Para fazer um filme de magnitude tão importante, a Marvel Studios buscou uma equipe talentosa, que pudesse realmente fazer jus ao trabalho, ao mesmo tempo em que demonstrava a preocupação do estúdio com a representação negra dentro e fora das câmeras. Nesse sentido, a primeira escolha da Disney foi a diretora Ava DuVernay, responsável pelo filme Selma: Uma Luta Pela Igualdade, que conta a história de Martin Luther King.

Contudo, a visão da cineasta não bateu muito bem com a da Marvel, e ela passou o projeto adiante, indo trabalhar em Uma Dobra no Tempo, outro filme da Disney. Em seu lugar, entra Ryan Coogler, que já tinha ficado famoso por Fruitvale Station e Creed: Nascido para Lutar. Ele incorporou muito de sua vida pessoal ao longa, incluindo as sequências em Oakland, na Califórnia, cidade onde o diretor cresceu e nasceu, e que teve um papel importante para seus filmes anteriores.

Pantera Negra é um marco cultural por diversos elementos que circundam sua produção. Talvez, o maior destes seja seu elenco. Estamos diante do filme blockbuster com a maior quantidade de atores negros já produzido nos Estados Unidos. Em suma, o elenco central é quase integralmente composto por afro-americanos ou atores africanos de fato. Isso é de uma importância absurda, em um mundo ainda muito excludente onde personagens negros geralmente são apenas coadjuvantes de franquias.

E isso se estende além da cor de pele. O longa contém dois atores vencedores de prêmios de atuação no Oscar - Forest Whitaker e Lupita Nyong'o, além de dois que já foram indicados nessa categoria - Angela Bassett e Daniel Kaluuya, o que mostra uma competência em trazer representatividade da mais alta qualidade. Além disso, os bastidores também contém uma alta diversidade, já que muitas pessoas não-caucasianas também foram escaladas nas mais diversas áreas de produção.

Escolhido para viver o herói T'Challa em Capitão América: Guerra Civil, o astro Chadwick Boseman sabia que, em Pantera Negra, seu papel seria muito maior e ele precisaria desenvolver ainda mais nuances para o Rei de Wakanda. Dessa forma, ele - que não era muito chegado aos quadrinhos antes de ser escalado - fez uma extensa pesquisa e logo se tornou um grande fã do herói nas HQs.

Seu treinamento - como o de vários outros atores do Universo Cinematográfico da Marvel - foi intenso e exaustivo, conforme ele precisava aprender várias técnicas de luta, sobretudo estilos africanos e até mesmo capoeira, para encarnar toda a fisicalidade do herói. E além de tudo isso, tinha outro elemento importante que ele (e todo o elenco) precisaram treinar: o sotaque e as cenas de diálogo em Xhosa, um dialeto proveniente da África do Sul.

Além de Chadwick Boseman, outro astro realmente roubou a cena no filme - e estamos falando de Michael B. Jordan, que interpreta o vilão Killmonger. Nos quadrinhos, o personagem era um guerreiro e mercenário que enfrentava T'Challa, ao lado de Preyy, seu jaguar de estimação. No longa, fizeram questão de homenagear o animal, dando ao personagem seu próprio traje de vibranium, enquanto ele assumia o título de Jaguar Dourado.

Para o papel, o ator entrou em um transe de atuação, se isolando no set para criar a personalidade soturna do vilão. Ele se inspirou em grandes vilões do gênero de super-heróis, mais precisamente o Coringa de Heath Ledger em Batman: O Cavaleiro das Trevas e o Magneto de Michael Fassbender na nova série de filmes dos X-Men. É a terceira colaboração do ator com Ryan Coogler, e ele considera uma redenção após o desastroso Quarteto Fantástico de 2015, onde viveu o Tocha Humana.

E se você acha que o filme está só preocupado em representar bem a comunidade negra, está muito enganado. Uma outra preocupação incessante do diretor Ryan Coogler foi trazer uma representatividade feminina forte, consciente e importante. Como resultado, dentre todos os outros filmes do Universo Cinematográfico da Marvel, o longa do Pantera Negra é, até o momento, o que traz mais mulheres em papéis de destaque na trama - aliás, é o filme do estúdio que traz mais mulheres em cenas de ação do que homens.

Isso vem da ideia de que Wakanda, apesar de ser governada por um rei, é imersa em tradições matriarcais. O papel feminino no longa foi extremamente elogiado pelos fãs, mas também por Brie Larson, que interpretará a Capitã Marvel no primeiro filme do UCM protagonizado por uma heroína. Tanto ela quanto Tessa Thompson (a Valquíria de Thor: Ragnarok) se manifestaram, falando sobre a importância do longa para trazer personagens femininas relevantes para o cinema.

Para criar todo o visual e textura cultura de Wakanda, o diretor Ryan Coogler foi atrás de quem pudesse realmente ajudá-lo a basear a nação em locais reais do continente africano. Ele trouxe especialistas em cultura, política e história africana, e com isso, conseguiu fazer com que cada tribo da nação tivesse uma personalidade única e gritante, inspirada em animais das savanas.

