A construção dos filmes é bem diferente, quando Batman vs Superman não tem uma ordem de ideias tão bem definida quanto à de Guerra Civil, que segue uma linearidade maior no seu contar da história. BvS tem uma cronologia linear, sim, mas suas tomadas e o passar de tempo dentro do filme é um pouco mais complexo que o de Guerra Civil. Na trama dos irmão Russo, cada parte é bem definida e até a passagem de tempo é mais regular.

Falando sobre as histórias em si, no fim, em Guerra Civil, vemos a quebra dos Vingadores, enquanto, mesmo com a morte do Superman, o final de BvS mostra o início da Liga da Justiça. É interessante notar que, mesmo com premissas semelhantes, de colocar dois grandes heróis em conflito, a Marvel implodiu sua equipe, já pensando em Guerra Infinita (seja lá qual será o novo nome do filme), enquanto a DC começou criar seus laços através da pancadaria.

Sempre lembrando que esse é o primeiro grande filme da DC nos cinemas. Batman vs Superman pode até trazer personagens mais icônicos, afinal de contas, a Tríade do filme é praticamente um patrimônio cultural americano, mas ainda era uma aposta arriscada. Antes da primeira reunião dos Vingadores, a Marvel já havia testado os cinemas com seus personagens, com filmes muito bem recebidos, o que não é o caso da concorrente.

E Guerra Civil deixou muita coisa em aberto sim, mas foi um filme feito para o momento. Dessa vez, a abertura dada para os próximos projetos da Marvel é bem menor, deixando o longa mais centrado em sua própria trama. Temos o Pantera Negra, mas Dr Estranho, Guardiões da Galáxia (e toda a fatia espacial), até mesmo as séries, de SHIELD às da Netflix, vão se utilizar da história, mas por conta própria. Já BvS é praticamente um prelúdio para todo o Universo da DC em crescimento, é abertura que não acaba mais.

Voltando falar da construção dos filmes, Guerra Civil é um filme muito mais equilibrado em seus momentos de ação e tensão, em todo o enredo mesmo, que BvS. No longa da DC, porém, temos ápices maiores, houve um investimento pesado em fazer cenas “icônicas”, enquanto não se preocuparam tanto com outros momentos. Então, quando Guerra Civil pode ser considerado um bom filme como um todo, BvS tem partes extremamente boas e partes que, realmente, não deveriam nem ter existido.

E voltamos a um dos grandes problemas da Marvel: Vilões. O Zemo (sem Barão) foi até um bom vilão, porém parece que a Casa das Ideias tem receios de colocar alguém completamente surtado para antagonizar seus filmes, o que condiz muito com os quadrinhos, quando a Marvel coloca ideias de morais mais volúveis para seus personagens. Porém, a falta de um grande antagonista nos cinemas (porque já ganhamos nas séries) é um problema sério para as tramas, sempre fica um gostinho de ‘está faltando algo’.

No caso da DC, muita gente considerou o Lex muito exagerado, o Apocalypse feio e não houve o antagonismo prometido em cima do Homem-Morcego. Porém, os vilões do filme são bem mais delineados como antagonistas, a trama possui uma ameaça maior e mais relacionável e, no fim, Luthor só estava atrás de poder e o Doomsday é uma máquina mortífera. Vilões. Antagonistas. Simples e eficiente.

Mesmo que Batman vs Superman seja uma continuação direta de Homem de Aço, o filme é um prelúdio; é pra ser assistido pensando nos posteriores e, talvez, esquecer um pouquinho do primeiro longa, certo? Assim, Guerra Civil segue por outro rumo, quando é, claro, uma abertura para novas histórias também, mas sua criação se baseia mais na ideia de colisão de todas as tramas contadas até agora.

A escala dos filmes também é bem distinta. Guerra Civil é global, o acordo é com a ONU, a trama se passa, em sua maioria, em outros países, etc. No caso de BvS, temos algo mais centralizado em Metropolis e Gotham, ainda que a ameaça mesmo seja global, na verdade, no fim, interplanetária.

Quando a ideia da apresentação do Homem-Aranha foi colocada como sendo mais rápida, sem se preocupar com explicações, apostando no caso do público já conhecer a história do herói, muitos acharam que aconteceria algo semelhante à apresentação do novo Batman. Nada parecido, no fim. O Batman ainda ganha uma origem e, bom, ele é um dos protagonistas. O Aranha foi apresentado, teve sua origem referenciada rapidamente, porém foi apenas uma apresentação do heróis mesmo, sem protagonismos, sem alongamentos.

Pra fechar, lembremos que, por mais que Batman vs Superman seja mais sisudo em sua apresentação, ele apresenta resoluções EXTREMAMENTE mais simples para seus conflitos (e isso não é um elogio) que Guerra Civil. E isso não entra nem no mérito de dramaticidade, é mais o ponto de subestimar a capacidade do espectador, do personagem e da narrativa.