Começamos essa lista com um personagem deveras polêmico. Se você acompanha os quadrinhos do Thor, sabe que Loki passou por intensas mudanças na última década. Ele perdeu sua forma original, virou uma mulher, morreu, se transformou em criança e agora é um jovem adulto, na pele do Agente de Asgard.

Porém, a história de Loki o prende em ciclos, e ele aprendeu a aceitar isso. Ele sempre está destinado a causar o Ragnarok e enfrentar Thor. Agora, ele abraçou seu papel como deus das histórias, e sua natureza cíclica entre os asgardianos. É uma falta de desenvolvimento que, curiosamente, desenvolve bastante o personagem, e o torna um vilão extremamente empolgante.

Por outro lado, começamos a falar de personagens que não tiveram a mesma sorte. E o Visão é um deles. O androide foi introduzido originalmente como uma cria de Ultron contra os Vingadores. Porém, logo em sua primeira aparição, ele se rebelou contra seu "pai" e se juntou à equipe, enquanto passou a abraçar cada vez mais sua humanidade.

Só que a evolução do Visão para por aí. Mesmo tendo se casado com a Feiticeira Escarlate, tendo filhos e se separado depois, o herói parece estar sempre na mesma jornada em busca de algo que o torne mais que uma máquina. Sempre que ele está evoluindo, os roteiristas encontram uma forma de deixá-lo frio e sem emoções, resetando-o para sua programação original.

O Homem-Formiga é um dos personagens mais complexos da Casa das Ideias, com uma evolução gigantesca, que o transformou gradativamente ao longo das décadas... e nesse caso, estamos falando de Hank Pym, o primeiro a usar esse título. No caso de Scott Lang, o (anti-)herói é o mesmo desde que foi concebido.

Scott nunca perdeu sua origem cafajeste e seus planos soturnos. Em vez disso, ele incorporou isso à sua carreira, e suas histórias são quase sempre relacionadas a roubos e furtos heroicos. Mesmo tendo morrido, ressuscitado, perdido sua filha Cassie e tendo ela viva de volta, o herói sempre passa pelo mesmo dilema familiar e pelos mesmos problemas prisionais. É difícil contar quantas vezes ele já foi parar na prisão em sua história.

Assim como Loki, o Titã Thanos é outro vilão que sempre está preso em sua essência original, e de alguma forma, isso contribui para que ele seja um personagem tão complexo e rico. Em suas histórias, ele sempre está em busca de poder e disposto a conquistar a Morte - ou suas análogas.

O vilão, criado por Jim Starlin, tem uma psiquê profunda que sempre se repete em todas as histórias. Ele alcança poderes divinos e os perde devido à uma auto-sabotagem interior, que sabe que ele seria perigoso demais para o universo. E embora alguns escritores saibam manejar isso bem - como Starlin e Jonathan Hickman -, outros acabam fazendo dele um personagem caricato - vide Bendis no prelúdio da Guerra Civil II.

Combo dinâmico! O Quarteto Fantástico é um dos grupos mais populares dos quadrinhos. Mesmo que a Marvel tenha os sabotado e jogado num limbo, eles sempre farão parte da história da editora, sendo a primeira equipe formada pela Casa das Ideias. E embora Sue Storm e Reed Richards sejam exemplos de desenvolvimento de personagens, o mesmo não pode ser dito sobre seus dois aliados.

Johnny Storm sempre é o adolescente cabeça-quente do grupo, de forma que mesmo em outras equipes - como nos Inumanos ou nos Fabulosos Vingadores - ele nunca tem uma evolução significativa. O mesmo pode ser dito sobre Ben Grimm, que sempre terá um grande dilema envolvendo sua forma heroica, e como isso acabou "destruindo" sua vida.

O Justiceiro é um dos anti-heróis mais aclamados do Universo Marvel. Ele possui toda uma vertente violenta que, muitas vezes, serve como catarse para seu público contido. Mas, se você parar para analisar bem a história de Frank Castle, verá que ele nunca mudou, desde que foi criado.

O personagem sempre teve a mesma missão e as mesmas história. Vez ou outra, para mudá-lo, a Marvel decide incorporá-lo a elementos bizarros, como quando era um agente do paraíso, quando virou Frankencastle e mais recentemente, quando se tornou Máquina de Combate. Ainda assim, por dentro, ele permanece o mesmo de sempre, e suas histórias mais famosas não vão muito longe disso.

A trama de transformar um brilhante cientista em um monstro terrível já existe na ficção há anos. Basta lembrar a clássica obra O Médico e o Monstro. Anos depois, a Marvel faria um personagem baseado puramente nesse conceito. Nascia ali o Incrível Hulk, com Bruce Banner sofrendo para evitar o monstro que ele mesmo havia criado.

Em anos de histórias, o personagem conheceu diversos aliados, inimigos e passou por situações extremas, como ser mandado para o espaço por seus amigos. Entretanto, seus conflitos internos sempre foram os mesmos: ele sempre tentou controlar ou curar o Hulk e sempre falhou miseravelmente. Recentemente, isso levou a um grande evento em sua vida, quando ele pediu que o Gavião Arqueiro o matasse caso se transformasse de novo - o que acabou, de fato, acontecendo.

O Deadpool foi criado originalmente como uma grande paródia de outros personagens de quadrinhos - mais precisamente o Exterminador da DC Comics e o Homem-Aranha. Com o tempo, ele ganhou uma personalidade ácida e irônica, e uma habilidade peculiar de quebrar a quarta parede, falando com o público.

Porém, de uns vinte anos para cá, o personagem é o mesmo. O fato de suas histórias não se levarem a sério contribui para que ele não mude, mas é bem frustrante quando levamos em conta que boa parte de seus títulos solo são bem desinteressantes e suas aparições em diversas equipes e grupos são, no mínimo, comerciais e forçadas.

Quebrando ainda mais a nossa regra, deixaremos de falar de um personagem específico para falar de uma equipe inteira. Criados nos anos 60, os X-Men surgiram como uma metáfora para minorias perseguidas. Eles logo se tornaram extremamente populares, e são protagonistas dos quadrinhos mais politizados da Marvel.

Mas infelizmente, sua história nunca vai para frente. Eles sempre são retratados como perseguidos e odiados. Eventualmente, conseguem estabelecer laços melhores com a humanidade. Quando tudo parece estar indo bem, surge sempre uma grande catástrofe que causa um grande apagamento da população mutante - e então eles voltam a ser temidos e odiados. Conte quantas vezes isso aconteceu nos últimos vinte anos e verá que eles nunca tiveram uma progressão real enquanto personagens.

E para finalizar, não podemos esquecer de um personagem querido e amado no mundo dos quadrinhos, mas que tem uma história extremamente problemática e repetitiva. Peter Parker ganhou os poderes de uma aranha e descobriu que precisava ser responsável após a morte de seu Tio Ben, se tornando o heroico Homem-Aranha. E qualquer desenvolvimento real do personagem acaba aí.

Ao longo dos anos, todos os roteiristas trataram Parker como se fosse o mesmo herói de sempre. Ele nunca passa por situações que realmente o moldam e o transformam. A morte da Tia May foi revertida, assim como seu casamento e a revelação de sua identidade secreta. Mais recentemente, ele se transformou em um empresário de sucesso, mas já voltou a ser o perdedor de sempre. Como personagem, o Homem-Aranha está estagnado desde a década de 60.