Há alguns atores que simplesmente nasceram para interpretar seus personagens, como Robert Downey Jr. como Homem de Ferro. Outro caso icônico que pode se juntar a essa lista é Benedict Cumberbatch. Na realidade, ele é tão próximo do papel do Mestre das Artes Místicas da Marvel que, durante o desenvolvimento inicial de Doutor Estranho, o estúdio o chamou para interpretar o personagem como primeira opção.

Contudo, na época, Cumberbatch estava com a agenda muito ocupada, devido ao seu papel em uma versão teatral de Hamlet. Nesse período, ele recusou o papel e o estúdio foi atrás de outros atores, como Joaquin Phoenix, Ethan Hawke, Jake Gyllenhaal, Oscar Isaac e Jared Leto. Porém, quando a data de lançamento do filme foi adiada de julho para novembro de 2016, o ator pôde encaixar as gravações em seu calendário e assinou o contrato para viver Stephen Strange.

Por mais que pareça ser um filme novo e ousado, Doutor Estranho já estava no planejamento da Marvel antes mesmo dela criar seu próprio estúdio. Desde 1992, vários nomes consagrados já estavam mexendo no projeto, como Wes Craven, David S. Goyer e até mesmo Guillermo del Toro. Mas o nome final escolhido foi o de um diretor relativamente desconhecido, famoso apenas por suas produções de horror.

Scott Derrickson pode não ter o mais brilhante dos currículos, mas se tem algo que o cineasta transborda é amor pelo personagem. Ele tirou do seu próprio bolso o dinheiro necessário para fazer uma grandiosa apresentação-teste de suas ideias para a Marvel, e isso convenceu o estúdio a contratá-lo para o cargo de diretor. Ele dedicou boa parte do seu tempo a criar um estilo único para o filme, desde o visual psicodélico à própria estética. Derrickson também ajudou na própria divulgação, compartilhando mensagens crípticas e misteriosas em suas redes sociais, que promoviam o lançamento do longa.

Diversidade e representação é um tópico recorrente - e necessário - em Hollywood, mas as pessoas estão adotando polarizações cada vez mais extremas, o que gerou uma baita polêmica a respeito dos bastidores de Doutor Estranho - em especial, a escalação de Tilda Swinton para viver a Anciã. De um lado, fãs mais puristas que condenaram a escalação de uma mulher para o papel do Ancião dos quadrinhos, e do outro, militantes que não gostaram da troca de etnia de um homem asiático para uma mulher branca.

A situação foi controversa, mas segundo o diretor Scott Derrickson, a ideia foi se livrar de vários clichês do gênero. Ele não queria replicar a ideia racista de "um mestre ancestral asiático", e optou por colocar uma mulher para trazer mais representação feminina. Vale lembrar que, mesmo com essa polêmica, Doutor Estranho é um dos filmes mais diversos da Marvel, trazendo personagens como Mordo (originalmente caucasiano nas HQs) e Wong, que teve um papel modificado para não ser apenas um servo asiático.

O filme tomou um rumo muito inesperado na construção de seu roteiro. Afinal de contas, o vilão escolhido por Scott Derrickson para o primeiro longa do herói foi Kaecilius, um personagem que, nas HQs, não passava de um lacaio que durou pouquíssimas edições. Aqui, no entanto, o cineasta buscou um nome de peso para interpretá-lo, e como resultado, contratou ninguém menos que Mads Mikkelsen, famoso por seu papel como Hannibal Lecter na série televisiva que carrega o nome do serial killer canibal.

Curiosamente, Mordo, que sempre foi categorizado como o maior feiticeiro rival de Stephen Strange, acabou ganhando um papel bem diferente, de aliado do herói - mas claro, isso deve mudar em continuações. É a primeira vez no UCM que estamos testemunhando uma história de origem simultânea do herói e do vilão de uma franquia. Vale lembrar que, para o papel de Mordo, vários atores foram considerados - dentre eles, Gary Oldman e o próprio Mads Mikkelsen.

Com destaque no filme, Rachel McAdams interpreta Christine Palmer, uma enfermeira especializada em super seres, e que já participou de O Juramento, uma história consagrada do Doutor Estranho. McAdams havia sido chamada anteriormente para interpretar Pepper Potts em Homem de Ferro, mas recusou por falta de fé em filmes de super-heróis. Ao ver a crescente popularidade desse tipo de longa, ela não pensou duas vezes ao aceitar o papel no filme do Mestre das Artes Místicas.

E isso, curiosamente, mostra que a atriz realmente tem um tipo de papel: o de interesse amoroso de algum viajante do tempo, conforme ela também já esteve em Te Amarei Para Sempre, de 2009; Meia-Noite em Paris, de 2011; e Questão de Tempo, de 2013. Ah, um detalhe que vale ser mencionado é que, na cena em que ela entra no armário de equipamento e se assusta com uma vassoura caindo, sua reação foi real, e não estava no roteiro.

