10 Razões pelas quais a Guerra Civil dos quadrinhos é inadaptável!
10 Razões pelas quais a Guerra Civil dos quadrinhos é inadaptável!
Há cerca de uma semana, foi divulgado o primeiro trailer oficial do próximo filme da Marvel, Capitão América: Guerra Civil. Apesar de muitos fãs terem saciado sua sede por algo do filme, outros ficaram incomodados com a falta de elementos da Guerra Civil dos quadrinhos. Pensando nisso, resolvemos explicar como a série é, em termos de fidelidade, inadaptável para os moldes do cinema!
Muitos personagens
A Guerra Civil dos quadrinhos não se chama Guerra à toa. A quantidade de personagens envolvidos no conflito extrapola os limites de diversas sagas da Marvel. Basicamente, a Lei do Registro é aprovada e afeta quase todos os heróis em solo americano, de modo que, apesar das abstenções, há uma divisão clara de lados, o suficiente para que sejam criadas facções rivais com poder suficiente para gerar um conflito que ultrapasse a escala de sua origem.
Nos cinemas, isso se torna impossível por dois motivos. O primeiro é a temporalidade. Como falaremos mais à frente, ainda não seria o momento certo para adaptar a série, devido a uma leva gigantesca de eventos e personagens que precisam ser apresentados para que a saga seja inteiramente fiel. Além disso, há a questão da linha narrativa. Mesmo que o filme fosse dividido em várias partes, o foco precisa ser claro entre os personagens. Não dá para fazer simplesmente um filme com cem personagens e dar o mesmo destaque a cada um deles sem sacrificar bastante da narrativa.
Direitos autorais
Como se não bastasse a quantidade de personagens em Guerra Civil já ultrapassar o absurdo, vale lembrar que peças centrais à trama não podem ser transpostos ao Universo Cinematográfico da Marvel por conta dos direitos cinematográficos não pertencerem à Marvel Studios. E é curioso, porque alguns dos personagens em posse da Fox são extremamente necessários para dar profundidade à saga.
Tome, como exemplo os X-Men. Eles representam grande parte das abstenções na Guerra, algo que mal deve existir no filme. Além deles, o Quarteto Fantástico possui um dos maiores arcos na saga, representando de fato uma cisão ideológica diferente dos Vingadores, por exemplo, por ser uma cisão ideológica não apenas em um grupo de heróis, e sim em uma família.
Um filme?
A Guerra Civil tem material o suficiente para ser adaptada em dez filmes. Pouco mais de duas horas não consegue sequer resumir a trama e fornecer-lhe escopo o suficiente para representar a escala da série nos quadrinhos. Além disso, por se tratar de um filme que tem um enfoque bem específico - afinal, é Capitão América: Guerra Civil, e não Vingadores: Guerra Civil -, sabemos que a história terá que ter um foco principal em um personagem especifico, o que por si só já ignora todas as chances de uma adaptação fiel.
A única solução plausível para esse problema seria adaptar Guerra Civil não em um filme, mas sim em uma fase. Dessa forma, a fase seria aberta com um filme dos Vingadores, que iria até certo ponto da trama. Então, teríamos vários filmes solo que funcionariam como os tie-ins da saga principal, e, por fim, outro filme dos Vingadores, concluindo a trama e encerrando a história. O problema? Os filmes perderiam a chance de se sustentarem por si só, e passariam a valer apenas dentro do conjunto da fase.
Momento
Analisando uma questão temporal, ainda não é hora de um filme da Guerra Civil. Tal fato se dá por inúmeras razões, que podemos perder horas citando. Mas eis algumas das principais: personagens apresentados, momento atual do MCU e surgimento relativamente recente dos super-heróis nesse Universo.
O primeiro fator diz respeito ao já mencionado número de personagens presentes no filme, que ainda não é grande o suficiente para compor as equipes presentes nos quadrinhos. Em seguida, lembramos do momento presente no MCU. O Homem-Aranha será apresentado ainda na Guerra Civil, não tendo história suficiente para justificar a ideia do personagem retirando a máscara em rede nacional e revelando sua identidade secreta, apenas para citar um exemplo. Além disso, o surgimento recente de super-heróis não permite a mesma construção - falaremos disso logo - da série nos quadrinhos, uma vez que é um fator que determina uma série de mudanças de base na Lei do Registro - ou, no filme, os Acordos de Sokóvia.
Construção
Ainda que todo o impacto da série tenha sido profundo na época de seu anúncio, a Guerra Civil foi um evento que podíamos ver chegando a milhares de quilômetros de distância, principalmente pela construção de eventos que levaram até aquele momento. A rivalidade entre Homem de Ferro e Capitão América, por exemplo, era um conceito ideológico já explorado décadas antes, em séries como Operação Tempestade Galática.
