A história é dividida entre três espécies principais: humanos, anjos e quimeras. As Quimeras, diferente do que é descrito na mitologia grega, são a combinação de diversas criaturas, e não apenas leão, cabra e serpente. Isso resulta em sub-espécies que são visualmente incríveis. Fora que, além das aparências diferentes, cada quimera possui uma série de habilidades.

Essa mistura gera uma mitologia particular, que se torna ainda mais interessante quando levamos em conta a trama envolvente e interessante criada pela escritora.

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A prova de que a mitologia do livro é diferente do que estamos acostumados é que, por mais que os anjos possuam uma papel importante na trama, eles não são nada cristãos. Isso mesmo: ainda que Serafins estejam presentes na história de Karou, a protagonista do livro, eles não sofrem da influência de moral e demais aspectos tradicionais aos anjos cristãs.

Além disso, os Deuses e mitos que inspiraram a história não são baseados em uma única religião ou cultura específica, mas sim na mistura de vários deles.

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E é justamente por não ser baseado na mitologia cristã que os anjos não são descritos como figuras puras, justas e angelicais. Na verdade, por acompanharmos a história do ponto de vista de Karou, eles acabam sendo os vilões da história - e são representados como guerreiros perigosos e impiedosos.

Isso, no entanto, não significa que as quimeras são boazinhas ou justas. Não existem heróis ou vilões bem definidos nesta trilogia. Todo mundo é capaz de ser sanguinário e cruel ou misericordioso e bondoso.

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Até porque a trilogia é sobre a guerra entre esses dois povos, os anjos e a quimeras. Assim, sendo uma guerra pela sobrevivência de uma espécie, existe pouco espaço para alegria ou misericórdia. Na maior parte da história temos um cenário de miséria, dor e sangue, com pouco conforto, alegria ou prazeres.

Além disso, em diversos momentos acompanhamos cenas horríveis e brutais, muitas delas injustas, mostrando como a guerra é capaz de trazer à tona o pior de cada pessoa.

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Mas é claro que existe uma história romântica improvável acontecendo ali, afinal não dá pra fugir de todos os clichês... Assim temos Karou, que está diretamente associadas aos Quimeras, se descobrindo em um romance - que ela não entende muito bem ainda - com Akiva, o anjo conhecido como “Ruína das Feras” justamente pela quantidade de quimeras que ele já exterminou.

A grande diferença dessa trilogia para os outros romances juvenis é que o romance não é a trama principal da história. Ainda que ele exista e que, em alguns momentos, tenhamos momentos fofos e angustiante entre os dois, a história continua sendo sobre a guerra entre as espécies.

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Outra diferença entre a maioria dos romances juvenis com criaturas mágicas é que Karou, a protagonista da história, não é uma mocinha indefesa. Ela não é uma donzela que precisa ser salva por um guerreiro, ela não fica se lamentando por causa do amor. Seu foco principal é a guerra - e o povo Quimera - e ela possui um papel muito importante nisso.

Por outro lado, Karou também não é overpower, ou seja, ela também não é uma Katniss da vida que conseguia fazer tudo praticamente sozinha em Jogos Vorazes. Ela possui limitações e precisa aprender a lidar com isso, o que faz com que a personagem seja muito mais agradável para os leitores.

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Quando uma história tem criaturas sobrenaturais, ou seja, seres com poderes mágicos e diversas habilidades especiais, é comum que os humanos acabem sendo relegados ao papel de “alívio cômico” ou “personagem irritante que só atrapalha”. Isso, como vocês já devem imaginar, não é o que acontece com a trilogia Feita de Fumaça e Osso.

Mik e Zuzana, os dois personagens 100% humanos e sem poderes especiais da trama, não são inúteis e definitivamente não estão ali apenas para fazer piadas. Ainda que a presença deles sirva para aliviar um pouco da tensão da trilogia, os dois são importantes para a história e conseguem se virar sozinhos.

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Falemos agora um pouco de cada livro dessa trilogia. Feita de Fumaça e Osso introduz o leitor nesse mundo louco de anjos e quimeras sem pressa, fazendo com que as pistas sejam reveladas pouco a pouco mas sem que isso signifique uma trama arrastada.

Bem mais leve do que os outros livros da trilogia, ele é focado nas descobertas de Karou, a humana de cabelos naturalmente azulados e que possui olhos tatuados nas palmas das mãos, que finalmente entende porque ela precisa viajar o mundo todo em busca de dentes para Brimstone, a quimera que age como sua figura paterna.

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Acontece que, por mais leve que o primeiro livro seja, ele termina com uma situação extremamente violenta que abala toda a vida de Karou, algo que obviamente não falarei aqui porque é um spoiler que atrapalha a leitura.

Assim, em Dias de Sangue e Estrelas, o segundo livro dessa aventura, vemos as consequências sombrias e amargas que o primeiro livro trouxe para Karou, que de uma humana incomum se torna a última esperança para a causa das quimeras. Todo o bom humor da protagonista é substituído por medo, angústia e tristeza o que combina perfeitamente bem com a história desse livro que é totalmente focado na selvageria e horror da guerra entre os Anjos e Quimeras.

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Sonhos de Deuses e Monstros, o último livro dessa trilogia, continua mostrando os horrores da guerra - agora em sua etapa final - mas consegue retomar um pouco da esperança e leveza que existia no primeiro livro.

Introduzindo novos personagens, que são importantes para explicar alguns conceitos importantes da história, o último livro da saga consegue concluir a trama principal de uma maneira incrível, garantindo que os personagens principais tenham o destaque que merecem, mesmo com toda a tensão da guerra e as reviravoltas - que são os pontos principais desse livro.

E ai, bora dar uma chance para essa trilogia?

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