A Marvel Comics sempre esteve mais por dentro de questões sociais e representação inclusiva, quando falamos de quadrinhos de super-heróis. E ainda assim, eles sempre estão dispostos a entender os fãs. Certa vez, um jovem garoto reclamou que não via nenhum herói com aparelhos auditivos, e assim, a editora criou Blue Ear e Sapheara.

Eles podem não ser conhecidos e nem terem muitas histórias - na realidade, até agora, eles só existem em alguns quadrinhos conscientizadores ou voltados para o público surdo -, mas exercem um papel interessante para crianças e adolescentes. Juntos, os dois já participaram de uma breve aventura ao lado do Homem de Ferro.

Porém, outra história ainda mais interessante que deve ser levada em conta é a de Signs and Voices, um quadrinho britânico publicado pela Deaf Power Publishing House, uma editora composta por pessoas surdas, que produzem conteúdo escrito para a comunidade e para a conscientização de pessoas ouvintes.

A HQ conta com um esquadrão composto por quatro heróis, todos com deficiência auditiva. Juntos, eles precisam cumprir uma profecia que envolve uma criança, enquanto lutam com um governo autoritário e excludente, que serve de metáfora para a forma como pessoas surdas são excluídas na vida real, devido à falta de inclusividade e acessibilidade.

Tintim pode ser um baita detetive e aventureiro, mas muitas vezes ele depende da ajuda de aliados poderosos. E um desses personagens é o Professor Girassol, um sábio acadêmico que sempre está disposto a ajudá-lo em suas missões, criando dispositivos e equipamentos que servem para resolver complicações e crimes.

Embora sua deficiência parcial seja constantemente usada para provocar humor, ele não deixa de ser um herói à sua própria maneira. E além de ser um físico renomado, também já foi um exímio lutador de savate, uma técnica de luta francesa. Sem sua ajuda, Tintim sequer conseguiria cumprir suas aventuras e tarefas...

O nosso querido Corcunda de Notre-Dame é bem conhecido pela animação da Disney, onde ele não é surdo. Contudo, no livro original de Victor Hugo e em algumas adaptações cinematográficas e teatrais, o personagem reteve esse traço muito importante de sua caracterização, já que ele perdeu a audição devido aos sinos da catedral, que era obrigado a soar.

A verdade é que Quasímodo sempre foi um personagem que simbolizava, da forma mais pura possível, uma minoria oprimida, seja por sua história sofrida ou por sua fome de justiça e liberdade. Ele não é um galã e certamente não corresponde a padrões estéticos, mas é um herói inspirador e uma figura importante, seja no cinema ou na literatura.

Heroes pode não ter se saído muito bem em suas últimas temporadas, mas ao menos serviu para nos apresentar uma personagem muito intrigante: Emma Coolidge, uma super-humana que trabalha em um hospital. Seus poderes são magníficos: apesar de não ouvir, ela consegue perceber o som como luz, e pode fazer esculturas com as ondas.

Além de se tornar grande amiga e aliada de Hiro, ela usa seus poderes para coisas magníficas, desde a mais pura arte através do controle do som até combate, já que ela pode converter o som em força física, mesmo sem escutá-lo. Ela é uma figura muito essencial da quarta temporada, e tem um dos melhores poderes da série.

Embora tenha começado como um vilão do Flash, o Flautista logo se tornou um poderoso aliado, e vez ou outra, atua como herói, enfrentando até mesmo seus ex-parceiros da Galeria de Vilões do Velocista Escarlate. Seu alter-ego civil é Hartley Rathaway, um rapaz que nasceu portador de deficiência auditiva.

Porém, ele logo ganhou implantes e ficou fascinado com o som - da mesma forma que muitas pessoas surdas ficam ao usar aparelhos auditivos. Ainda que tenha passado um período ouvindo, ele frequentemente perde a audição em algumas histórias, e em vez de sofrer por isso, sempre usa isso ao seu favor, quase como um super-poder.

Se você acompanha The Magicians, já deve estar ciente de como os plots são cada vez mais grandiosos e insanos, conforme os aprendizes de magos precisam resolver suas próprias missões. Em meio a isso, temos Harriet, uma mulher surda cuja maior missão é lutar em prol da liberdade de informação.

Uma heroína anárquica, ela se rebela contra a Biblioteca, uma rígida instituição que retém todo conhecimento, mas libera apenas o que julga seguro. Além disso, é importante notar que ela foi interpretada por Marlee Matlin, a primeira e única atriz surda a ganhar o Oscar de Melhor Atriz, pelo filme Filhos do Silêncio.

Criada por Joe Quesada e David Mack no título do Demolidor, a heroína conhecida como Eco é uma das maiores representantes surdas na mídia, tendo sido alvo de várias campanhas de inclusão durante suas primeiras aparições. Ela é Maya Lopez, uma heroína que já assumiu o manto do Ronin, e frequente aliada do Homem Sem Medo e dos Vingadores.

De origem nativa-americana, ela é quase a versão surda de Matt Murdock, já que seus reflexos também são intensificados devido à perda da audição. Ela é capaz de perceber pequenos detalhes do ambiente ao seu redor, e isso a torna super ágil e atenta. Ela também é uma excelente pianista, e consegue "ouvir" a melodia através da vibração no ar.

Em termos de super-heróis dos quadrinhos com surdez, talvez nenhum seja tão famoso quanto o Gavião Arqueiro, embora poucos saibam disso. O herói teve sua audição lesionada em uma de suas aventuras antigas, e posteriormente, isso foi se agravando. Atualmente, ele precisa usar aparelhos auditivos para ter o sentido parcialmente restaurado.

E embora muitos escritores infelizmente esqueçam esse detalhe importantíssimo sobre Clint Barton, outros fazem histórias incríveis. Foi o caso de Matt Fraction, que abordou muito disso durante seu run pelo título do personagem - havia inclusive edições e momentos onde o Vingador se comunicava por ASL - a Linguagem Americana de Sinais.

Fechando esta lista, temos um exemplo recente e bem agradável: a jovem Regan Abbott de Um Lugar Silencioso, o filme de terror que está tirando o fôlego de todos que o assistem. E aqui, o importante é salientar a necessidade de representação dentro e fora das câmeras, já que Millicent Simmonds, a atriz que a interpreta, também é surda.

Ela se comunica apenas através de ASL e é muito inteligente, sendo fundamental para sua família e para ajudar a contornar o problema causado pelos monstros alienígenas que escutam até os menores sons. Ela é mais um exemplo de como a surdez pode ser representada de maneira positiva e inclusiva na ficção, de forma global.