Ok, sabemos que Alan Moore provavelmente discorda desse tópico, mas é praticamente impossível fazer uma adaptação das obras de Moore que o agrade, sendo assim, temos de pensar de maneira independente.

Embora essa seja uma série que não se foque nos Watchmen originais ou nos Minutemen, vemos ali uma muitas referências bem-feitas à obra original, além de expandir muito bem aquele universo, de maneira respeitosa e estupenda.

Temos também uma homenagem ao Superman, que estampará um sorriso em qualquer fã da DC Comics, algo que reforça o fato de que essa é definitivamente uma série de quadrinhos.

Os dois primeiros episódios da série parecem ser extremamente confusos e cansativos, mas acredite, tudo é compensado nos episódios seguintes e eles acabam fazendo total sentido e sendo muito necessários.

Além de desenvolver os personagens inéditos criados para a série, a trama acrescenta e muito nos personagens criados por Moore e Dave Gibbons para as HQs, apresentando-os por novos ângulos e enriquecendo muito suas origens.

Embora essa não seja uma série que se apoie tanto nos efeitos especiais, ainda assim, temos alguns momentos que pedem o recurso e eles não decepcionam.

A HBO revolucionou a maneira de se produzir séries com Game of Thrones e toda a bagagem que a emissora adquiriu se reflete em efeitos polidos e grandiosos, dignos de produções cinematográficas e que enchem os olhos dos espectadores.

Regina King é uma renomada atriz, produtora e diretora, na TV e no cinema. A vencedora do Oscar e do Emmy, é a grande protagonista de Watchmen e ela literalmente carrega a série nas costas.

King interpreta Angela Abar, uma policial aposentada que acaba se envolvendo com uma antiga conspiração, que está ligada aos Minutemen e aos Watchmen. King dá um show de atuação em todos os episódios, entregando com maestria todas as complexas camadas de sua personagem.

Como era de se esperar de uma série criada por Damon Lindelof (Lost), Watchmen está regada de reviravoltas e conspirações, mas a cada novo episódio, elas fazem mais sentido e nos deixam boquiabertos.

Seja pelo paradeiro dos Watchmen ou em que eles interferem na trama atual, a série se mostra bem complexa e extremamente bem-produzida, não apresentando evidências gratuitas e que não resultam em desfechos satisfatórios.

Assim como na HQ, a série também é cheia de críticas, porém adapta o discurso para algo mais contemporâneo, como por exemplo o racismo .

Embora essa seja uma antiga questão, que evoluiu bastante ao longo das décadas, a série mostra que ele ainda há muito a ser discutido sobre isso. Para completar, a pauta é atrelada totalmente às HQs, seja pela origem dos minutemen ou ao Rorschach, que é usado como representante dessa supremacia branca e que faz total sentido para quem acompanhou as revistas.

Nesta altura do campeonato, muitos mistérios da série já foram solucionados ou ao menos esclarecidos, mas uma das questões que mais martela a cabeça do público é o que aconteceu com o Ozymandias.

Quem leu a HQ, sabe que ele foi o responsável pela criação da Lula Gigante que matou milhões de pessoas, mas seu destino depois disso ainda era incerto, com muitos acreditando que ele estava morto. A série mostra a continuação da história de Ozy, mas ainda assim, não fazemos ideia de onde ele está ou o que está acontecendo com ele.

A trilha sonora da série é extremamente bem-trabalhada, mesclando música clássica com faixas mais atuais, balanceando bem o vai e vem que acontece entre os flashbacks e o que acontece nos dias de hoje.

Além disso, em muitos momentos, a trilha acaba se tornando quase que um personagem da trama, já que ela não serve apenas para embalar as cenas, como também para representar as personalidades de alguns personagens.

Essa não é uma série infanto-juvenil, algo que casa bem com a proposta das HQs, mas não espere ficar vendo cenas de nudez e de violência de forma gratuita, na verdade, tudo casa com a proposta da série de forma natural e é usado com parcimônia.

Esses elementos são usados para complementar a trama e não para chocar o público, o que é ótimo, já que o choque acaba vindo das reviravoltas e de toda a magnitude da produção.

Embora as HQs de Watchmen já sejam antigas e equipe já tenha até mesmo ganhado um filme anos atrás, muitos fãs não se sentiram motivados à ler os quadrinhos, se contentando apenas com o filme feito por Zack Snyder.

Acontece que por mais fiel que o filme de Snyder seja em termos visuais, o longa faz muitas adaptações narrativas em relação à HQ, que não expressam algumas nuances sutis propostas por Moore. A série explora bem essas nuances, que só serão notadas por aqueles que leram a HQ, além de explorar elementos que não foram abordados pelo filme.