[Crítica] Demolidor: Renascido – Primeira Temporada continua o legado primoroso da série da Netflix
[Crítica] Demolidor: Renascido – Primeira Temporada continua o legado primoroso da série da Netflix
Nova série do Homem Sem Medo entrega trama de qualidade e atuações fenomenais
Quando Demolidor foi cancelada na Netflix, os fãs do Homem Sem Medo foram pegos de surpresa. Foram anos de campanha clamando para que Charlie Cox tivesse mais uma chance como Matt Murdock e, depois de uma espera torturante, isso finalmente aconteceu. Depois de aparições especiais por todo o MCU — chegando de mansinho em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, brilhando em Mulher-Hulk e mostrando toda sua brutalidade em Echo –, finalmente é chegada a hora do grande herói de Hell’s Kitchen assumir o protagonismo de sua própria história.
Em nome da Legião recebi a primeira temporada completa de Demolidor: Renascido e posso dizer que estou muito feliz com o retorno de Matt e Wilson Fisk em uma nova aventura insana e surpreendentemente profunda.
Título: Demolidor: Renascido
Direção: Justin Benson, Aaron Moorhead
Roteiro: Matt Corman, Chris Ord, Dario Scardapane
Data de lançamento: 04 de março de 2025
País de origem: Estados Unidos
Sinopse: Em Demolidor: Renascido, Murdock (Charlie Cox), um advogado cego com sentidos aguçados, luta por justiça em seu movimentado escritório de advocacia, enquanto o ex-chefe da máfia Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) persegue seus próprios interesses políticos em Nova York. Quando suas identidades passadas começar a vir à tona, os dois homens se encontram em uma inevitável rota de colisão.
Demolidor: Quarta Temporada
O começo de Demolidor: Renascido me pegou de surpresa. Ainda que comentários indicassem que a série fosse continuar o que vimos na produção da Netflix, depois de tanto tempo — e tantos cameos pelo MCU — achei que isso não seria quase literal. De muitas formas Renascido não parece uma série nova, mas sim uma quarta temporada do projeto cancelado.
Em um primeiro momento isso é demérito do projeto, especialmente por toda a bagunça que envolve Demolidor, do cancelamento até a troca de streaming e a bravata de afirmar que o antigo seriado não era parte do MCU de fato. Sendo assim, é bastante esquisito começar a série e se sentir perdido por não lembrar do que aconteceu na terceira temporada, lançada sete anos atrás, em 2018.
Acredito que uma recapitulação no início do episódio já pode resolver esse problema, ainda que esse recurso não estivesse disponível no screener enviado à imprensa.
No entanto, quando o estranhamento passa, lembramos que houve um ótimo motivo para a reação acalorada dos fãs diante do cancelamento da série da Netflix. Ela era muito boa e, sendo assim, não é nada ruim ter algo que continue esse legado fenomenal que nos foi apresentado.
Rei do Crime e Demolidor dois lados da mesma moeda
O que temos nessa série é uma história madura e muito interessante, que coloca Matt Murdock e Wilson Fisk como protagonistas de uma jornada peculiar. Ao longo dos nove episódios vemos os dois personagens, por mais diferentes que sejam, passando por arcos semelhantes e com resultados parecidos — ainda que moralmente opostos.
O resultado disso é uma narrativa absurdamente envolvente que deixa o público curioso e tenso, conforme vemos Demolidor e Rei do Crime tendo que lidar com as adversidades que surgem em seus caminhos, numa trama que vai crescendo cada vez mais na sua insanidade.
O fio central que guia ambos os personagens pela temporada é um questionamento bastante simples: há justiça no mundo? E as respostas que encontramos são fascinantes, especialmente pela forma que cada personagem decide agir a partir de suas visões distorcidas sobre isso.
Episódio após episódio vemos tanto Matt quanto Fisk ficando cada vez mais cansados e acuados de tentar se manter mais comedidos. E resultados peculiares surgem quando um animal selvagem é encurralado, seja por inimigos, pelo sistema ou simplesmente pelo caos da vida.
A narrativa de Demolidor: Renascido toma seu tempo para fazer os personagens chegarem ao seu limite e é um espetáculo poder rever Charlie Cox e Vincent D’onofrio entregarem performances impactantes ao longo dessa temporada.
