Review: The Last of Us Part II Remastered tem jeitão de edição de colecionador de uma história que permanece atual

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Review: The Last of Us Part II Remastered tem jeitão de edição de colecionador de uma história que permanece atual

Por Gabriel Mattos

A grande discussão por trás de The Last of Us Part II Remastered, novo título exclusivo de PlayStation 5, inevitavelmente atravessa mais o estado atual da indústria de games do que a qualidade do jogo em si. Afinal, existe realmente a necessidade de uma versão atualizada de um game que sequer completou quatro anos no mercado? No mínimo, debatível. Mas uma coisa é certa: The Last of Us Part II continua tendo o mesmo impacto em 2024 que demonstrou em seu lançamento original, em junho de 2020.

Ficha Técnica:

Título: The Last of Us Part II Remastered

 

Desenvolvedora: Naughty Dog

 

Distribuidora: PlayStation

 

Plataformas: PlayStation 5

 

Lançamento: 19 de janeiro de 2024

 

Gênero: Furtividade, Ação e Aventura

 

Tradução para o Português: Completamente dublado e localizado

 

Modos: Singleplayer (Campanha, Extras e Sem Volta)

O que The Last of Us Part II Remastered traz de novo?

De um ponto de vista de quem cresceu com a era dos DVDs, The Last of Us Part II Remastered provoca a mesma sensação luxuosa de comprar um cobiçado DVD Duplo. Para quem perdeu essa época, eram edições caprichadas de um filme pensadas apenas para quem era muito fã. Custavam um pouco mais caro e entregavam a mesma experiência cinematográfica, porém com um DVD extra recheado de conteúdo especial de bastidores.

Resumindo bastante, Remastered oferece exatamente isso. O premiado game que continua a jornada de Joel e Ellie anos depois de seu último embate com os Vaga-Lumes segue idêntico. Modelos de personagem não foram sequer retocados, então a maior diferença está na qualidade e detalhamento de imagens. Além da performance que, em teoria, deveria estar mais estável.

No meu tempo com o game, contudo, esbarrei em alguns atrasos em animações que até seriam perdoáveis se esta não fosse uma versão revisada que promete melhorar exatamente pontos como este. Nada que prejudicasse a minha experiência como um todo, mas ainda deixa um gosto amargo de um produto caro que não deixa de ter erros. Tirando isso, Remastered traz aperfeiçoamentos perceptíveis, mas que só vão fazer diferença para fãs muito dedicados.

Fases excluídas de The Last of Us Part II

Ellie apontando arma para javali

Caçada a javali poderia ter resultado em uma transição mais suave para o último ato do game, mas outras fases excluídas não compensam (Créditos: PlayStation)

E, para os curiosos, existe ainda mais conteúdo de bastidores, com um destaque especial para três fases que foram deletadas do game original. Mas recomendo que não se anime demais com esse material inédito. Existe um ótimo motivo para estas sequências terem sido cortadas do jogo — elas não acrescentam em absolutamente nada na experiência ou na história. Com a exceção da última, que pode acabar entrando para a série.

Em geral, são pequenos trechos focados em jogabilidade que mostram ideias ambiciosas demais para serem implementadas. Que custavam muito mais esforço dos desenvolvedores para implementar do que valeria a pena. Mecânicas que só serviriam para aquele momento em específico do jogo, que podem ser testadas em uma versão rudimentar. Interessante para quem ainda não superou o drama de Ellie e Abby, mas nada revolucionário.

Mais interessante é ouvir os comentários dos desenvolvedores sobre cada pequena decisão que foi tomada no processo de criação destas fases. É impressionante o cuidado e a intenção que são postas em cada momento, por mais irrelevante que seja, de um jogo de grande orçamento como este. E os conteúdos extras que cobram exatamente os bastidores da construção do game são muito mais ricos do que parecem. Para quem é apaixonado por videogames, no geral, é uma mina de ouro.

Dualsense e acessibilidade

Ausência de giroscópio e outras melhorias faz falta em uma versão de luxo (Créditos: PlayStation)

Além disso, não é apenas poder gráfico que o PlayStation 5 tem a oferecer de novidade. The Last of Us Part II Remastered também aproveita cada nova ferramenta do Dualsense, o controle com funções únicas pensadas para ampliar a imersão do jogador com mais estímulos táteis.

Depois de tanto tempo jogando no PlayStation 5, pode passar batido. Mas, de forma bastante sutil, a presença de leves e precisas vibrações para representar momentos chave, como a leveza das gotas de chuva sobre a pele ou a aspereza ao dedilhar o violão, são um charme extra que vendem ainda mais a ideia de estar na pele de Ellie ou Abby. Não chega a ser nada absolutamente de outro mundo, uma vez que a experiência original já é bastante imersiva, apenas se acumula a um turbilhão de sensações que o game proporciona.

Faltou um olhar mais apurado, contudo, para aplicar estas novidades também de uma forma mais prática. Não usar apenas para firulas e sim melhorar a vida dos jogadores. Novamente o giroscópio, presente no controle, não foi implementado para aperfeiçoar a mira, algo que se tornou padrão em jogos populares como Fortnite. E essa própria vibração especial, que poderia combinar com momentos de jogabilidade como na invasão de cofres, também foi esquecida no que realmente importa.

