[Review] Suicide Squad: Kill The Justice League acerta na história, mas erra na ambição

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[Review] Suicide Squad: Kill The Justice League acerta na história, mas erra na ambição

Por Márcio Jangarélli

A Força Tarefa X chegou aos videogames e, honrando o histórico do grupo nos cinemas, a recepção foi turbulenta. Suicide Squad: Kill the Justice League, novo game da Rocksteady no mesmo universo da aclamada trilogia Arkham, foi lançado no dia 2 de Fevereiro seguindo um período de desenvolvimento envolto em vazamentos e polêmicas. No entanto, talvez o título mereça mais atenção positiva.

Graças a Warner Games, pude testar o game para entender melhor a proposta, checar se o Esquadrão Suicida e a história fazem jus ao material fonte, descobrir se o gameplay funciona e, principalmente, decidir se o jogo é tão divertido quanto esses personagens exigem que seja.

Amanda Waller nos convocou, não é aconselhável atrasar. Vamos lá?

FICHA TÉCNICA

Título: Suicide Squad: Kill the Justice League

 

Data de lançamento: 2 de Fevereiro de 2024

 

Desenvolvedora: Rocksteady

 

Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X/S e PC

 

Modo: Single player, multiplayer

 

Gêneros: Ação, Aventura, Shooter em 3ª pessoa

 

Tradução PT/BR: Sim, dublagem e legendas

 

PIADA BOA, SHOW RUIM

Jogos baseados em HQ e super-heróis já não são mais sinônimos de fracasso. Foi-se a época em que recebíamos tie-ins caça-níqueis de filmes duvidosos; desde a franquia Arkham da Rocksteady, esse gênero entregou aventuras tão incríveis ou melhores que suas inspirações. Recentemente, porém, esse status poderoso balançou com o lançamento do famigerado Marvel’s Avengers, da Crystal Dynamics, e parte dos problemas deste título foram herdados por Suicide Squad: Kill the Justice League.

O jogo do Esquadrão Suicida tinha tudo para ser mais um título estelar do gênero. Também desenvolvido pela Rocksteady, o game se passa no mesmo universo da aclamada trilogia Arkham, 5 anos depois dos eventos de Arkham Knight. Os personagens escolhidos são queridos pelo público, a má fama do Esquadrão foi revisada com o ótimo filme mais recente, a Arlequina não poderia estar em um momento mais brilhante na cultura pop e o plot de colocar esses anti-heróis para tentar assassinar os principais ícones da DC é divertidíssimo. Isso não fosse o sistema live service, com temporadas, passes de batalha, microtransações e um encerramento real da história prometido apenas para o final do ciclo. Mas vamos por partes.

Mais um dia amanhece no universo DC e, dessa vez, Metropolis foi invadida pelo Brainiac e parte da Liga da Justiça foi “possuída” pelos poderes do vilão. Por sua vez, Amanda Waller recolhe quatro criminosos de Arkham para formar seu Esquadrão Suicida e o grupo é enxotado para investigar o que está acontecendo na cidade e, se a oportunidade surgir, assassinar a Liga. Assim começa sua aventura com a Arlequina, o Capitão Bumerangue, o Pistoleiro e o Tubarão-Rei.

Esses quatro personagens jogáveis são, além de ótimas escolhas, bem trabalhados, possuem gameplays distintos, receberam dublagens, animações e customizações brilhantes e são super fiéis ao seu histórico em outras mídias. Eles definitivamente não suavizaram o lado maníaco do grupo para vender algo mais heroico, o que é excelente. É uma equipe pouco empática, egoísta, clinicamente insana, muitas vezes frustrante e que cresce em você como um fungo assassino — e esse é o espírito do Esquadrão. Não adianta entrar nesse jogo esperando grandes atos altruístas e honrados dessas pessoas, apenas atos acidentalmente convenientes para algum bem.

E no quesito jogabilidade, Kill the Justice League acerta em não te forçar a trocar entre o quarteto principal ou a enfrentar missões com alguém que você não gosta ou não se dá muito bem. É possível escolher aquele com o gameplay que mais te agrada ou seu favorito e se especializar nele para detonar a campanha principal, sidequests e o multiplayer. Caso você esteja jogando sozinho, a inteligência artificial controlando os outros três é decente e você pode seguir single player do começo ao fim. Além disso, os personagens secundários (Amanda Waller, Rick Flag, Pinguim, etc) também recebem a mesma atenção, foram bem escolhidos, são muito divertidos, importantes para e coesos na história.

Uma questão polêmica, que vem desde que o jogo foi anunciado, é: e a Liga da Justiça? Eu sei que muita gente pode não gostar de ver seu herói favorito na lista de extermínio, mas esse é um plot clássico dos quadrinhos, repetido tantas vezes que nem é mais surpresa um Superman ou Batman vilões surgindo e caindo, certo? E Suicide Squad executa essa ideia muito bem.

