual" entre Batman e Robin foi o estopim para a criação do Comic Code Authority, um órgão que regulamentava os quadrinhos a partir da "moral" e dos "bons costumes". Isso incentivou a DC Comics a criar Kathy Kane, a Batwoman, uma personagem que veio com o simples intuito de ser um par romântico de Bruce Wayne.
Décadas depois, com o reboot dos Novos 52, a personagem passou por uma mudança completa. Agora chamada Kate Kane, a Batwoman era uma heroína própria, que apesar dos laços com o Homem-Morcego, não servia apenas como "relacionamento fachada". Em sua revista, ela teve vários relacionamentos e quase se casou com Maggie Sawyer - no entanto, a editora infelizmente desmanchou o noivado por medo da pressão pública.
Arlequina e Hera Venenosa: A construção de um relacionamento bonito
Um relacionamento que cresceu bastante aos olhos do público nos últimos anos foi a relação entre Arlequina e Hera Venenosa, as duas vilãs/anti-heroínas do núcleo do Batman. Originalmente, a Arlequina teve um relacionamento com o Coringa, que apesar de romantizado em várias HQs, sempre foi uma união abusiva e extremamente danosa para a personagem. Felizmente, nos últimos anos, ela tem se "livrado" disso aos poucos.
No entanto, sempre foi grande o número de fãs que desejava vê-la tendo um namoro com a Hera Venenosa, já que sempre ficou implícito nas HQs algo um pouco maior do que um simples amizade. Aos poucos, a editora está comprovando isso. As duas possuem um relacionamento não-monogâmico e a Hera é sempre creditada como a mulher que "salvou" a Arlequina do Coringa. No universo de Injustice, elas inclusive são casadas.
Superman: O herói mais poderoso é bissexual
Em outubro de 2021, sairia a notícia que parou o mundo e que seria comentada até mesmo por quem não é fã de quadrinhos: o Superman, herói mais conhecido de todos os tempos, é bissexual. Nas histórias de Tom Taylor, Jon Kent, filho de Clark Kent e Lois Lane, assumiu o manto do herói e passou a salvar o mundo ao lado de seu namorado, Jay Nakamura.
No auge de uma forte onda de extrema-direita ao redor do mundo, a notícia foi atacada pelos conservadores. Eduardo Bolsonaro foi às redes proferir que o herói "destrói a masculinidade e instiga ódio". Mal sabia ele que este seria apenas o primeiro dos grandes heróis da editora a se descobrir LGBTQ+, seguido por Aquaman e Robin.
Estrela Polar e Kyle Jinadu: O casamento que mudou tudo
Nada mais justo terminar esta lista com o personagem que deu início a ela. Em 2012, a Marvel decidiu celebrar a lei que permitia que casais do mesmo sexo pudessem se casar em alguns estados dos EUA. E na hora, foi anunciado o casamento entre Estrela Polar e seu namorado de longa-data, Kyle Jinadu - um dos eventos mais marcantes da história dos X-Men em todos os tempos.
O casamento aconteceu nas páginas de Astonishing X-Men #51, logo se tornando uma das revistas mais vendidas do ano e da história da equipe. O casamento entre os dois continua firme e forte, mesmo que os dois não apareçam mais com tanta frequência nas HQs. Ainda assim, foi um evento sem precedentes, que quebrou barreiras ao mostrar para as pessoas LGBT que, assim como seus heróis, elas possuem os mesmos direitos que casais héteros.