Doutor Estranho é, sem a menor sombra de dúvidas, um dos filmes com o elenco mais estelar de todo o Universo Cinematográfico da Marvel, devido aos atores premiadíssimos que contém. Para se ter uma ideia cinco dos quatro membros do elenco central do filme - Tilda Swinton, Benedict Cumberbatch, Rachel McAdams e Chiwetel Ejiofor já foram indicados ao Oscar em categorias de atuação - dentre os quais, Swinton foi a única vencedora do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme Conduta de Risco.

Mas não pense que o talento do elenco se resume ao Oscar. Mads Mikkelsen foi indicado diversas vezes ao prêmio Zulu, um troféu entregue aos grandes atores na Dinamarca. Além deles, também temos no filme Michael Stuhlbarg e Benedict Wong, atrelados a diversas produções ganhadoras de vários prêmios.

Embora o filme tenha um vilão razoavelmente impressionante com Kaecilius, a verdadeira figura diabólica por trás de todo o antagonismo do longa é Dormammu, o maior inimigo do Doutor Estranho nas HQs. No filme, temos um dos confrontos mais criativos do "gênero" de super-heróis, conforme o Mestre das Artes Místicas precisa aprisionar a entidade mística em um loop temporal, para que eles possam fazer um pacto e Dormammu possa deixar a Terra em paz.

No entanto, o processo de escalação para o personagem foi bem complexo, já que precisariam de uma voz reconhecível e imponente para viver o Rei da Dimensão Negra. E durante um bom tempo, o estúdio considerou trazer Tony Todd, que fez apenas a voz de Zoom em The Flash. Contudo, no meio da produção, o próprio Benedict Cumberbatch se ofereceu para fazer a voz do vilão, e Scott Derrickson aceitou, dizendo que os dois são versões muito opostas do mesmo ser.

O filme traz uma série de participações especiais e personagens escondidos para quem é fã do Doutor Estranho ou do universo místico da Marvel. Por exemplo, temos o Dr. Nicodemus West, um personagem bem importante do arco O Juramento. Além dele, outro que faz uma participação no filme é Daniel Drumm, que nas HQs, é um feiticeiro haitiano e irmão do herói místico conhecido como Irmão Vodu.

Porém, uma participação inquietante acabou sendo cortada do filme. Trata-se de Tina Minoru, que aparece em alguns trailers e até mesmo na HQ prelúdio, que conta como cânone oficial do filme. Posteriormente, a mesma personagem apareceu em Fugitivos, a série da Marvel em parceria com a Hulu, mas não temos nenhuma referência ou relação com a aventura do herói místico, o que nos leva a crer que a Marvel Studios simplesmente desconsiderou a existência da personagem no filme.

Os planos iniciais do filme diferiram muito do que foi lançado nos cinemas, já que boa parte da trama (como de costume) não passou dos primeiros esboços do roteiro. Talvez a falta mais sentida venha de um dos inimigos clássicos do Doutor Estranho: o demônio conhecido como Pesadelo, que comanda sua própria dimensão dos sonhos. Scott Derrickson queria apresentá-lo nesse filme, mas o removeu da história por não querer que ele fosse desperdiçado com apenas uma breve introdução.

Por outro lado, havia toda uma cena inicial importante com Stephen Strange, na qual conheceríamos sua irmã, Donna. Nas HQs, Donna morre ainda criança, e isso motiva o personagem a estudar medicina. No filme, a atriz Lulu Wilson, de Annabelle 2: A Criação do Mal e Ouija: Origem do Mal chegou a gravar algumas cenas no papel, que foram cortadas na sala de edição.

Para a construção de mundo de Doutor Estranho, os criadores e a equipe de produção precisaram tecer várias referências e fazer pesquisas, criando um universo novo a partir de elementos inéditos no Universo Cinematográfico da Marvel. Por exemplo, para a representação de mundos alternativos e dimensões paralelas, a Marvel contratou Adam Frank, um astrofísico que pudesse explicar aos roteiristas como as dinâmicas da física quântica funcionariam. Ele chegou a fazer revisões inclusive em alguns diálogos.

Em termos de referências visuais e estéticas, o filme se inspirou em exemplos muito inusitados. O diretor de fotografia, Ben Davis, disse que a maior base do visual psicodélico do longa veio de Fantasia, a clássica animação musical de 1940, da Disney. Outros filmes que inspiraram o longa foram Matrix e a obra de Hayao Miyazaki e Stanley Kubrick. Até a trilha sonora foi influenciada pela música do reboot de Star Trek - ambas compostas por Michael Giacchino.

Para aproveitar e relembrar todos os grandes clássicos do Universo Cinematográfico da Marvel enquanto se prepara para a aguardada estreia de Vingadores: Guerra Infinita, não deixe de conferir também nossas listas anteriores de bastidores dos filmes, que você confere clicando nos links abaixo:

• Homem de Ferro
• O Incrível Hulk
• Homem de Ferro 2
• Thor
• Capitão América: O Primeiro Vingador
• Os Vingadores
• Homem de Ferro 3
• Thor: O Mundo Sombrio
• Capitão América: O Soldado Invernal
• Guardiões da Galáxia
• Vingadores: Era de Ultron
• Homem-Formiga
• Capitão América: Guerra Civil