Tramas soltas e sem impacto
No entanto, se a jornada de Matt e Fisk são o ponto alto da série, o mesmo não pode ser dito de certas tramas secundárias, como é o caso do Tigre Branco e Muse. Deixadas de lado até o momento em que o arco do Rei do Crime ou do Demolidor demandam esses pontos narrativos para que suas próprias histórias avancem, temos tramas que perdem seu brilho e deixam de impactar a narrativa como deveriam.
Personagens secundários assumem um papel quase de figuração, sendo encaixados na trama apenas para um diálogo bonitinho e bastante expositivo que serve para marcar a jornada de Matt ou Fisk. Antagonistas surgem e somem de forma inconstante, fazendo com que suas aparições deixem de impressionar. Grandes revelações se tornam apenas algo monótono pela demora para que elas fossem bem amarradas com a trama principal.
É claro que é fácil ignorar esses pontos negativos diante da jornada de Fisk e Matt, especialmente quando tudo é pontuado com sequências de ação absolutamente brutais de tirar o fôlego, mas não deixa de ser um desperdício de potencial do que poderia ter sido utilizado para entregar uma temporada ainda mais potente.
Violência potente
Desde sua estreia na Netflix, Demolidor foi responsável por revolucionar a forma que sequências de ação e violência eram retratadas em obras de heróis na Marvel. Fico feliz em dizer que a série mantém o nível nesse quesito, mesmo sendo parte do MCU.
Ao longo dos episódios testemunhamos diversas cenas de violência que são bem colocadas na trama. Com coreografias ousadas e muitos ossos quebrados, vemos a selvageria humana de uma forma que corrobora com o arco dos personagens, o que deixa a pancadaria ainda mais satisfatória, mesmo quando ela resulta em verdadeiros banhos de sangue — algo que parecia impossível alguns anos atrás no universo controlado pela Disney.
Surpreendentemente ousado
Apesar de ter inúmeros projetos fenomenais em sua franquia, o MCU sempre foi muito criticado pela forma que abordava assuntos mais espinhosos e delicados. Há de se lembrar, por exemplo, que a luta contra o alcoolismo do Homem de Ferro, um dos arcos mais dramáticos do personagem, foi reduzida para um simples alívio cômico rapidamente contornado.
Dessa forma, projetos paralelos ao MCU eram reconhecidos por sua ousadia de colocar o dedo na ferida sem medo de represálias. Manto e Adaga discutia racismo, violência policial, tráfico sexual e muitos outros assuntos tidos como tabu para a maioria das obras da Marvel; Jessica Jones falava abertamente sobre abuso sexual e psicológico, vício em substâncias e traumas; e Luke Cage criava uma narrativa bem interessante sobre racismo, desigualdade e como isso resultava em violência.
Uma preocupação que tive com a nova série do Demolidor sendo parte do MCU era de que sua narrativa, sempre muito precisa em criticar corrupção e injustiças, acabasse tendo um tom mais brando e comedido. Que a discussão ganhasse contornos maniqueístas de bem absoluto versus mal absoluto, sem nenhuma nuance ou profundidade.
Felizmente esse não foi o caso. Demolidor: Renascido é surpreendentemente ousado na forma como critica o mundo, questionando a forma que o sistema é utilizado para punir os vulneráveis enquanto enriquece ainda mais a elite; denunciando a violência policial que é validada pelo Estado e, dessa forma, se torna uma máquina de moer gente sem nenhuma consequência; e mostrando que, no fim das contas, é muito mais difícil acreditar na luta heroica do bem contra o mal quando retomamos o questionamento: há justiça no mundo?
Em suma, apesar de deixar a desejar com os personagens secundários e a forma como essas tramas avançam, Demolidor: Renascido entrega uma história profunda, violenta e deliciosa de assistir.
Vincent D’onofrio e Charlie Cox se solidificam como as versões absolutas do Rei do Crime e do Demolidor por conta de suas performances potentes e, também, pelo arco narrativo envolvente e profundo que é trabalhado nessa temporada.
Deixando um gostinho de quero muito mais na boca, Demolidor: Renascido vai agradar aqueles que estavam com saudade do Homem Sem Medo e os saudosos fãs da produção da Netflix.
O núcleo urbano do MCU fica cada vez mais interessante e, sendo assim, fica nosso apelo para que tenhamos mais projetos do gênero, apesar do escopo cósmico e grandioso do Universo Cinematográfico da Marvel.
Levando tudo isso em consideração, a primeira temporada de Demolidor: Renascido leva quatro estrelas da Legião.
Demolidor: Renascido estreia nesta terça-feira (4) no Disney+.
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