É bom começar tocando já em um ponto que não afeta exclusivamente Punho de Ferro, mas sim todas as séries da Marvel/Netflix: a famigerada encheção de linguiça. O modelo de 13 episódios já foi feito para trazer economia na narrativa, tornando a história mais ágil, e ainda assim, todas as séries conseguem ser arrastadas, cansativas e inchadas.

Porém, até agora, Punho de Ferro foi uma das que mais sofreu com isso. Basta lembrar que nada acontece em pelo menos metade da primeira temporada. Resolvendo essa questão, e dando à série um ritmo mais frenético e instigante, já traria uma melhora de 50% à história, dando já um caminho menos tortuoso a se seguir.

Aliás, boa parte do que fez com que o começo da série tenha sido tão maçante foi justamente o destaque corporativo que tentaram estabelecer, dando um foco muito maior para personagens como Joy e Ward Meachum, até mesmo do que para o protagonista, Danny Rand. E, se a segunda temporada quiser ser minimamente boa, isso precisa acabar.

A Rand Enterprises tem, de fato, um grande papel na formação do personagem, nos quadrinhos, mas ela nunca se sobrepôs à sua vida como super-herói, nem mesmo quando ele assumiu controle total da empresa. Essa trama precisa ficar para trás, até porque os fãs não querem ver Danny Rand lidando com questões corporativas. Em vez disso, eles querem...

Para um personagem cujas principais habilidades residem nas artes marciais, a primeira temporada de Punho de Ferro foi bem... econômica no que diz respeito às cenas de ação. Durante toda a trama da série, foram poucos os momentos em que podíamos ver Danny mostrando todo o treinamento que recebeu em K'un-Lun.

Mesmo que desenvolvimento de personagem seja algo de crucial importância, é preciso lembrar que o personagem é calcado em lutas. Todas as suas melhores histórias envolvem torneios marciais e duelos impossíveis. É preciso que a série ganhe mais destaque no que diz respeito à ação - e também qualidade.

Aliás, falando justamente nas lutas e cenas de ação, é triste notar que Punho de Ferro foi a que teve o pior trabalho de coreografia e montagem das sequências de batalha - e nesse ponto eu desconsidero Luke Cage e Jessica Jones, pois essa nunca foi sua proposta. Isso é algo que precisa ser melhorado na segunda temporada.

Sabemos que um dos principais problemas foi sanado: devido à pressa das gravações, Finn Jones ensaiava algumas cenas apenas quinze minutos antes de fazê-las pra valer, e isso é algo que não se repetiu nas gravações da nova temporada. Ainda assim, esperamos um nível de ação similar ou melhor que o do primeiro ano de Demolidor, pois é o que o herói merece.

Punho de Ferro surpreendeu por ser, em sua primeira temporada, a série mais abarrotada de vilões e antagonistas da Marvel/Netflix. Se fizermos uma contagem, citando apenas os mais importantes, temos Madame Gao, Davos, Bakuto e Harold Meachum. Infelizmente, no entanto, foram poucos os momentos em que eles mostraram seu valor.

Os vilões foram rasos, mal-desenvolvidos e não mostravam nenhum senso real de perigo ou ameaça. A começar da segunda temporada da série, isso precisa mudar com urgência - afinal de contas, o herói só é tão bom quanto as forças que o opõem. Davos já está a meio caminho de virar o Serpente de Aço, e seria melhor investir nele com força total.

"Eu sou o Punho de Ferro, a Arma Imortal de K'un-Lun". Perdemos a conta de quantas vezes isso foi dito na primeira temporada de Punho de Ferro ou em Os Defensores. O pior disso tudo, no entanto, é que podemos perceber o quanto o personagem está se levando a sério... assim como sua própria série.

Isso é uma completa descaracterização do personagem em relação às HQs. Danny tem sim uma história de origem trágica, e suas histórias lidam muito com vingança, mas ele sempre teve uma postura mais leve, servindo principalmente de alívio cômico em histórias de equipe, como nos Novos Vingadores. E ele precisa urgentemente dessa mudança de ares na série.

Por mais que não tenha agradado a todos, Colleen Wing foi um dos destaques da primeira temporada. A personagem conseguiu ter um arco completo e, diferente do próprio Danny Rand, passou por uma grande mudança. É seguro dizer que a personagem interpretada por Jessica Henwick tem que ser uma das pilastras para o sucesso futuro da série.

E há formas bem inteligentes de trabalhá-la aqui. Sabemos que Misty Knight deve fazer uma breve participação especial, e considerando a amizade das duas nos quadrinhos, os produtores não deveriam descartar a possibilidade de introduzir as Filhas do Dragão. Além disso, é uma forma de desenvolvê-la para além do romance com Danny.

Todos nós já sabemos que o Punho de Ferro vai aparecer na segunda temporada de Luke Cage, e tudo o que podemos esperar agora é que o herói blindado possa retribuir o favor, dando as caras na segunda temporada da Arma Imortal de K'un-Lun. Isso seria um grande passo para formar os Heróis de Aluguel.

Todos pudemos atestar, em Os Defensores, como a dinâmica da dupla ajudou os dois personagens a ganharem mais força nas séries. Além disso, a dupla possui uma legião de fãs, e consolida os heróis em uma dinâmica independente, o que seria ótimo para desenvolver os personagens fora dos núcleos de suas próprias séries.

Um dos problemas que mais tem vitimado produções atuais inspiradas em quadrinhos é o dedo do "sombrio e realista". Embora isso funcione muito bem para o Batman ou para Jessica Jones, por exemplo, é o tipo de tom que não combina nem um pouco com o Punho de Ferro, que sempre teve uma história puxada para sua vertente mística.

A primeira temporada pecou monstruosamente ao tentar fazer uma trama calcada em um realismo que simplesmente não existe. Por isso, a Marvel TV precisa aceitar alguns elementos, como o fato de que Danny foi treinado em uma cidade mística, lutou contra um dragão mágico e seus vilões não são menos fantasiosos. Chega de fingir que o personagem é dark e trevoso.

Por fim, temos uma coisa muito simples, mas que ajudaria a transformar a série da água para o vinho: o traje heroico do Punho de Ferro. Só isso já iria agradar muito os fãs, e casaria perfeitamente com alguns elementos já mencionados na lista - como a série abraçar seu lado mais "quadrinesco" e não se levar tão a sério.

Isso porque o traje do herói sempre foi uma marca, não apenas para o personagem, como também, para seu legado. E ver a primeira temporada, onde não vemos Danny Rand usando-o nem uma vez, é um atestado da falta de coragem da série até aqui. O personagem gosta de falar que é um herói... mas precisamos vê-lo sendo um herói.