Crítica – Capitão América: Admirável Mundo Novo consolida Anthony Mackie como o herói mas filme tem pouco a dizer

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Crítica – Capitão América: Admirável Mundo Novo consolida Anthony Mackie como o herói mas filme tem pouco a dizer

Por Jaqueline Sousa

Se Aldous Huxley usou o seu Admirável Mundo Novo para fazer uma das críticas mais conhecidas e aclamadas da literatura ao totalitarismo e ao otimismo diante da falsa sensação de progresso, Capitão América: Admirável Mundo Novo tenta seguir esses passos aos trancos e barrancos. Primeiro lançamento do Universo Cinematográfico da Marvel em 2025, o longa dirigido por Julius Onah (O Paradoxo Cloverfield) herdou a difícil tarefa de recuperar o prestígio da era de ouro do estúdio de Kevin Feige, que parece estar perdida em si mesma desde o encerramento da Saga do Infinito.

Por um lado, o quarto filme do Capitão América consolida Anthony Mackie como o herói após a saída de Chris Evans, abrindo espaço para que Sam Wilson empunhe o escudo vermelho e azul à sua própria maneira em uma trama mais séria e sistemática, com uma ação mais corpo a corpo. Por outro, o longa sugere uma ideia de “recomeço” para o novo Capitão, mas a preocupação em amarrar as pontas soltas do passado acaba atrapalhando um desenvolvimento mais aprofundado do herói, mergulhando em clichês do gênero para navegar pelo caminho mais seguro e confortável.

Ficha técnica

Título: Capitão América – Admirável Mundo Novo

 

Direção: Julius Onah

 

Roteiro: Rob Edwards , Malcolm Spellman, Dalan Musson, Julius Onah e Peter Glanz

 

Data de lançamento: 13 de fevereiro de 2024

 

País de origem: Estados Unidos da América

 

Duração: 1h 58min

 

Sinopse: Após a eleição de Thaddeus Ross como presidente dos Estados Unidos, Sam Wilson se encontra no meio de um incidente internacional e deve agir rapidamente para impedir a execução de um plano global nefasto.

Pôster de Capitão América: Admirável Mundo Novo.

Novo Capitão América, novo mundo

Com o escudo do Capitão América em mãos, Sam Wilson (Anthony Mackie) saiu de Falcão e o Soldado Invernal (2021) pronto para reafirmar sua posição como um herói forte e determinado. Agora já acostumado com seu novo uniforme, Wilson conta com a ajuda de seu parceiro Joaquin Torres (Danny Ramirez), que assumiu o manto do Falcão, para concluir uma missão cujo objetivo é recuperar um carregamento que foi roubado por um grupo criminoso.

Contudo, como nada é tão simples quanto parece, o Capitão acaba descobrindo que há um segredo maléfico por trás do roubo depois que um incidente internacional envolvendo Thaddeus Ross (Harrison Ford), recém-eleito presidente dos Estados Unidos, coloca-o no meio de uma conspiração que pode ameaçar a paz da humanidade.

Capitão América: Admirável Mundo Novo, o herói se envolve em um incidente internacional que pode ameaçar o futuro do mundo.

Seguindo os passos de Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014), Admirável Mundo Novo é, em certa medida, um retorno da Marvel às origens. Com uma estrutura clássica do gênero nos quadrinhos, o longa remete a O Incrível Hulk (2008) para explorar uma trama política envolvendo o presidente dos EUA e Sam Wilson, resgatando ideias apresentadas em Capitão América: Guerra Civil (2016) para tratar novamente dos limites da relação entre as autoridades governamentais e os super-heróis.

Para isso, o quarto longa do Capitão América aposta no thriller político usando uma medida de altos e baixos entre Wilson e Ross, sendo que este último deseja firmar uma parceria inusitada com o herói para, de alguma maneira, redimir-se consigo mesmo, com a filha que o despreza e com o resto do mundo.

Graças a uma boa dinâmica entre Mackie e Harrison Ford – que mostra ao longo das duas horas de duração do filme toda sua imponência como o ícone da cultura pop que é –, essa parceria é um ponto de destaque na produção, que dialoga o tempo todo com o atual cenário político nos Estados Unidos após a eleição de Donald Trump.

