[Review] Metaphor: ReFantazio equilibra experiência, evolução e novidade em um game fantástico

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[Review] Metaphor: ReFantazio equilibra experiência, evolução e novidade em um game fantástico

Por Márcio Jangarélli

A indústria gamer estava precisando de uma nova demão de fantasia e a equipe da Studio Zero/Atlus atendeu ao pedido com primor! Metaphor: ReFantazio, novo jogo dos responsáveis pelos capítulos mais estelares das franquias Shin Megami Tensei e Persona, foi lançado em outubro de 2024 arrebatando crítica e público na mesma medida.

Em preparação para a The Game Awards 2024, onde Metaphor é um dos títulos mais indicados e fortíssimo candidato ao maior prêmio da noite, a Legião recebeu uma cópia do game para avaliar o quão boa é, de fato, essa nova fantasia do estúdio. Não vou nem tentar disfarçar aqui: este é, sem dúvidas, um dos melhores games do ano.

Ficha Técnica

Título: Metaphor: ReFantazio

 

Data de lançamento: 11 de outubro de 2024

 

Desenvolvedora: Atlus, Studio Zero

 

Distribuição: Sega

 

Plataforma: PlayStation 4 e 5, Xbox Series X / S e PC

 

Modo: Single player

 

Gêneros: RPG

 

Tradução PT/BR: Sim

Fantasia inteligente, pitoresca e sublime

Mesmo para os apreciadores mais ferrenhos das franquias Atlus, é impossível dizer que Metaphor: ReFantazio não vai além de suas expectativas para uma nova IP da desenvolvedora. Francamente, este é um dos projetos mais impressionantes da equipe por trás de Shin Megami Tensei e Persona, títulos essenciais para a história da indústria gamer, tornado possível pela experiência adquirida na criação de jogos tão titânicos e a resposta do público e crítica em cada lançamento.

Tudo o que há de melhor nas franquias de sucesso da Atlus está presente em Metaphor, porém aprimorado. Refinado. Da visão artística ao gameplay, até aqueles momentos chave que sabemos que vamos encontrar nos jogos dessa equipe, o acúmulo de experiência se mostra de uma forma suave, fluida, como se cada uma das peças brilhantes do game fosse fácil de produzir e encaixar. Assim, o resultado não poderia ser outro além de um dos melhores títulos de 2024, um dos melhores RPGs dos últimos anos e um dos games mais impactantes da década no âmbito de identidade sonora e visual.

De primeira, o que prende a atenção do player é a identidade visual de Metaphor. O estilo está em sintonia com Persona e SMT (com traços de anime shojo noventista) mas é aplicado em um ambiente sem limitações para ser fantástico, com inspirações pós-impressionistas e brutalistas para arquitetar um mundo vibrante, surreal e de tirar o fôlego. Dos designs de personagem e monstro, até a construção de níveis, cenários e cutscenes, a visão artística do projeto permanece especial, intrigante e essencial na manutenção da atmosfera dark fantasy muito única do game.

Aliado aos visuais, a trilha sonora é mais um um diamante para a coleção da Atlus de composições ilustres. Ler sobre o processo de criação da identidade sonora de Metaphor é impressionante e absurdo por si só, com Shoji Meguro, compositor do projeto, recrutando um monge budista para entoar algumas das faixas em Esperanto. No entanto, nada prepara o jogador para a experiência quase sobrenatural que é ouvir essas músicas durante o gameplay. Enquanto Persona 5 investe na veia pop/jazz eufórica e catchy, Metaphor mergulha em algo etéreo, mas com alguma violência embutida. E, visualmente ou sonoramente, o game permanece em movimento do começo ao fim, mantendo cativos atenção, ansiedade e o coração do jogador.

Se nos quesitos mais técnicos Metaphor já é grandioso, no território de gameplay a situação beira o excessivo da melhor maneira possível. É, novamente, um aprimoramento e uma fusão de outras sagas, mas com seu próprio toque mágico. A passagem de tempo, como os mapas e exploração funcionam, laços entre personagens, discussões com sua equipe, entre vários outros pontos, são familiares para qualquer um que conheça jogos Atlus. Contudo, a aplicação e o funcionamento dessas mecânicas é mais natural aqui, mais dinâmico e integrado à história geral. Embora este seja o palco mais fantástico de todas as franquias, é também o jogo mais coeso até então, visto como todas as peças funcionam na montagem da experiência completa.

Essa mistura e sinergia multi-franquia também se aplica ao combate. A batalha por turnos está mais frenética e divertida, sem deixar de lado os aspectos mais familiares do estúdio e aplicando uma curva de aprendizado bem dosada (que nem sempre foi o caso para a Atlus). Sem contar que uma das melhores evoluções está na luta “em tempo real”, no mapa geral, onde seus ataques e combos podem eliminar monstros de nível mais baixo sem entrar em combate. Isso já aconteceu no passado, em outros games, mas a forma como funciona aqui adiciona à velocidade do gameplay e atua na preservação do interesse do jogador, deixando para trás as partes mais arrastadas de outros títulos.

Por fim, mas não menos importante, a narrativa de Metaphor: ReFantazio é absolutamente fenomenal. É uma história inteligente, socialmente importante, sensível e bem executada, um verdadeiro avanço do estúdio se comparado às decisões questionáveis de títulos anteriores. O fato de que uma das inspirações do jogo é “O Jardim das Delícias Terrenas”, um tríptico (conjunto de três pinturas) de Hieronymus Bosch, já diz muito sobre os caminhos peculiares e divertidíssimos que essa aventura toma.

E para uma jornada tão ambiciosa, os personagens precisam estar no mesmo nível, certo? Claro, como é de praxe para a desenvolvedora, o elenco de Metaphor está entre os maiores méritos do título, inclusive subvertendo, de forma admirável, alguns arquétipos e estereótipos já clássicos das próprias franquias Atlus. Até mesmo o protagonista, que geralmente é um pouco mais brando em personalidade para o efeito espelho com o player, possui mais profundidade e atitude que o normal.

Assim, Metaphor: ReFantazio é um daqueles títulos que te deixa feliz apenas pelo fato de você gostar de videogame e poder vivenciar essa experiência. É um jogo exagerado, grandioso, abarrotado com todo tipo de referência teórica e artística, que pode parecer demais para lidar, mas cuja equipe responsável possui experiência o bastante para saber como entregar tudo isso da forma mais divertida e viciante possível para o jogador. Possui pequenas falhas aqui e ali e obviamente não é para todos os gostos, mas nada disso chega nem perto de ameaçar o pedestal que o game constrói para si.

Um jogo excepcional para fechar o ano? Pois é, ainda que extremamente polêmico, 2024 foi excelente para quem gosta de videogame e Metaphor: ReFantazio veio no último trimestre para tornar o cenário ainda mais brilhante. Não é à toa a quantidade de indicações que o título recebeu na The Game Awards. Também não me surpreenderia (e me deixaria bem feliz, na verdade) se levasse o cobiçado prêmio de Jogo do Ano de 2024.

 

Por isso, para a Legião, Metaphor: ReFantazio é um magnífico 10. Para fãs de Persona, Shin Megami Tensei, JRPGs e RPGs no geral ou para quem só gosta de ótimas histórias, este é o game para você investir todo seu tempo e atenção.

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