Essa Liga vilanesca não é a mesma que você vê em Injustice, por exemplo. É algo um pouco mais maligno e melancólico, sem a fachada justiceira. Eles funcionam como vilões para os seus vilões, a ameaça que impõem é monumental, mas quando o momento de confronto chega, ainda é impactante para o jogador como tudo se desenrola.

Sem contar que as batalhas contra a Liga são sensacionais. São momentos épicos, desafiadores e que fazem sentido para cada herói. E faz sentido como esses quatro malucos tem alguma chance de lutar contra os ícones do universo DC. O núcleo de Kill the Justice League é coeso e conecta gameplay e plot de uma maneira que nunca parece forçado ou absurdo o que está acontecendo, as motivações desses personagens e o resultado.

Falando em gameplay, minha única reclamação (fora as questões do live service) é que Suicide Squad poderia ser mais variado em missões e exploração. Você corre por quase toda Metropolis matando alienígenas, encontrando troféus e desafios do Charada e fazendo missões clássicas de shooter e isso se torna repetitivo rapidamente, ainda mais se você é daqueles que gosta de completar todas as sidequests

Por volta do fim da campanha principal, novas opções de missão surgem e são mais variadas e divertidas, mas essa colocação é só uma estratégia para prender o jogador no molde live service, o que contribui para o problema central do título. Se essas ideias tivessem sido aplicadas antes, pensando em um jogo completo, o produto final seria muito melhor.

Não posso deixar de comentar sobre o humor do game, afinal, é uma parte fundamental do Esquadrão Suicida. E, de novo, o jogo acerta; não é o mesmo tipo de comédia dos filmes da equipe, ainda que puxe alguma inspiração dos longas, de Aves de Rapina e da animação da Arlequina. É algo mais parecido com os quadrinhos do Esquadrão, mais ácido, que vem para quebrar momentos de drama extremo, devido a situação apocalíptica do plot, e lembrar o jogador exatamente quem são os protagonistas dessa história.

E sim, talvez algumas pessoas fiquem ofendidas com alguma piada ou situação envolvendo seu super-herói favorito. Mas essa é a intenção do jogo, do vilão com quem você está jogando e também não é algo para ser levado a sério.

O que deve ser levado a sério é como o molde live service, criticado com fervor por todas as parcelas da comunidade gamer, minou o potencial que Suicide Squad possui. A campanha single player é ótima, fiel aos personagens e a várias sagas das HQs, mas carregando personalidade e desafios próprios. No entanto, esse sentimento murcha quando você percebe que não haverá uma conclusão satisfatória para a aventura a não ser que você compre passes de temporada e aguarde seus lançamentos quando e se vierem.

Em Suicide Squad, você joga dois atos da história e não recebe o grand finale; um verdadeiro coito interrompido em formato de game. Não me leve a mal: o que está lá é excelente e, sinceramente, vale a pena ser conhecido e apreciado pelo trabalho que foi empregado. Mas é impossível não finalizar a campanha principal sem um gosto amargo na boca.

E ainda mais irritante do que não receber um final adequado é ver que as temporadas já prometidas para Suicide Squad parecem muito, muito legais. Todo o plot desse “3º ato” é intrigante, seja o que já está no game ou o que está para chegar. Os novos personagens também são promissores. Porém, é difícil esquecer que todas essas coisas estão barradas do jogo completo por um dos piores sistemas da história da indústria gamer.

A questão é que, diferente do desastre que foi Marvel’s Avengers, Kill the Justice League tem um ótimo jogo “base” e tudo aponta que, sem o toque da ganância extrema, este seria um ótimo game; talvez não nos patamares de Batman ou de Spider-Man, mas como Guardiões da Galáxia é. No lugar disso, temos uma aventura frustrantemente boa e promessas interessantes, porém caras, para o futuro.

Essa foi uma crítica difícil; por um lado, me diverti muito com Arlequina, Bumerangue, Nanaue e Pistoleiro, explorando cada gameplay, causando mais caos na Metropolis caótica e dando cabelos brancos para a Amanda Waller. Por outro, é realmente um desrespeito com o jogador esse tipo de truque ainda ser usado, não importa a distribuidora, desenvolvedora, plataforma ou o game em questão.

 

No fim, decidi que a nota deve refletir mais o quanto Suicide Squad me divertiu. Se você é fã da DC Comics, do Esquadrão Suicida e de shooters malucos, provavelmente esse é o seu jogo, especialmente se a questão live service não te incomoda. Para o público geral, talvez esperar pela versão final do game, com todas as temporadas, seja o melhor plano.

 

Assim, Suicide Squad: Kill the Justice League leva nota 7 da Legião dos Heróis! Poderia ser mais, deveria ser menos, mas a loucura do Esquadrão é contagiante.

E aí, já testou Suicide Squad? Conta pra gente nos comentários o que achou!

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