Quem já navegou pelo universo do jogo vai perceber várias oportunidades perdidas. A prioridade, claramente, foi do lado estético — polir ao máximo a sensação de imersão dos jogadores — quando a jogabilidade também precisa de um cuidado a mais. Aumentar a oferta de formas de jogar ajudaria até mesmo a ampliar as opções de acessibilidade, que continuam muito boas no game e ainda melhoraram com resposta tátil nas cenas para simular o tom dos personagens. Mas poderia ter ido mais além.

Modo Sem Volta vale a pena?

Sem Volta é a oportunidade de jogar com seus personagens favoritos, incluindo quem você está pensando (Créditos: PlayStation)

Parece que todo este esforço extra de desenvolvimento foi aplicado no modo Sem Volta. De longe a adição mais interessante para quem completou a história e está interessado em reviver a mesma emoção dos combates uma vez mais. Infelizmente não dá para esquecer The Last of Us Part II e jogar tudo novamente, como se fosse a primeira vez. Mas o modo Sem Volta é o mais perto que vamos chegar disso.

Esta é uma versão simplificada de uma experiência rogue-like. É um grande desafio em que o jogador precisa enfrentar uma série de conflitos, contra as diferentes facções do game, nos cenários mais marcantes, porém com alguma reviravolta que deixa a experiência completamente diferente. Névoa onde antes não tinha, inimigos ainda mais resistentes, estaladores onde deveriam ter Lobos… É uma forma de sentir algo de fato novo em um ambiente tão familiar.

Não é um modo absolutamente robusto. Afinal, apenas reaproveita os recursos do game principal em uma experiência ligeiramente diferente. Porém, ainda assim, tem o potencial de oferecer horas e horas de diversão para quem gosta da franquia para além da história. Se você curte a furtividade, gerenciar seus recursos e o sentimento de perigo e urgência de cada combate de Part II, vai adorar a nova campanha. Até enjoar, claro. Mas ainda assim é impressionante como conseguiram encontrar um modo de estender a vida do jogo sem trair a essência single-player da aventura original.

Como The Last of Us Part II envelheceu em quatro anos?

A brutalidade da vida real transforma a experiência do game (Créditos: PlayStation)

Muita coisa mudou desde que The Last of Us Part II estreou no PlayStation 4. Não só no mundo da tecnologia, como na sociedade em geral. Entre pandemia, eleições e guerras, o público que recebeu esta história melancólica de vingança e empatia em 2020 teve muito o que pensar sobre esse assunto nos últimos tempos. E viver em primeira mão estes eventos tão extremos traz uma bagagem mais cética que torna a experiência ainda mais realista.

Em seu roteiro, Part II é quase como um experimento social sobre enxergar o mundo pela perspectiva do seu inimigo. Um simulador intensivo de como é viver em uma bolha polarizada movida por ódio e rancor. Para assim entender não apenas os sentimentos trágicos que motivam as pessoas a cometerem atrocidades, como também o lado mais humano de quem o ressentimento nos leva a enxergar como inimigos.

Por este lado, a tragédia de Ellie nunca foi tão atual. O mundo real parece tão infectado quanto a realidade distópica em que a garota vive. Se antes a sua história servia como um agouro de um caminho perigoso que deveria ser evitado, agora chega como um alerta final de uma necessidade de repensar o que estamos nos tornando como sociedade. Enquanto ainda há tempo de não terminarmos vazios e isolados como em The Last of Us.

A narrativa ainda tem os mesmos problemas de ritmo, ao alongar seu drama um pouco mais do que o necessário. Mas o impacto de sua mensagem nunca foi tão intenso. Engraçado viver essa experiência, também, como alguém que assistiu a série da HBO. Um olhar atento revela que pequenas mudanças da produção foram pensadas para encaixar ainda melhor com o roteiro de sua sequência, que será adaptada para as telinhas muito em breve.

Veredito

Nota: 8.5/10

Nota: 8.5/10

The Last of Us Part II Remastered entrega tudo o que promete, mesmo que nem sempre da forma esperada. Leves tropeços de performance vão incomodar quem procurava a experiência técnica definitiva, apesar de quase imperceptíveis. E o conteúdo extra, bem raso, deve agradar somente um público bem específico, fanático pela franquia. Ainda que a experiência base do jogo mereça o mesmo 10 que recebeu em nossa crítica de 2020, as melhorias da nova versão não impressionam o suficiente para justificar uma nota igual.

Quem é absolutamente fascinado não vai se decepcionar. Quem nunca teve contato com a história também não. The Last of Us Part II sobrevive ao teste do tempo e segue sendo uma memorável tragédia sobre empatia e o ciclo de ódio que se espalha com uma velocidade alarmante sobre o mundo. Só não parece ser o tipo de jogo para a galera mais casual, que já está satisfeita com o que viveu da primeira vez. As novidades, definitivamente, não foram pensadas para você.

The Last of Us Part II Remastered chega ao PlayStation 5 em 19 de janeiro.

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