Antes de mais nada, o filme precisa acertar em um ponto importante quando falamos de cinema e de personagens tão fortes e imponentes quanto a Mulher-Gato e a Hera Venenosa. O elenco precisa ser competente e à altura das personagens.

Mais do que isso, as atrizes escolhidas para interpretar as duas vilãs precisam ter tanto carisma e desenvoltura quanto Margot Robbie como Arlequina, para que não sejam "engolidas" pela performance da atriz. E como o filme não deve conter apenas as três, é também importante ter um elenco secundário forte, quem sabe com a participação de personagens já existentes nesse universo, como o Batman de Ben Affleck e a Amanda Waller de Viola Davis.

Ao mesmo tempo, por mais que o filme contenha novas personagens, sabemos que é uma produção que está sendo feita apenas com base na popularidade crescente da Arlequina. E considerando que o filme deve ter relação direta com Esquadrão Suicida, é necessário abordar um ponto para o qual muitos fãs torceram o nariz nesse ano: o Coringa de Jared Leto.

Mesmo que não apareça, o personagem precisa estar implicitamente presente na trama, servindo como uma peça do passado de Harley e que tenha a ajudado a escapar da prisão de Belle Reve. Seria uma boa, caso o ator aparecesse, tentar corrigir alguns problemas que irritaram os fãs. E é muito importante não fazer o marketing do filme em cima dele.

Um dos grandes erros de Esquadrão Suicida está na forma como o filme se segura em uma série de clichês de filmes de super-heróis, sendo um deles o épico clímax que tem, como aposta, o futuro do planeta e da humanidade. Nos quadrinhos, a equipe sempre teve histórias mais contidas e pessoais, e é o que faltou ser aplicado à trama.

Em Sereias, temos a chance de desenvolver mais profundamente a personalidade das três vilãs e sua relação como amigas, bem como seu papel em Gotham City. É importante saber lidar com a escala do evento, sem transformar um filme pequeno e pessoal em um evento grandioso e estridente.

Embora já tenha sido representada muitas vezes em diversas mídias diferentes - seja nas animações, games ou filmes -, a Mulher-Gato nunca teve uma versão "definitiva" (embora muitos apontem Michelle Pfeiffer, de Batman: O Retorno) fora dos quadrinhos. Por conta disso, é bem fácil criar algo novo e impactante para a personagem, sem depender demais de exemplos passados.

Entretanto, também é uma tarefa arriscada, tendo em vista a relação que Selina Kyle tem com o Batman e como isso deve fazer parte da trama do filme. É importante criar uma vilã tão imponente quanto suas versões anteriores, ao mesmo tempo em que ela possa se distanciar o suficiente e se tornar uma nova personagem adequada a esse novo Universo Estendido da DC Comics nos cinemas.

Se, por um lado, a Mulher-Gato teve boas versões em sua história nos cinemas - desconsiderando o filme estrelado por Halle Berry -, o mesmo não pode ser dito sobre a Hera Venenosa. A outra personagem inédita (nesse universo) do filme é relembrada pela terrível participação de Uma Thurman em Batman & Robin, o que não colabora para um histórico bom da vilã.

Entretanto, temos aqui a oportunidade de mudar essa história, criando uma vilã inteligente, sedutora e que não perca o charme da personagem nas HQs. Além disso, seria uma excelente ideia poder representar o romance entre ela e a Arlequina, uma vez que trata-se de um casal bem admirado pelos fãs - embora elas dividam poucas revistas juntas, amorosamente falando.

Em Esquadrão Suicida, vimos vilões agindo como heróis para poder derrotarem vilões. Em Sereias de Gotham City, essa dinâmica poderia ser revertida, para que possamos ver as vilãs realmente enfrentando heróis e heroínas, subvertendo o gênero para que os mocinhos possam ser vistos como antagonistas do filme.

Inclusive, essa é a chance perfeita de introduzir outro grupo popular dos quadrinhos: as Aves de Rapina. Compostas por algumas heroínas - e ocasionalmente, heróis - de Gotham City, a equipe tem, entre suas principais integrantes a Canário Negro, a Batgirl e a Caçadora. Só isso seria o suficiente para criar um ótimo conflito entre esses dois grupos, com direito a poderes e técnicas variadas, além de muito girl power.

Gotham City é um dos locais mais icônicos dos quadrinhos da DC Comics. A cidade do Batman é palco de crimes, corrupção e decadência humana, e já foi representada de formas diferentes fora dos quadrinhos. Desde a cidade gótica de Tim Burton, passando pelo carnaval de Joel Schumacher e chegando em uma versão noir estilizada por Christopher Nolan, a cidade funciona como um organismo vivo.

Aqui, temos a chance de ver, nos cinemas, como a podridão e a imundície de Gotham acontece através dos próprios bastidores. Além disso, podemos ter acesso a uma versão menos realista que a da série televisiva Gotham, o que pode render boas soluções visuais. E como o filme solo do Batman também deve se passar na cidade, é a oportunidade perfeita de conectar certos easter-eggs nos cenários e locais.

Já que começamos a falar do Cavaleiro das Trevas, vale a pena comentar qual o papel que o personagem deve ter no filme. Por mais que não apareça, o Batman tem uma presença óbvia: ele é inimigo das três protagonistas e já deve tê-las encontrado em suas patrulhas pela cidade.

Mais do que isso, ele é o fantasma de Gotham. A criatura que todos temem no escuro por sua justiça violenta e astuta. O filme tem que tomar cuidado para não se tornar um grande tie-in do filme solo do Batman, mas também tem que saber inserir a participação do herói de modo a torná-lo uma figura assustadora e necessária da perspectiva de suas protagonistas.

Um grande problema apontado pelos fãs em Esquadrão Suicida é como, na ânsia por humanizar seus personagens e torná-los mais identificáveis com o público, o filme acaba esquecendo o fato de que todos os membros da equipe são vilões, e no fim, acaba parecendo que todos ali são "heróis que tiveram um dia ruim".

Ainda que humanização seja algo importante para criar empatia entre o público e os personagens, os filmes precisam adentrar melhor na essência de suas figuras. Com Sereias, esperamos que a Warner se lembre de que, por mais bem-intencionadas que possam estar, Arlequina, Hera Venenosa e Mulher-Gato são, acima de tudo, vilãs.

Se você leu até aqui, sabe que a maior parte da lista compartilha de uma ideia em comum: evitar os mesmos erros de Esquadrão Suicida. E isso é a principal coisa que o spin-off deve fazer certo: aprender com os erros do seu "filme originário" e buscar saídas que possam dar aos fãs a sensação de ratificação.

Com David Ayer na direção, a Warner precisa parar de cortar o trabalho do diretor para adequar o filme à lógica mercadológica da bilheteria e das edições estendidas. Além disso, precisamos nos importar de verdade com as personagens, ao invés do que aconteceu no filme de 2016. E mais que isso tudo, o marketing do filme não pode vendê-lo diferente do que ele de fato é.