Filme tem boa dinâmica entre Anthony Mackie e Harrison Ford, fazendo acenos não intencionais ao atual governo dos EUA.

Mas o foco na intriga internacional de cunho político não perde espaço para as cenas de ação. Destaque do novo filme do herói, as sequências são um tanto quanto mal executadas visualmente, mas a aposta do filme em algo mais corporal consegue recuperar o fôlego em alguns momentos. Aqui, o uniforme do Capitão América é um elemento crucial para dar mais dinamismo às cenas, e o diretor Julius Onah faz o que pode para driblar as limitações da computação gráfica sem que tudo pareça tão truncado.

Além disso, pela primeira vez em muito tempo, é até possível dizer que a Marvel deixou um pouco de lado o grande “vem aí” (embora acenos ao futuro do estúdio existam) e o apego às participações especiais em demasia para apresentar devidamente ao mundo o novo Capitão América. Mas isso não é o bastante para que Admirável Mundo Novo nade em águas mais profundas, já que o filme opta pela segurança da superficialidade para evitar se comprometer.

O futuro favorece os corajosos (será, Marvel?)

Não chega a ser exatamente uma surpresa, mas Capitão América: Admirável Mundo Novo tem a mesma falta de entusiasmo visual que outros longas da franquia, como Deadpool & Wolverine e As Marvels, possuem. O apego constante ao realismo não é algo novo no gênero desde que Christopher Nolan mudou as regras do jogo com a trilogia do Cavaleiro das Trevas, e a Marvel vem mostrando que não parece muito interessada em mudar isso. O recado está mais do que dado.

No caso de Admirável Mundo Novo, porém, esse realismo de baixa saturação e quase nada inventivo até conversa com o tom da trama, que, embora tenha seus momentos de alívio cômico com os comentários do carismático Joaquin Torres, faz o possível para levar seriedade ao desenvolvimento da narrativa política. O problema é que a combinação das duas coisas acaba evidenciando ainda mais a superficialidade do conjunto da obra, que funciona mais como uma colcha de retalhos para dar explicações do que ousar seguir seu próprio caminho.

Quarto filme do Capitão América tem desenvolvimento superficial para explicar coisas do passado da franquia.

Mesmo fazendo acenos não intencionais ao atual presidente dos EUA através de uma ótima atuação de Harrison Ford como o tempestivo Thaddeus Ross, Admirável Mundo Novo está mais preocupado em explicar pontas soltas deixadas em Eternos (2021) e até mesmo O Incrível Hulk (2008) ao invés de desenvolver o thriller político que diz ser.

Enquanto o filme acha que está vivendo seu momento House of Cards ao mostrar o Hulk Vermelho destruindo a Casa Branca, na verdade, tudo não passa de uma casca vazia. O longa parece até mesmo ignorar o fato de que seu Capitão América é negro, e o mais perto que chega de fazer alusão a questões raciais é em um momento final onde Wilson desabafa sobre não acreditar “ser o suficiente” para empunhar o escudo do herói.

A insegurança do protagonista, no entanto, vai mais para o lado das comparações com o Steve Rogers de Chris Evans, sendo que Wilson optou por não usar o soro que transformou Rogers em um super-soldado. Aqui, o filme olha para o Capitão de um jeito mais humano, reforçando que, como qualquer mero mortal, ele também tem suas fraquezas, que não necessariamente são falhas mas, sim, coisas que o deixam ainda mais forte.

Filme consolida Anthony Mackie como Capitão América, mas não consegue aprofundar temáticas.

Em vista disso, Capitão América: Admirável Mundo Novo nada no marasmo da Marvel a duras penas. A trama até tinha um potencial interessante para ser desenvolvida, principalmente se ousasse realmente abraçar o thriller de espionagem, mas tudo acaba se resumindo a clichês básicos do gênero que, por mais válidos que sejam dentro desse universo, não corroboram com todo o resto.

No fim de tudo, a sensação que fica é que Admirável Mundo Novo, por mais que consolide Anthony Mackie como o herói, não tem muito fôlego para se sustentar sozinho, nem mesmo espaço para desenvolver suas próprias ideias. Não é um desastre completo, mas também não tem muito a dizer, o que é uma pena.

Nota: 2,5/5.

Capitão América: Admirável Mundo Novo está em cartaz nos cinemas.

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