Poucos episódios conseguem nos dar um panorama tão claro e imediato do que é ser um mutante nesse universo quanto "A Noite dos Sentinelas", estreia dupla da primeira temporada. Aqui, seguimos Jubileu, que tenta fugir de Sentinelas poderosos, até que é auxiliada pelos heróis mutantes - o que faz com que ela decida se juntar à escola de Charles Xavier.

Mais que mostrar a graciosidade dos poderes mutantes ou até a dinâmica por trás dos personagens, o que surpreende nesse episódio é o quão fundo ele se sustenta nos embates políticos levantados pelos X-Men, resgatando toda a alegoria da equipe para o racismo e a intolerância - e fazendo isso através dos olhos de uma jovem mutante é a melhor forma de nos apresentar à obra.

Ainda que Magneto seja conhecido como o maior antagonista dos Filhos do Átomo nos quadrinhos, o vilão fez sua primeira aparição na série animada apenas no terceiro episódio, em um capítulo chamado "Surge Magneto" - cuja trama gira em torno do Mestre do Magnetismo investindo contra uma base militar humana.

O capítulo é vagamente inspirado na história de The Uncanny X-Men #1, a primeira revista da equipe nos quadrinhos, e além de apresentar Magneto e seus planos contra a raça humana, temos também uma breve introdução do Dentes-de-Sabre, já dando pistas de sua relação conturbada com o Wolverine.

A quarta temporada de X-Men: A Série Animada decidiu ir ainda mais além e nos colocar diretamente contra o maior mutante que já existiu, uma figura poderosa e perigosa chamada Apocalipse. Enquanto a temporada constrói lentamente seu ressurgimento e seus planos de dominação mundial, é o fim desse arco que chama tanta atenção.

"Acima do Bem e do Mal" é um episódio quadruplo que nos leva em uma grande jornada através do tempo, enquanto Apocalipse se junta ao Senhor Sinistro em uma tentativa desesperada para acabar com os X-Men de uma vez por todas. É um dos melhores capítulos da animação, e carrega todo o senso épico das melhores HQs dos Filhos do Átomo.

A primeira temporada não tem medo de entrar em questões muito pesadas e densas dos quadrinhos, e um bom exemplar disso é "Ilha dos Escravos", sétimo capítulo da animação, que nos leva até a ilha de Genosha, onde os mutantes do mundo todo estão sendo enviados para trabalhar em campos de concentração, onde os Sentinelas são montados.

O episódio mostra como a humanidade teme e odeia os mutantes por serem o "próximo estágio da escala evolutiva", mas é uma aula sobre como o ódio, a desumanização e a intolerância fazem com que vidas sejam destruídas. É um capítulo particularmente aterrorizante em sua imagética, sobretudo na cena em que os Sentinelas capturam Tempestade - que está sem poderes.

Após uma primeira temporada forte, a série retornou para seu segundo ano já trazendo novas ameaças e perigos para a equipe mutante. Em "Até que a Morte nos Separe", vemos o Senhor Sinistro mostrando as garras e nutrindo um interesse nada saudável pelos X-Men, sobretudo por Ciclope e Jean Grey, que ele sequestra ainda em sua Lua de Mel.

Porém, o mais interessante aqui é o retorno de um personagem que apareceu no primeiro episódio da série, o Morpho. Aqui, ele é usado pelo Sinistro para "despedaçar" os Filhos do Átomo de dentro para fora. Porém, como um capítulo de introdução para Nathaniel Essex, o episódio é perfeito, dando ao público um gostinho de sua obsessão por Jean e Scott.

Fazendo referência a um filme aclamado de Steven Soderbergh, o décimo sexto episódio da quarta temporada da série nos leva para conhecer mais do passado de um dos membros mais ilustres dos X-Men, o Wolverine. E como já era de se imaginar, o capítulo mergulha fundo no programa Arma X e em todos os mistérios que circundam as raízes do Carcaju Canadense.

Com uma forte participação do Dentes-de-Sabre e outros mutantes bem conhecidos da lore do Wolverine, o capítulo contribui para entendermos os dilemas pessoais de Logan e suas motivações, ao mesmo tempo em que temos uma retratação nada lisonjeira do programa militar responsável pelas garras de adamantium do herói.

A primeira temporada ousou com muito sucesso, não só apresentando uma nova geração dos X-Men para uma nova geração de fãs, como também abordando vários arcos clássicos dos quadrinhos com maestria e primor. Esse é o caso de "Dias de um Futuro Esquecido", arco de dois episódios que adapta a HQ de Chris Claremont e John Byrne.

Com algumas mudanças drásticas em seu desenvolvimento (é o Bishop que retorna ao passado em vez de Kitty Pryde), o capítulo serve para nos mostrar como é possível fazer adaptações sem sacrificar a essência das HQs e seu significado. Além disso, é uma excelente trama de viagem no tempo, algo que marcou vários quadrinhos da equipe mutante.

Ainda falando em viagens temporais, um dos episódios mais interessantes da série original é O Valor de um Homem, capítulo duplo ambientado na 4ª temporada da série. Aqui, com nítidas inspirações na Era do Apocalipse das HQs, somos transportados para um mundo alternativo onde o Professor X morreu e os mutantes são liderados por Magneto.

Recheado de ação e com muitas discussões filosóficas permeando a narrativa, os dois episódios servem para mostrar o impacto de Charles Xavier para a equipe mutante e para o mundo. Além disso, a trama conta com participação do Bishop - e deve ser um dos episódios "fundamentais" para entender a entrada do herói na equipe em X-Men '97.

Outro capítulo muito interessante da série mutante é a finale dupla para a segunda temporada, onde acompanhamos o Professor X e Magneto presos sozinhos na Ilha Selvagem, tendo que lidar com todo tipo de ser pré-histórico enquanto lembram com melancolia de sua antiga amizade, e como eles se tornaram inimigos.

Enquanto isso, ainda temos mais vislumbres do Senhor Sinistro e os seus planos de dominação. O capítulo encerra com uma sequência de ação muito boa, e ainda serve para nos entregar uma espécie de "redenção" do Morpho, algo que deve ser levado em conta com o retorno do mutante em X-Men '97.

Em primeiríssimo lugar, não temos um único episódio, mas sim nove. Todos esses capítulos fazem parte da adaptação de A Saga da Fênix Negra, a narrativa que tomou conta de quase toda a terceira temporada da animação. Aqui, vemos Jean Grey e sua lenta transformação após entrar em contato com uma entidade cósmica extremamente poderosa, a Força Fênix.

Ambos os arcos, tanto "A Saga da Fênix" quanto "A Fênix Negra", servem para mostrar como a maior ameaça aos mutantes e sua integridade partiu de dentro da própria equipe, e como Jean Grey teve que sacrificar sua própria autonomia para salvar seus aliados. Por isso, o terceiro ano da animação ainda é tão lembrado e referenciado como um dos pontos altos de X-Men: A Série Animada.