A nova revista solo da Feiticeira Escarlate tem, em si, uma trama até que simples: A Magia está quebrada - e Wanda Maximoff está em uma jornada pelo mundo para consertá-la. Contudo, não é apenas isso o que vemos na revista.

Ali, Wanda não é um objeto utilizado para avançar alguma história, ela não é a namorada ou esposa de alguém, ela não está sendo controlada por um vilão que planeja usar seus poderes. Ela é Wanda Maximoff, com todos os seus defeitos e qualidades, encontrando-se enquanto restaura o equilíbrio mágico no mundo.

Cada edição de Feiticeira Escarlate possui um artista diferente e uma história que, normalmente, é encerrada ali mesmo. Cada edição traz uma história diferente de Wanda em alguma parte do mundo, entre elas Grécia, Irlanda e Paris, dentre outras. A revista dá um tom global para a heroína, que é reconhecida aonde vai, afinal, é uma das mais antigas e importante Vingadora.

O mais interessante é saber que, ao finalizar a edição, a história estará acabada, acompanhamos Wanda em uma de suas aventuras e retornaremos para a seguinte, vendo a personagem enfrentando diferentes dilemas e problemas conforme avança em sua jornada.

O novo título da heroína não tem medo de falar com todas as letras que Wanda possui depressão e outros problemas mentais. Além disso, a heroína deixa claro que toma seus remédios e, desta forma, não bebe álcool para não atrapalhar os efeitos de seus remédios.

A história coloca vários pequenos detalhes que tornam a jornada de Wanda ainda mais realística e relacionável. Wanda faz e fala sobre coisas triviais, como quando a personagem diz ser vegetariana, que faz yoga ou simplesmente falando sobre a confusão de sua vida, antigo casamento, filhos e todo o resto.

Existe algo de errado na magia e bruxaria no atual universo Marvel e Wanda precisa consertar isto. No meio do caminho, temos uma jornada de autodescoberta, luta contra os demônios do passado e a Feiticeira Escarlate encontrando a si mesma.

Wanda nunca foi uma personagem com grandes histórias ou arcos solo, ela sempre esteve ligada a outras pessoas: a esposa do Visão; a filha de Magneto; a irmã do Mercúrio; ou, muitas vezes, aquela que acabou com a raça mutante. Desta vez, contudo, ela tem uma grande desafio: consertar a magia no universo Marvel.

A revista serve como um ótimo ponto de entrada para quem quer começar a ler quadrinhos ou saber mais sobre a Feiticeira Escarlate. A revista não tem grandes ligações com megaeventos ou outras revistas, funciona quase que em um universo isolado - Feiticeira Escarlate é uma ótima pedida para quem sempre quis ler histórias da heroína nos quadrinhos, porém não sabia onde ou como começar.

Inicialmente, acreditava-se que Wanda Maximoff e seu irmão Pietro eram filhos de um casal de ciganos que morreram em um incêndio. Mais tarde descobrimos que o pai deles, Django Maximoff estava vivo, apenas para depois ser descoberto que eles eram, na verdade, filhos de Magneto. Por fim, descobrimos que eles não eram filhos de Magneto, muito menos mutantes, mas sim que ganharam seus poderes do Alto Evolucionário, que deu os irmãos para serem criados por Django e Marya Maximoff.

Obviamente, existem muitas coisas a mais que são exploradas na revista e a ela tenta ao máximo fazer sentido da complicada origem dos irmãos Maximoff.

Todo grande herói possui um arqui-inimigo, ou mais: Capitão América contra o Caveira Vermelha e Barão Zemo, Homem de Ferro contra o Mandarin e a Madame Máscara, Capitã Marvel lutou diversas vezes contra a Rocha Lunar, a Rapina e a Mística. Ainda assim, a Feiticeira Escarlate nunca realmente teve um nêmeses.

Desta forma, no título, somos apresentados ao Mago Esmeralda (Emerald Warlock), um grande mago que está sempre cruzando seu caminho com o de Wanda, causando vários dos problemas com os quais ela lida em sua revista solo.

Agatha Harkness foi a tutora de Wanda Maximoff enquanto esta ainda estava descobrindo suas habilidades. A antiga bruxa auxiliou Wanda em vários momentos e sempre esteve presente para ajuda-la quando necessário. Nos quadrinhos, durante Vingadores: A Queda, a heroína assassinou Agatha quando dominada pelo gigantesco poder que estava mantendo.

Na revista, Agatha Harkness retorna como um fantasma, auxiliando Wanda em sua jornada e servindo como alivio cômico da trama, sempre com uma boa resposta ou insulto na ponta da língua.

Uma das melhores coisas presentes na nova revista solo da heroína é a sensibilidade de suas histórias, de seus personagens. A jornada de autodescoberta de Wanda a leva para locais onde ela jamais estaria e a arte presente, junto com o conteúdo da história, faz algo que poucas revistas de super-heróis tentam, e menos ainda conseguem, levar para o espectador: uma sensibilidade quase que artística para a história.

Seja na belíssima edição onde vemos Wanda na França ajudando um herói suicida a superar a perda do amor de sua vida - ou na Espanha, em uma edição quase que sem diálogos, ajudando espíritos de bruxas assassinadas durante a inquisição, Feiticeira Escarlate traz consigo um tom melancólico e belo, como um quadro renascentista cheio de significados e mensagens escondidos.

Tudo isso, obviamente, não seria possível sem o realizador do quadrinho: Robinson redefiniu o papel da Feiticeira Escarlate no universo Marvel como poucos escritores conseguiram fazer, nos últimos anos, com importantes personagens.

Uma das melhores edições da revista mostra a heroína simplesmente conversando com seu psicólogo, adentrando profundamente seus medos, receios e motivações nos últimos anos. Robinson decidiu apostar na heroína quando ninguém acreditava que ela poderia, ou deveria ter um título solo - o próprio deixou claro em uma entrevista que a Marvel não tinha nenhuma intenção de criar uma revista solo para a personagem.

Robinson redefiniu o papel de Wanda Maximoff no universo Marvel e a partir daqui, dificilmente ela voltará a ser apenas um meio de vilões manipularem os heróis, ou uma “coadjuvante de luxo” nos títulos dos Vingadores.