Antes de começar a divulgar os maiorais, uma menção honrosa para o mais recente lançamento da Netflix: A Concierge Pokémon. A série original tem apenas quatro episódios muito bem produzidos, com um caprichado stop-motion realçado com a precisão da computação gráfica. Além do visual único de cada Pokémon, feito de materiais diversos que vão do feltro a argila, ainda temos uma leve e importante história sobre a vida adulta. A protagonista é uma garota com problemas para relaxar, para sair da mentalidade ultraprodutiva de um trabalho abusivo. E neste resort, cercada por criaturas adoráveis, ela precisa aprender a se frear e a respeitar seu próprio ritmo. É a forma perfeita de desestressar e assistir algo levinho para encerrar o ano e se preparar para os lançamentos de 2024.

E agora que tiramos essa recomendação do caminho, vamos começar o ranking das melhores séries animadas do ano (vulgo, desenhos).

Uma grata surpresa do ano foi Kizazi Moto: Generation Fire, uma antologia de curtas animados por estúdios de diferentes países da África que trazem um olhar múltiplo para o afrofuturismo. Imagina se diferentes diretores pudessem ter liberdade criativa de criar uma história nova no universo de Pantera Negra? A proposta é bem parecida e o resultado é absurdamente surreal. Dá vontade de ver séries inteiras baseadas em alguns desses curtas.

O Meu Pai É um Caçador de Recompensas, ou My Dad the Bounty Hunter, é outra animação que entrou de surpresa no meu radar. A trama parece um derivado de Ben 10 focado na vida dos Encanadores, sabe? Assim consegue equilibrar bem ação e humor e de quebra ainda trazer uma história leve sobre família.

Fionna e Cake retornou ao universo de Hora de Aventura com uma abordagem diferente: ao invés de ceder a um olhar nostálgico, a série volta a esse mundo de fantasia com uma visão crítica e madura. Muito mais introspectiva e emotiva que o original. Assim, consegue trazer novidade a um desenho muito conhecido por todos nós, renovando a curiosidade pelo Reino de Ooo. Simplesmente mágico do seu próprio jeito.

Estranho pensar que a Ubisoft lançou outra animação de sucesso em mais um ano consecutivo. O estúdio de jogos francês decidiu por não adaptar apenas um de seus games dessa vez, mas sim todos ao mesmo tempo em uma insana bagunça que se tornou Captain Laserhawk: A Blood Dragon Remix. A história é uma distopia em um futuro podre em que tudo que existe é dominado pelo monopólio de uma empresa, a Ubisoft, e um grupo de rebeldes está disposto a derrubá-los. Com muita violência, protagonismo gay, um Rayman bebum e narcisista, essa é a animação que você não sabia que precisava.

Garota da Lua e o Dinossauro Demônio, ou Moon Girl and Devil Dinosaur, é uma animação para crianças feita pela Marvel que se beneficia muito de não estar presa pelas amarras criativas da Marvel Studios. Com isso, os produtores conseguiram criar um universo bastante colorido e cheio de personalidade que conquista qualquer um. Bem mais infantil que qualquer outro nome da lista, mas não menos impressionante.

Planeta dos Abutres, ou Scavengers Reign, pegou todos de surpresa. Afinal, não é sempre que uma história original de ficção científica tão pura aparece assim como animação. E com uma trama tão poderosa que força humanos, que se acham grandes o suficiente para conquistar o espaço, a serem humildes diante da brutalidade amoral da natureza de um mundo alienígena.

Em um ano repleto de novas ideias e visões revolucionárias de franquias conhecidas, Unicorn: Warriors Eternal foi um importante elo com o passado dos desenhos mais clássicos.

Do produtor de As Meninas Superpoderosas e criador de Samurai Jack, Genndy Tartakovsky, surge essa nova trama que mistura magia e fantasia com elementos steampunk para contar a história de guerreiros místicos que reencarnam ao longo dos anos para enfrentar um grande mal. A honra exige que abdiquem tudo de suas vidas para renascer como puros combatentes, até que uma mulher decide confrontar esse sistema para enfrentar o caos do seu próprio jeito.

Samurai de Olhos Azuis, da Netflix, é como uma versão estendida de um filme de Quentin Tarantino misturado com o olhar apurado de Akira Kurosawa. E com ainda uma pitadinha de Mulan, da Disney. A trama acompanha a vida de um samurai que está determinado a combater poderes ocultos ocidentais infiltrados no Japão antigo em uma grande e sangrenta jornada de vingança.

A série tem tudo de melhor das animações mais modernas, como um visual híbrido que mistura belíssimos cenários tradicionais com a fluidez dos personagens tridimensionais, além de um roteiro que vai além do superficial. E enquanto impressiona com uma brutalidade sanguinolenta, ainda explora com coragem questões da repressão feminina.

Quem diria que no ano que estreou The Flash, Shazam 2 e Aquaman 2 veríamos a DC Comics no topo de algum canto do audiovisual? Enquanto a empresa foi um vexame no quesito live-action, nas animações brilhou demais com o carismático Minhas Aventuras com o Superman.

O desenho revisita todas as convenções do herói mais tradicional e vira tudo do avesso, deixando apenas a essência do que realmente significa ser um símbolo de esperança. A galeria de vilões traz uma nova abordagem tecnológica a nomes clássicos, enquanto amarra tudo em um enredo cheio de tramóias e mistérios, digno para o trabalho de jornalistas investigativos. Assim, não apenas o Homem de Aço, como Clark Kent, Lois Lane e Jimmy Olsen também têm chance de brilhar e mostrar suas personalidades magnéticas. É leve, muito bem detalhada e com um coração de ouro.

Scott Pilgrim: A Série, ou Scott Pilgrim Takes Off no original, pegou todo mundo desprevenido. Quando o público esperava apenas mais uma adaptação dos quadrinhos de Bryan Lee O’Malley, a Netflix entregou uma nova história original impressionante. Nesta terceira versão das aventuras de Scott Pilgrim, o próprio garoto é eliminado da equação bem cedo para dar espaço para o resto do elenco brilhar.

Impressionante como a história ganha um tom completamente diferente. Personagens que eram quase figurantes, notas de rodapé nos quadrinhos, demonstram uma personalidade tão apaixonante que só resta gratidão por ter mais tempo para acompanhar sua própria história. Os ex-namorados de Ramona ganham uma vida extra, os amigos de Scott uma segunda chance e o público um grande presente. Merece demais ser assistido.