• Os Jabbaris (o povo-gorila) vivem nas neves, usando peças com muita madeira e pelos, representando a sacralidade de suas crenças. Eles falam um dialeto conhecido como Yoruba, para se distanciarem dos Wakandanos, que falam Xhosa.
• A tribo das Minas é inspirada pela figura do leão, usando várias cores quentes.
• O povo do Rio usa conchas, couro de crocodilo e esbanja tons de verde e azul.
• A tribo da Fronteira é muito inspirada por rinocerontes, e usam muito azul e cinza.
• Por fim, a Tribo Dourada (a nobreza e família real) usa preto e roxo, e são inspirados pela principal divindade da nação: o Deus-Pantera.

Inicialmente, Ryan Coogler tinha uma ideia um tanto quanto diferente a respeito de quem trazer como o vilão central do filme - Killmonger sequer era cogitado em versões originais do roteiro. Originalmente, o diretor tinha falado com a Marvel Studios e pretendia trazer Kraven, o Caçador para ser o principal inimigo do longa.

Para quem não conhece, Kraven é um vilão importante do Homem-Aranha nas HQs. Ele é um caçador russo que teve sucesso em suas expedições na África, e sempre se prova o caçador perfeito. Nos quadrinhos, ele decide que sua maior caça seria o Amigão da Vizinhança, mas é provável que, no filme, esse papel de "presa" fosse dado ao Pantera Negra. A Sony, no entanto, que detém os direitos do Homem-Aranha e de seus vilões, negou o pedido, e há rumores de que eles pretendem, no futuro, lançar um filme solo do personagem.

Como um filme com uma grande importância cultural e histórica, Pantera Negra acabou tendo um impacto referente à sua relevância. Musicalmente falando, o filme ganhou um álbum com diversas canções produzidas pelo premiado rapper Kendrick Lamar. Algumas das músicas foram incorporadas ao próprio longa, e o álbum já é um dos mais vendidos e aclamados do ano, por toda sua conexão com o filme.

Além disso, o filme abriu espaço para projetos e discussões importantes. Com ele, surgiu o Desafio do Pantera Negra, que consistia em realizar doações e ajudas para que a maior quantidade possível de crianças periféricas pudessem assisti-lo nos cinemas. Além disso, é a maior bilheteria da história de um filme dirigido e roteirizado por artistas negros. Aliás, por falar em bilheterias...

Atualmente, com cerca de um mês e meio em exibição nos cinemas, Pantera Negra já é um dos maiores sucessos da história da Marvel Studios, arrebatando um lucro gigantesco nas bilheterias. Para se ter uma ideia, o filme passou Os Vingadores é a maior arrecadação de um filme de super-heróis nos Estados Unidos. No quadro geral mundial, ele é o terceiro do mundo, perdendo apenas para o primeiro filme dos Heróis Mais Poderosos da Terra e sua continuação.

Mas as curiosidades não param por aí. O longa conseguiu se manter como a maior bilheteria de cinco finais de semana seguidos, desbancando estreias como Uma Dobra no Tempo e Tomb Raider: A Origem. Além disso, em um comparativo, ele é o único filme do Universo Cinematográfico da Marvel a passar um bilhão de dólares nas bilheterias mundiais sem conter com a presença de Robert Downey Jr. (o Homem de Ferro) em seu elenco.

Por mais que o filme seja uma perfeição em diversos níveis, muitos fãs perceberam que há um grande problema trazido pela narrativa: não há como encaixar, de forma muito lógica, a cena pós-créditos de Capitão América: Guerra Civil na trama do filme, já que existe uma contradição cronológica aqui. O longa se inicia com T'Challa chegando em Wakanda após a Guerra Civil. Pouco tempo depois, ele parte para a Coréia do Sul, e quando volta, Shuri já faz menção ao "garoto branco quebrado", como uma referência a Bucky Barnes.

Com isso em mente, fica a pergunta: quando Steve Rogers e Bucky Barnes foram para Wakanda? Na cena pós-créditos do longa do Sentinela da Liberdade, vemos o Soldado Invernal sendo congelado, mas não há um encaixe lógico entre essa cena e a história do filme - a não ser que T'Challa tenha recebido uma visita secreta e omitida do longa logo quando retornou para sua nação.

Para aproveitar e relembrar todos os grandes clássicos do Universo Cinematográfico da Marvel enquanto se prepara para a aguardada estreia de Vingadores: Guerra Infinita, não deixe de conferir também nossas listas anteriores de bastidores dos filmes, que você confere clicando nos links abaixo:

• Homem de Ferro
• O Incrível Hulk
• Homem de Ferro 2
• Thor
• Capitão América: O Primeiro Vingador
• Os Vingadores
• Homem de Ferro 3
• Thor: O Mundo Sombrio
• Capitão América: O Soldado Invernal
• Guardiões da Galáxia