Outro fator é o dissolvimento dos Vingadores, que é algo que vem sendo realizado desde a fase de Busiek nos anos 90, e se solidifica a partir da Queda, algo que nem sequer foi imaginado nos cinemas ainda.
Impacto
Em uma leva de filmes com classificação indicativa que não passa do regular PG-13, adaptar o evento como ele o foi em sua mídia original é uma meta simplesmente inatingível. A Guerra Civil começa a partir do momento em que um grupo de heróis irresponsáveis enfrenta uma equipe de vilões em uma cidade movimentada nos EUA. Quando o vilão Nitro é encurralado, ele usa seus poderes e "explode" ao lado de uma escola, assassinando ao todo, cerca de 200 pessoas, incluindo várias crianças.
A Marvel até então vem sido considerada puritana nos cinemas, por não mostrar com frequência alguma a morte de inocentes e civis. Que dirá então a morte de dezenas de crianças. O impacto da série vem de uma narrativa política intrincada, algo que também não é muito rentável para o estúdio, que se popularizou fazendo filmes pipoca com bastante efeitos visuais e histórias moderadas.
Subtramas
Tramas complementares é algo que simplesmente não pode faltar em uma série que conseguiu ter mais de cem tie-ins nos quadrinhos. Isso é algo ótimo quando se fala da mídia impressa, por trazer escopo e amplitude ao evento, e não tratar certas questões com superficialidade. Ao mesmo tempo, é algo intransponível para as telas de cinema.
Como já dito, a maneira mais acertada de adaptar todas as subtramas contidas na Guerra Civil seria tornando o evento tema de uma fase, e não apenas de um filme. Porém, ainda assim, muita coisa seria esquecida e não tratada.
Orçamento
Entrando em detalhes mais técnicos, apenas paremos para pensar no custo de uma adaptação da Guerra Civil nos moldes do cinema. Imagine o cachê de todos os atores presentes. Lembre que alguns deles demandam um preço maior que o "normal". Pense então nas cenas de batalha, que devem abrigar um nível de magnitude épica nunca antes visto.
Então pense nas centenas de uniformes, nos figurantes, na direção de arte. Na tonelada de efeitos visuais construídos. Nos acordos com estúdios detentores de direitos autorais de outros personagens. Consegue pensar em todo esse dinheiro? Ótimo. Junte a isso os custos normais de produção de um filme e mais o marketing. Mesmo que qualquer blockbuster não seja feito para se pagar na sala de cinema, a mera ideia de algo assim extrapola o insano.
Interligação com as séries
Para adaptar segmentos específicos da série, a Marvel precisaria reunir alguns personagens nascidos nas séries, especialmente as realizadas em parceria com a Netflix, o que por si só já é uma dor de cabeça burocrática.
Além da obrigação de apresentar os personagens em questão para o público cinematográfico - que, lembrando, pode não acompanhar o universo televisivo, e não pode perder a experiência cinematográfica por conta disso - algo que já tomaria precioso tempo de tela, também temos a parte dos contratos que precisaria ser revitalizada para se enquadrar no padrão do cinema, que funciona de modo diferente da TV.
Problemas de raiz
Como se não bastasse tudo isso, temos que lembrar que, por ser uma realidade alternativa à Terra-616 dos quadrinhos, onde a Guerra Civil aconteceu, o Universo Cinematográfico da Marvel não tem a obrigação - e portanto, nem o faz - de adaptar fielmente os quadrinhos da editora. Desse modo, algumas liberdades foram criadas que podem comprometer o andamento de um filme 100% idêntico aos quadrinhos.
Citemos, por exemplo, a criação de Ultron nas mãos de Stark. Isso não só altera o posicionamento do personagem na história - acrescentando culpa ao seu registo -, mas também retira, por exemplo, o papel de Hank Pym. Hank esse que nunca se tornou Jaqueta Amarela nos cinemas. Os Illuminati nunca se formariam, e o Homem de Ferro, sem ajuda do Senhor Fantástico, não criaria um clone do Thor, que deveria matar o Golias. E esse é só um exemplo dos "problemas estruturais" da Guerra Civil.
Em suma, para uma adaptação fiel de Guerra Civil, precisaríamos de um orçamento bilionário. Uma fase inteira composta por vários filmes com, no mínimo, três horas de duração e classificação indicativa menos ampla, direitos pertencentes à Marvel Studios ou então "emprestados" pela Fox, pelo menos vinte anos de planejamento e apresentação de novos personagens. E mudanças imediatas nas histórias já contadas, incluindo retcons.
Ou podemos simplesmente abraçar a ideia como ela o é nos cinemas, e parar de tentar comparar com os quadrinhos como se fosse algo menor e menos digno de nota. Em termos de adaptação, pode sim ser algo 'ruim' desde já. Mas como filme, só saberemos ao assistir.