Antes de mais nada, é importante dar uma geral sobre o que significa Horror Cósmico. Trata-se de um subgênero do terror principalmente desenvolvido pela obra literária de H.P. Lovecraft, um dos escritores mais influentes da ficção moderna. O Cosmicismo, como também é chamado, categoriza-se pela rejeição às divindades e à insignificância da humanidade em frente aos enigmas do universo.

Não é à toa que os livros de Lovecraft são carregados de figuras ancestrais, mas que não se encaixam bem como "seres divinos", como Cthulhu, Nyarlathotep e Azathoth. Além disso, o horror cósmico traz um fascínio por reinos quase inalcançáveis pelo ser humano - dentre os quais, a realidade da morte. Outro elemento constante e presente é a loucura causada na mente humana pela forma indescritível dos horrores cósmicos.

Precisamos começar esta lista falando da adaptação do conto mais icônico de H.P. Lovecraft, o mítico Chamado de Cthulhu, que deu origem à todo o culto pela criação com corpo de dragão e cabeça de polvo. A história já foi adaptada e referenciada algumas vezes em filmes, séries, quadrinhos e games, mas até hoje não temos nenhuma adaptação tão fiel quanto The Call of Cthulhu, de 2005.

Começa pelo fato de que o filme foi produzido pela Sociedade Histórica de H.P. Lovecraft, divulgada a reproduzir e enaltecer a obra do autor. O filme é totalmente fiel ao conto, e tem sua estética própria, incorporando elementos de cinema mudo e do Expressionismo Alemão (de filmes como Nosferatu e O Gabinete do Dr. Caligari). Sua estética e a fidelidade à obra o tornam um exemplar único.

Continuando a falar sobre a Sociedade Histórica de H.P. Lovecraft, temos esse outro filme, lançado em 2011, que adapta a história de Um Sussurro nas Trevas, um conto que mescla muito bem o horror com os vislumbres de ficção científica do autor. Aqui, sobretudo, conhecemos uma raça alienígena bem diferente de boa parte das representações clássicas de extra-terrestres.

E o filme, por mérito próprio, merece reconhecimento por seu estilo. Se The Call of Cthulhu homenageou a era do Cinema Mudo, The Whisperer in Darkness é uma carta aberta de amor aos filmes de horror da década de 30, que deram origem ao que conhecemos como cinema trash. É outro ótimo exemplo de fidelidade atrelada à qualidade.

Outro conto muito popular do repertório de Lovecraft é A Cor que Caiu do Céu, que narra a história de uma cidade após a chegada de um meteoro misterioso, que interfere na vida e na população local. Como resultado, temos um filme alemão de 2011, que reproduz o conto de forma interessante. Die Farbe é uma produção independente, mas que dialoga bem com o Horror Cósmico proposto pelo autor.

Infelizmente, o filme não é lá muito bom, devido à alguma decisões discutíveis de roteiro e produção. Por exemplo, toda a ideia do conto gira em torno de uma cor que se alastra por um vilarejo. Inicialmente, o filme contorna esse problema por ser em preto e branco. Mas, quando a cor se destaca, a produção esbanja efeitos visuais ruins para tentar recriá-la. Ainda assim, é um bom exemplo introdutório para quem quer conhecer esse tipo de terror.

Assim como os anteriores, temos aqui a adaptação de um conto de Lovecraft - neste caso, Herbert West: Reanimator -, mas diferente do que já falamos, este aqui não tenta imprimir fidelidade à obra. Em vez disso, ele abraça as raízes que o tornaram um clássico na década de 80, e se entrelaça com a vertente mais trash possível do cinema de horror. É um clássico divertido, mas que também consegue ser assustador.

Lembra-se que falamos de como a morte é um reino pertencente ao Horror Cósmico, no item de introdução do gênero? Pois bem, o filme segue exatamente essa linha, conforme conhecemos Herbert West, um médico nada ético que tenta, a todo custo, provar que a ressurreição de mortos é possível. Contudo, ao fazer isso, ele manipula regras sagradas da natureza e traz para si um caos imperdoável. E agora, partimos para os filmes que apenas se inspiram na obra de Lovecraft:

John Carpenter é um dos cineastas que mais bebeu da fonte profana de Lovecraft. O diretor foi tão inspirado pelo autor que chegou a produzir a Trilogia do Apocalipse, três filmes que narram o Horror Cósmico de forma brutal. E embora O Enigma de Outro Mundo seja o mais famoso da "franquia", tenho que citar À Beira da Loucura, de 1994, que é basicamente uma carta de amor à obra do Filho de Providence.

