[Review] Split Fiction impressiona com nostalgia, referências e inovação genuína

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[Review] Split Fiction impressiona com nostalgia, referências e inovação genuína

Por Márcio Jangarélli

Se no passado o charme de jogar videogame com os amigos, com tela dividida em uma TV de tubo pequena, poucos recursos, mas muita euforia e desafio, era algo integral da cultura gamer, esse aspecto dos jogos foi perdido por um tempo devido ao avanço tecnológico. Por que criar uma experiência restrita em número de players, espaço e jogabilidade se você pode oferecer uma infinidade de interações online, party games que se integram com livestreams e jogos multiplayer que não precisam dividir molde algum?

Você encontra uma resposta magnânima sobre a importância desse tipo de game nos títulos da Hazelight Studios, mas, principalmente, no recém-lançado e verdadeiramente impressionante Split Fiction.

Ficha Técnica

Título: Split Fiction

 

Data de lançamento: 6 de Março de 2025

 

Desenvolvedora: Hazelight Studios

 

Distribuidora: EA Games

 

Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X / S e PC

 

Modo: Multiplayer

 

Gêneros: Ação e Aventura, Plataforma

 

Tradução PT/BR: Sim

Márcio / Mio / PS5

Talvez a chave para o sucesso do formato de Split Fiction, que a Hazelight domina tão bem, seja exatamente a limitação da jogabilidade e a troca de competitividade por colaboração; o estúdio sabe exatamente o tipo de projeto que quer executar e não tenta moldá-lo em algo mais palatável para atingir todos os públicos. Afinal, se o título é bom o bastante (e esse vai muito, muito além de bom) você vai captar exatamente a atenção que precisa. Então, assim como no premiado It Takes Two, o novo game exige exatamente uma dupla, seja local ou online, que dividirá a tela e toda a experiência, dependerá um do outro o tempo todo e irá, com toda certeza, vibrar com a qualidade da aventura juntos.

Recebemos Split Fiction da EA para teste e dividi essa experiência com meu amigo querido e editor-chefe da Legião, Chris Rantin, que dará uma palavrinha mais adiante sobre o game. Falando sobre isso, é importante ressaltar o quão incrível é o sistema de passe de amigo do game: ainda que o título exija outro player e pareça completamente justo oferecerem uma chave extra, multiplataforma, para outra pessoa jogar contigo, sabemos bem que não é assim que a indústria funciona geralmente. E, além de multiplataforma, o jogo também funciona com crossplay (o que aconteceu no nosso caso) realmente permitindo que essa experiência seja compartilhada por qualquer dupla disposta. Sensacional, não?

O que atrai nessa proposta, no entanto, não é só a nostalgia, mas o resgate e evolução magistral de um estilo muito único de gameplay. Não é a mesma coisa de você jogar um hero shooter ou um party game com os amigos; a limitação entre dois players e a codependência de jogabilidade abre portas para possibilidades surreais de estilo, mecânica e design. Split Fiction brilha em praticamente todas as frontes com o sentimento familiar de algo que não sabíamos que tínhamos saudades, mesclando, ao mesmo tempo, o tipo de inovação que te deixa boquiaberto, clamando “jogo do ano” a cada capítulo.

Esse é um game que homenageia uma fatia da indústria gamer que geralmente não recebe tanto carinho (plataformas, sidescrollers, esportes radicais e afins) e, como estamos falando de autoras e criatividade, todo tipo de titã da cultura pop. Você tem fases de plataforma 2D, 3D, ação, aventura e flertes com o suspense; às vezes essas coisas se misturam na mesma área, outras você tem tomadas mais artísticas, quebras da quarta parede, momentos absolutamente bizarros e até algumas situações saídas diretamente de uma produção Hideo Kojima.

Mais importante: tudo isso feito de uma forma que impressiona, mas não sobrecarrega – que demonstra a potência do jogo e seus criadores, mas não torna as coisas confusas ou enfadonhas para o jogador. É realmente um feito notável você passar pela experiência de caçar mafiosos cyberpunk no mesmo jogo em que sua personagem vira uma salsicha pronta para ser devorada e isso fazer todo sentido de alguma maneira.

Porém, o que impede Split Fiction de ser algo verdadeiramente imbatível é o roteiro. Embora seja um primor técnico em todas as áreas, ouse mais do que qualquer game recente em diferentes tipos de estilo artístico e gameplay, entregue ótimos gráficos e trilha sonora, a jornada de Mio e Zoe não convence tão bem quanto deveria.

Vou deixar o Chris explicar melhor nossa opinião sobre isso.

Chris / Zoe / PC

Mesmo que conte com uma gameplay ousada e corajosa, o mesmo não pode ser dito da narrativa de Split Fiction. A história do jogo demora para engatar e se sustenta numa série de conveniências pouco criativas, pegando duas protagonistas interessantes e as transformando em caricaturas rasas: Mio, apaixonada por ficção científica, tem uma personalidade marrenta e sombria; Zoe, por sua vez, é a escritora de fantasia que se comporta como uma criança e é infantilizada ao longo de todo o jogo. 

Parece que os criadores do jogo queriam fazer alguma piada com os gêneros literários e, no fim, acabaram apenas escrevendo duas mulheres adultas sem nenhuma profundidade pela maior parte do game. Afinal de contas, para personagens que sonham em ser escritoras, Mio e Zoe parecem desconhecer do básico da profissão que almejam, arrotando tanto senso comum ao ponto de parecer que nenhuma das duas leram qualquer tipo de livro nas suas vidas. 

Quando concluímos a campanha, fica claro que não faltava potencial para desenvolver Mio e Zoe como personagens cativantes, visto que suas histórias pessoais são profundas e traumáticas, justificando algumas dificuldades que elas apresentaram ao longo de todo o game. O problema é que isso acontece tarde demais para ter algum efeito.

Ainda que arrisque críticas bem atuais contra o uso desregulado de IA — muito bem retratado como uma máquina que rouba ideias e o trabalho feito por humanos em nome de uma empresa que visa apenas o lucro — Split Fiction falha em trabalhar as ideias de Mio e Zoe de uma forma digna, fazendo parecer que elas realmente eram inferiores diante do poder da máquina, algo que é reforçado pelo fato de que é a experiência com a IA que resulta no primeiro livro publicado da dupla.

Assim, fica claro que Split Fiction investiu toda sua atenção na criação de uma gameplay espetacular, mas a lore do jogo não acompanhou esses avanços. Uma pena. 

Desse modo, Split Fiction é um game impressionante, candidato adiantado à jogo do ano de 2026, mas tem suas falhas e não convence tão bem na narrativa quanto seu antecessor (It Takes Two) ou quanto seu potencial pede. Isso acaba não afetando o entretenimento geral do título, mas causa frustração e pode incomodar um pouquinho, especialmente quando alguns desses tópicos narrativos partem de extremo senso comum.

 

A experiência criada pela Hazelight é épica, uma homenagem a estilos gamers menos celebrados, com adição de todo tipo de referência interessante, identidade artística marcante e ousada, culminando em uma aventura divertidíssima e inesquecível para ser vivida em conjunto com seu melhor amigo ou qualquer pessoa querida na sua vida. Pode não ter a história mais cativante, mas todos os outros pontos estão no máximo.

 

Assim, Split Fiction leva nota 8,5 da Legião dos Heróis. Inesquecível, explosivo e único.

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