A cada 90 anos, doze Deuses reencarnam como seres humanos. A missão deles na terra é inspirar pessoas e, nesta encarnação atual, eles conseguem fazer isso em grandiosos shows e festivais. Eles são amados, invejados e odiados - e em dois anos todos estarão mortos, apenas para o ciclo se repetir.

Essa é a trama inicial da história de The Wicked + The Divine: Deuses entre humanos, muita cultura pop e mortes. É “uma história sobre a vida e a morte” como o próprio escritor definiu, cheia de magia, humor, tragédias e ação.

Só pela capa dessa lista já deu pra notar o quão incrível é a arte de The Wicked + The Divine. Os desenhos de Jamie McKelvie, que é o responsável pela arte da saga, é simplesmente maravilhoso. Cheio de detalhes e cuidado, cada página te faz ter vontade de rasgar o quadrinho e emoldurá-lo.

Apesar dos traços serem diferentes no terceiro volume, os outros artistas também são bem talentosos, colocando seu próprio estilo nos personagens durante aquela edição, mas sempre garantindo que algo muito bonito surja para as HQs.

Marcando essa trama, temos grandes mistérios que surgem logo no primeiro volume, quando Lúcifer e Amaterasu são atacadas por figuras misteriosas que atiram na sala onde elas estão. As consequências disso são desastrosas quando Lúcifer mata os rapazes e acaba indo a julgamento por causa disso. Mas quem mandou esses criminosos? Quem teria a intenção de tentar matar esses Deuses? E por qual motivo?

Esse mistério vai evoluindo com reviravoltas chocantes, em uma trama que fica cada vez mais complicada. Quando você se der conta já vai estar tão envolvido na história e nos mistérios que surgem, que não vai mais conseguir parar.

As reviravoltas que citei no item anterior são uma constante quando falamos de The Wicked + The Divine. Tudo muda muito rápido, o que você achava que iria acontecer é mudado de uma página para outra e tudo isso garante que a história continue sempre surpreendente e interessante.

É impossível ficar entediado com a história ou achar que a trama é previsível. Mesmo quando fica muito claro o que está acontecendo e quem estava arquitetando contra os Deuses, suas motivações e ações são diferente do que imaginávamos. Não é fácil prever o que vai acontecer e ninguém está a salvo.

A história dos quadrinhos é incrivelmente atual, falando diretamente com o público mais jovem - mas não apenas com eles. Temos, como disse antes, elementos da cultura pop e referências que não são sutis. As críticas feitas ao longo das edições também não são.

Entre os temas trabalhados na HQ, posso citar desde o culto às celebridades, impacto das redes sociais e o desespero pela fama. Tudo isso enquanto temos as tradicionais crises da adolescência, depressão, drogas e até mesmo o suicídio sendo debatido ao longo das páginas.

É até estranho dizer isso quando a proposta da HQ é justamente retratar Deuses entre os humanos, mas os personagens dessa aventura são extremamente humanos. A maneira como seus medos, tristezas, fraquezas, defeitos e desejos são mostrados é muito real, algo que, fora o contexto divino, pode ser experienciado por qualquer pessoa.

Isso faz com que seja muito fácil se identificar com um ou mais personagens dessa HQ. Em pouco tempo você vai se sentir conectado com os dramas e experiências daquele personagem, fazendo com que a leitura seja muito agradável.

Quando falamos em Deuses que reencarnam em humanos que se tornam verdadeiras celebridades, não dá para ignorar os elementos da cultura pop presentes na história sem ignorar a própria história de The Wicked + The Divine.

Cada divindade é baseada em diversos cantores - e cantoras - reais, pegando símbolos, visuais e até mesmo certos trejeitos dessas celebridades. O que garante um resultado muito interessante e único para cada personagem.

Ainda sobre a importância da cultura pop na trama, vemos um cuidado mais do que especial pela equipe que produz a HQ quando o assunto são detalhes. Mesmo que não afetem diretamente a trama, algumas pequenas referências são colocadas em cena e trabalhadas com esmero, o que garante um resultado visual ainda mais fascinante.

Inanna, por exemplo, teve seu visual baseado em Prince, o que dá pra notar logo de cara no personagem. Em um determinado momento, Inanna aparece na chuva e cada vez que um pingo passa por ele, sua cor fica arroxeada, uma clara referência à música Purple Rain, que eternizou Prince.

Como disse anteriormente, The Wicked + The Divine não tem medo de surpreender seu leitor e isso é algo que notamos especialmente depois do segundo volume. A qualidade da HQ continua a mesma, mas além das mudanças nas artes do terceiro volume - onde cada edição é desenhada por um artista diferente - a maneira como a trama é narrada sofre uma ligeira modificação, focando a edição em um personagem específico.

Em uma edição, por exemplo, a HQ se transforma em uma revista de celebridades, com os Deuses fazendo propagandas e dando entrevistas. Definitivamente não era algo que esperávamos de uma história em quadrinhos, mas isso só prova que a ousadia em se reinventar, sem alterar a qualidade do produto final é, com toda certeza, um excelente motivo para iniciar a leitura.

The Wicked + The Divine não é uma HQ heróica. Não temos super-heróis querendo salvar o dia ou combatendo seus inimigos pelo bem da moral, justiça e paz. As coisas ali são mais complicadas, cinzentas e isso é ótimo justamente porque é algo diferente do que estamos acostumados a ler em quadrinhos, normalmente.

Isso garante que seja uma leitura excelente, especialmente quando se quer fugir daquilo que costumamos ter nos quadrinhos e ver algo novo ou diferente. E bem, acho que neste último item da lista já deu pra perceber que diferente é uma das palavras que melhor definem essa HQ, não?

Dê uma chance para ela e eu garanto que você não vai se arrepender.