O filme segue um investigar de uma empresa de seguros, vivido por Sam Neill, que logo entra em uma jornada em direção à insanidade, enquanto ele descobre o caso de um escritor que, com suas obras diabólicas, tem causado uma espécie de histeria coletiva no mundo. É um filme genial, e que dialoga com todo o repertório de Lovecraft, mas que consegue trazer o Horror Cósmico da forma mais literal possível aos cinemas.

Você pode até se surpreender, mas a verdade é que Ridley Scott se inspirou, assumidamente, nas obras de H.P. Lovecraft para criar o universo assustador da franquia Alien. O primeiro filme da série, O Oitavo Passageiro, tem influências diretas, e transcorre quase como um conto de Horror Cósmico. No entanto, as continuações migraram mais para a ação, até que Prometheus retornou com essa origem cósmica da saga.

Há vários paralelos entre o Xenomorfo e as criaturas ancestrais como Dagon. Mas talvez, o que é melhor representado aqui é a forma como os seres humanos, apesar de tão evoluídos, não passam de poeira espacial perto dos perigos que se escondem no cosmo. Nesse sentido, eles conseguem apostar muito bem no clima de desespero, no horror corporal e na constante degradação mental de seus protagonistas - mesmo quando esses não são humanos.

Imagine um filme de exploração espacial. Agora, misture isso com o que há de mais assustador em Alien: O Oitavo Passageiro e Hellraiser: Renascido do Inferno. O resultado está aqui, em O Enigma do Horizonte, que conta a história de uma tripulação espacial enviada para investigar uma nave que havia desaparecido próxima de Netuno, quando foi engolida por um buraco negro.

Agora, a nave está de volta... mas ela trouxe algo junto dela. Embora não seja lá o filme mais brilhante do mundo - afinal de contas, ainda é um longa de Paul W.S. Anderson, que você conhece pela franquia Resident Evil -, O Enigma do Horizonte ganhou um status cult, devido à representação fiel do Horror Cósmico e aos elementos que o tornam sádico e violento ao extremo, incluindo a presença forte de gore e de tortura.

Esse é, possivelmente, o filme que mais merece elogio da lista, pelo simples fato de ser independente e financiado por crowdfunding. Ainda assim, os membros da produção conseguiram fazer algo memorável e cheio de efeitos visuais práticos inacreditáveis, que conferem mais realismo à trama do que várias super-produções Hollywoodianas da atualidade. Mas o visual está longe de ser a única coisa que chama atenção aqui.

The Void, lançando em 2016, retrata da forma mais cruel possível os elementos referentes à cultos e seitas, frequentemente presentes em contos de Lovecraft - sobretudo no Mito de Cthulhu. É um longa apavorante, por retratar pacientes de um hospital sendo hostilizados e sacrificados por cultistas de uma entidade ancestral. E tudo isso, da forma mais bela e impressionante conquistada pelo baixo orçamento da produção.

Eu sei, você está bem surpreso agora, não é mesmo? Pois bem, IT: A Coisa pode ser inspirado em uma das obras mais famosas de Stephen King. Mas quem conhece mais da origem de Pennywise, o Palhaço Dançarino e sua presença, sabe que King recorreu a um dos grandes mestres do horror para conceber seu filho mais diabólico. Nesse sentido, o filme de 2017 raspa levemente na superfície do que deve ser explorado na continuação.

Pennywise é uma criatura do medo e da loucura, como qualquer outra saída dos contos de Lovecraft. Além de tudo isso, ele tem raízes em uma antiguidade de éons, surgindo antes mesmo da formação da Terra. Essa presença maligna e destrutiva pode mudar de forma, porque sua aparência verdadeira é indescritível a olhos humanos. E certamente, o Capítulo 2 deve mergulhar ainda mais nesse assunto, o que garantirá um verdadeiro clássico do Horror Cósmico contemporâneo.

Por fim, me resta comentar o exemplo mais recente da lista, o aclamado Aniquilação, lançado há alguns meses. O filme adapta uma obra do autor Jeff VanderMeer, que por sua vez, se inspirou fortemente em diversos clássicos de Lovecraft - em especial, A Cor que Caiu do Céu, mencionada no item 4. O filme segue uma bióloga, conforme ela precisa investigar o surgimento de um evento estranho: um local consumido por um "brilho" anormal, que modifica as coisas em seu alcance.

O filme mescla elementos dos mais diversos tipos. Além do evidente Horror Cósmico, há um teor de terror de sobrevivência e até mesmo de thriller psicológico, conforme as personagens principais começam a nutrir desconfiança entre si, motivadas pela crescente histeria coletiva. É o tipo de filme que dará mais perguntas que respostas, e deixará a solução final a cargo do público. Você pode encontrá-lo agora mesmo, na Netflix.