Poucos heróis possuem tanta carisma quanto o Gambit nos quadrinhos. Surgido em uma história dos X-Men em 1990, o personagem teve uma popularidade tão imediata entre os fãs, que logo passou a integrar a principal equipe mutante e se tornou uma das figuras de destaque na série animada, que foi ao ar dois anos após sua primeira aparição nas HQs.

Ele é um personagem extremamente simpático e divertido, que sempre cativa outros personagens - principalmente graças aos seus poderes de sedução - e os próprios fãs. Não é à toa que ele teve cerca de cinco títulos solo nas HQs. Já passou da hora de vermos o charme galante e cafajeste de Remy LeBeau nos cinemas.

Os poderes de Gambit figuram como os mais interessantes entre todos os X-Men. Ele é capaz de manipular energia cinética, carregando-a em armas à sua escolha - ele quase sempre prefere cartas de baralho, embora também use outros apetrechos. Além disso, vale lembrar que ele possui um charme sedutor irresistível em sua fala, o qual usa para conseguir o que quer quando quiser.

Isso, aliado ao seu hábil manuseio em armas brancas, como seu cajado bō, traria cenas de ação fantásticas, como nenhuma já vista em filmes de super-heróis. Além disso, ele não possui um "vilão reverso", o que renderia um inimigo original que poderia representar ameaça direta a ele, sem depender dos mesmos poderes.

Nascido e criado nos cassinos da Louisiana, mais especificamente em Nova Orleans, o Gambit é um personagem carregado de elementos culturais que ainda não foram bem explorados em filmes de super-heróis. Seria fantástico ver elementos da origem do personagem, como o Clã dos Assassinos e o Clã dos Ladrões.

Essas facções mafiosas viviam em uma constante guerra, na qual Remy LeBeau estava no centro. Ele pertencia ao Clã dos Ladrões e se casaria com uma mulher do Clã dos Assassinos, Bella Donna Boudreaux, o que resultou em complicações para o casal. Esse tipo de história clássica a la Romeu e Julieta seria muito interessante nos cinemas e traria profundidade para o personagem.

Assim como outros personagens feito Cable, Dominó e Deadpool, o Gambit é uma visível criação da década de 90, tendo espelhado diversos elementos importantes - e extravagantes - da época. Numa era onde a nostalgia reina em Hollywood e Deadpool 2 está vindo para reunir os três maiores nomes da década de 90 para o universo mutante, Gambit seria muito bem-vindo.

É a chance perfeita de brincar com alguns clichês da década e fazer sátiras sagazes à popularidade do personagem graças à série animada dos X-Men. E, caso o filme fosse ainda mais longe e realmente se passasse nos anos 90, ele ainda poderia ter relação com X-Men: Fênix Negra, que também será situado nesse período histórico.

Não há dúvidas que, no que diz respeito aos heróis mutantes, Gambit está no topo da lista dos personagens mais estilosos que já cruzaram a franquia. Há algo em seu sobretudo ou em seu sotaque cajun que o tornam extremamente apelativos para o público e um filme apenas ressaltaria essas qualidades.

Teríamos aqui a chance de ver um filme cheio de estilo e originalidade, principalmente em aspectos visuais e narrativos. Nas mãos de um diretor competente, o personagem seria basicamente o James Bond dos X-Men, com um sotaque francês em vez de britânico e com uma linha moral bem mais atenuada. E ladrão. Não podemos esquecer desse detalhe.

Um dos motivos pelos quais o filme do personagem pode dar tão certo é justamente a quantidade de projetos com elementos similares que estão fazendo sucesso atualmente. No campo dos quadrinhos, Deadpool e Guardiões da Galáxia já mostraram como fazer um filme de anti-heróis funcionar, pendendo tanto para o humor quanto para a emoção sem sacrificar um dos dois.

Em outros aspectos, o filme também pode receber influências poderosas. A franquia Truque de Mestre poderia dar um norte para o visual do filme e outros projetos poderiam ditar o tom, como Onze Homens e um Segredo e até mesmo a franquia de James Bond - em especial, a série de filmes protagonizada por Daniel Craig.

O mais interessante sobre o personagem, em toda sua carreira, é que ele nunca foi bem um super-herói. Não ao estilo convencional da palavra. Remy LeBeau sempre foi um ladrão, quase no lado cleptomaníaco da coisa. Além disso, apesar de não ser um mercenário, ele sempre está disposto a lucrar com algumas missões particulares.

E embora pareça ser um personagem ruim por conta disso, ele sempre teve uma bondade nata, ajudando a quem precisa sem pensar em retorno. É interessante observar um anti-herói com esses defeitos e qualidades, já que eles compõem um caráter complexo que foge do clichê do gênero. E é o tipo de Gambit que queremos ver nas telonas.

O mutante esteve intimamente ligado à mitologia dos X-Men nos quadrinhos, apresentando diversas relações importantes com a equipe, seus membros e inimigos. Ele tem uma importante amizade com a Tempestade e com a X-23 e seu relacionamento com a Vampira é um dos favoritos entre os fãs.

Além disso, vale lembrar que ele também tem um considerável histórico com o Senhor Sinistro, que apesar de ter sido referenciado em X-Men: Apocalipse, até hoje não deu as caras na franquia. Com esses elementos, ele poderia orbitar o universo dos mutantes até mais próximo que o Deadpool, trazendo importantes easter-eggs e referências.

Desde que o projeto foi anunciado, vários diretores já passaram e pularam fora, assim como roteiristas e produtores. A única pessoa que se manteve presente desde o início do desenvolvimento foi Channing Tatum. O astro de Anjos da Lei e Magic Mike é um grande fã do anti-herói e não vê a hora de finalmente interpretá-lo.

O ator possui um carisma tão forte quanto o personagem e o tipo físico ideal para Remy LeBeau. Embora tenha feito alguns projetos duvidosos no passado, essa seria a chance de Tatum ganhar um importante destaque no cenário Hollywoodiano e ter toda uma franquia só para si, de modo similar ao que Ryan Reynolds fez com o Deadpool. E por toda dedicação ao personagem, o ator merece.

X-Men Origens: Wolverine é, consensualmente, o pior filme dos X-Men já feito. E ainda assim, ele apresenta uma versão até aceitável do Gambit, interpretado por Taylor Kitsch. Como Kitsch jamais deve retornar à franquia e a Fox está fazendo tudo ao seu alcance para apagar esse filme da memória dos fãs, o filme solo do cajun seria um passo certo para o estúdio.

Dessa forma, poderíamos ter uma apresentação "correta" da história de origem do personagem, sem recorrer à "ilha de Stryker" e outros elementos vergonhosos do filme. É a chance perfeita de dar aos fãs uma versão definitiva do anti-herói e apagar a imagem de um filme nada agradável.