Nos seis filmes da franquia central dos X-Men - e nos quatro spin-offs que os acompanham -, sempre vimos a história narrada do ponto de vista de mutantes - ou pessoas super-poderosas, como em Deadpool. Prestes a ser lançada em outubro, The Gifted deve mudar um pouco essa convenção.

A ideia aqui é trazer os pais de dois adolescentes mutantes como protagonistas da série. E é isso que queremos, uma abordagem pelo ponto de vista de seres humanos "comuns", enquanto eles sentem o peso do mundo cair sobre seus ombros quando sua família é posta em perigo. Além disso, será interessante ver como esses personagens irão lidar com seus próprios preconceitos na série. E por falar em preconceito...

A franquia mutante nos cinemas sempre abordou a temática do preconceito pelos homo superior de uma forma bem clara. Contudo, ainda não tivemos o mesmo espaço que os quadrinhos têm para debater esse tipo de tema. Nos cinemas, a figura preconceituosa sempre foi um militar de alta patente ou o governo.

Com The Gifted, a franquia pode buscar novas formas de retratar a perseguição sofrida por mutantes - como analogia à perseguição sofrida por grupos minoritários na vida real. Aqui, podemos pegar referências de Deus Ama, o Homem Mata e trazer intolerância religiosa, ou mostrar como o preconceito afeta famílias - de uma forma ainda mais agressiva do que em X-Men 2, por exemplo.

Mais do que tudo, The Gifted está sendo vendida quase como uma road trip de uma família. Após descobrirem que seus filhos Lauren e Andy são mutantes, o casal Reed e Caitlin foge para salvá-los dos "Serviços Sentinelas", que caçam os heróis ao redor do mundo. No caminho, eles conhecem uma resistência mutante composta por Blink, Polaris, Eclipse e Pássaro Trovejante.

A série poderia se intensificar nesse sentido, trazendo seus personagens fugindo por todo o país para escaparem de seus captores. Isso traria algo novo para a trama dentro do Universo dos X-Men e permitiria ao público e aos personagens conhecerem novos locais dentro ou fora dos Estados Unidos.

Não. The Gifted definitivamente não é sobre super-heróis. É sobre uma família e esperamos que ela se mantenha assim. É muito fácil cair no clichê de "pessoas super-poderosas salvando o mundo", mas até agora, o que a série nos está mostrando são pessoas super-poderosas tentando salvar a elas mesmas.

E é isso que a série precisa investir. Apesar de trazer personagens icônicos dos quadrinhos como Polaris e Blink, queremos vê-las agindo mais como resistência do que como heróis. É preciso mostrar uma narrativa onde esses personagens são tão humanizados a ponto de não serem mocinhos ou vilões e estarem apenas lutando pelas suas próprias vidas.

Um dos elementos mais importantes dos quadrinhos que estará presente na série são os Sentinelas, que já fizeram sua aparição nos filmes em X-Men: O Confronto Final, Dias de um Futuro Esquecido e Apocalipse. Dessa vez, as criações de Bolivar Trask estão bem diferentes e, pelos trailers, só pudemos ver criaturas robóticas menores.

E embora seja interessante ver essas novas versões de Sentinelas, gostaríamos de ver, pelo menos em um episódio, os robôs humanoides gigantes que já vimos nos filmes. Quem sabe, caso se situe adequadamente na cronologia - falaremos disso depois - a série poderia inclusive mostrar uma "transição" para o futuro distópico de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido.

Pois bem. Sabemos que os X-Men e a Irmandade de Mutantes existem nesse mundo. Também veremos personagens que já estiveram nos filmes - Blink - ou que têm conexões com personagens que já apareceram - Polaris, Pássaro Trovejante. Com isso, é importante que a série ao menos tente se encaixar minimamente entre os eventos dos longas-metragens.

Uma ideia - que já mencionei no item anterior - é fazer com que a série mostre o prelúdio do futuro distópico visto em Dias de um Futuro Esquecido. Isso justificaria a participação de Blink e daria um maior sentido à evolução dos Sentinelas, além de tornar a cronologia do Universo dos X-Men menos confusa e desconjuntada.

Nos quadrinhos, Polaris tem poderes que permitem com que ela controle metais e campos magnéticos. Evidentemente, isso é parte de sua herança genética, já que ela é filha de ninguém menos que Magneto. Na série, não sabemos se isso também será adaptado, mas seria definitivamente interessante.

Não precisamos de uma participação especial, necessariamente, mas uma menção a isso seria bem-aceita pelos fãs. Apesar disso, queremos vê-la usando seus poderes de uma forma um tanto quanto diferente de Magneto, até para que ela possa ganhar sua própria personalidade e habilidades individuais.

Contradizendo um pouco o que disse no item anterior... nós queremos participações especiais de outros mutantes e personagens na série. Em vez de trazer à frente os grandes nomes, como Xavier e Magneto, seria melhor ver personagens menos importantes, mas que têm relevância dentro da saga. Talvez Mercúrio pudesse servir como boa fonte de ligação entre Polaris e seu pai.

Apesar disso, muito provavelmente jamais veremos participações importantes na série, já que limitações orçamentárias e contratos podem ser um problema. Ainda assim, seria legal ver personagens dos filmes. E já que isso não deve acontecer, é a oportunidade ideal para apresentar mais personagens dos quadrinhos de forma decente.

Os X-Men sempre foram parâmetro para a vida e a liberdade mutante nesse universo. Não é à toa que todos os spin-off da franquia, sem exceções, fazem menções ao grupo. Aqui não é diferente, mas há uma mudança principal de foco. Dessa vez, veremos um mundo sem X-Men.

E é isso que a série poderia abordar de maneira mais delicada: a existência do legado de Charles Xavier e sua escola, porém, sem sua presença. Queremos ver como outros mutantes e grupos super-poderosos vivem em um mundo sem o conforto da presença dos Filhos do Átomo, ao mesmo tempo em que vemos como eles são motivados pela história da equipe.

Por fim, resta falar da série que arrancou aplausos do público no início do ano. Legião foi a primeira parceria entre Marvel Television e Fox, e já tem sua segunda temporada garantida. E embora a série se passe em um período temporal aparentemente muito anterior a The Gifted, uma conexão não seria ruim.

Isso ajudaria a estabelecer Legião na cronologia, já que a série parece estar à deriva dos outros filmes, ao mesmo tempo que garantiria um maior sentimento de "universo compartilhado" para esse novo núcleo televisivo. Quem sabe, podemos ver algum personagem da série dando as caras em sua "irmã".