Review: Astro Bot é um vislumbre brilhante do que a indústria gamer não é

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Review: Astro Bot é um vislumbre brilhante do que a indústria gamer não é

Por Márcio Jangarélli

Acompanhando o avanço tecnológico da PlayStation, nasce um game inédito do Astro! Sequência do sensacional Astro’s Playroom, Astro Bot, novo jogo da Team Asobi, foi lançado no último dia 6 de Setembro como uma versão maior, melhor e absolutamente impressionante do projeto anterior.

Graças à PlayStation, tivemos acesso ao jogo para acompanharmos o Astro em mais uma aventura de seu universo tecno-nostálgico. Novamente, o robôzinho supera qualquer expectativa, entregando algo tão grandioso que, em contrapartida, expõe um dos piores moldes da indústria gamer atual. Calma, vamos explicar. Vem comigo!

Ficha Técnica 

 

Título: Astro Bot

 

Data de lançamento: 6 de setembro de 2024

 

Desenvolvedora: Team Asobi

 

Plataforma: PlayStation 5

 

Modo: Single player

 

Gêneros: Plataforma, Puzzle, Aventura

 

Tradução PT/BR: Sim, textos e legendas

Uma celebração astro-nômica ao video-game

Quando o PlayStation 5 foi lançado, a Legião foi um dos primeiros veículos do Brasil a ter acesso ao console e, em consequência, ao título escolhido para funcionar como uma demonstração da geração que começava: Astro’s Playroom, protagonizado pelo Astro Bot, um dos mascotes mais recentes da empresa. E ainda que a ideia de um game tão institucional, que se passa literalmente DENTRO da máquina que está sendo lançada, possa parecer terrível, Playroom é um dos jogos iniciais mais marcantes e divertidos, exibindo com confiança o potencial glorioso do que poderia ser desenvolvido à seguir.

Quase quatro anos depois, a PlayStation anuncia o PlayStation 5 Pro – algo esperado, considerando os movimentos do mercado – e, nada coincidentemente, um novo jogo do Astro surge. Agora apenas “Astro Bot”, o game da Team Asobi pode não ser uma demonstração oficial da nova versão do PS5, mas é um lembrete claro daquele potencial mostrado em Astro’s Playroom, um grande “vem aí” para a nova versão do console.

Tudo em Astro Bot é fantástico e demonstra muito, muito trabalho e carinho da equipe dev pelo projeto. É um exemplo perfeito de jogo literal, que é puro entretenimento viciante, na veia de coisas como Crash Bandicoot ou até Pac-Man, onde novidade, desafio, luzes, sons e o movimento impresso na tela são suficientes para prender o player por horas sem precisar se apoiar em uma grande história, diálogos dramáticos ou gráficos hiperrealistas. Isso feito da maneira mais moderna e interessante possível, incorporando extensa e criativamente todas as funcionalidades únicas do PS5 a um gameplay afiado, instintivo e divertido e às homenagens nostálgicas mais inusitadas e bem feitas da história gamer.

Adiantando rapidamente o final da review, Astro Bot é, com toda certeza, um game nota 10, surpreendente até mesmo para quem experimentou Playroom; essa conclusão vem, infelizmente, com um gosto amargo em companhia visto que eu poderia repetir tudo o que disse na review de Playroom, anos atrás, citando o famigerado “potencial” da nova geração de consoles, e ainda pareceria atual. Ainda que Astro Bot seja sensacional e mereça todos os louros, o game é também um lembrete de que a indústria gamer está estagnada e ainda não avançou verdadeiramente para uma “nova geração”.

Nenhum jogo, nem mesmo os exclusivos, conseguiu replicar o uso do feedback háptico e dos gatilhos adaptáveis do PlayStation 5 dos jogos Astro. Ou as maneiras criativas do uso da velocidade de processamento e o áudio espacial, características chave da introdução da nova geração dos consoles Sony. 

Não é exagero afirmar que esses games, Playroom e Astro Bot, fazem o jogador sentir o jogo; a forma como os elementos sensoriais foram aplicados nesses projetos são especiais, algo que destaca o potencial do PS5 de seus concorrentes. É uma experiência imersiva de verdade, onde a máquina performa um truque de mágica e engana seu cérebro através de vibrações e sons e te faz acreditar que você está sentindo areia, metal, líquidos, vidro, impactos, entre outras tantas ilusões, pelo controle.

Dá para citar Ratchet & Clank, Sackboy e Returnal como casos especiais onde os desenvolvedores tiveram êxito em encaixar algumas dessas novidades em seus jogos, mas, se comparado com Astro Bot, o resultado parece um tanto restritivo. Aqui há uma liberdade e autenticidade no uso dessas ferramentas que, sinceramente, eu não havia encontrado desde Astro’s Playroom. 

Sem contar que Astro Bot consegue usar e se apoiar na nostalgia de uma forma bem mais inteligente e honesta que boa parte da indústria geek hoje. Esse game é, basicamente, um grande portfólio da PlayStation, mas também do universo gamer no geral. A Team Asobi incluiu todas as referências com que conseguiu se safar, independente de serem, terem sido ou não exclusivos da PS em algum momento. Você encontra God Of War e Horizon, mas também Ape Escape, LocoRoco, The Legend of Dragoon, Okami e até Stray e Oddworld. E não é só um um apanhado de Bots fantasiados, mas inclusões assertivas que mostram pesquisa e carinho por cada um desses títulos e a história dos videogames.

Os níveis especiais, modelados a partir de alguns desses games homenageados, são os mais impressionantes tecnicamente, ainda que todas as fases do jogo sejam extremamente divertidas e únicas em seus próprios termos. O show das especiais em específico vem da capacidade da Team Asobi de empregar mecânicas únicas para cada uma dessas fases, baseadas em um jogo icônico, e fazer com que esse gameplay só funcione ali, sem estendê-lo para além.

O melhor exemplo disso é a fase de God of War. É um deleite encontrar Kratos e Atreus e poder usar os poderes do machado em uma réplica da Midgard de GOW Ragnarok. Você pode atirá-lo para congelar e derrotar inimigos ou em fontes d’água para criar plataformas; dá até para usá-lo para derrubar corvos de Odin escondidos na fase. A animação do Astro muda para encarnar o Kratos, o visual dos inimigos é atualizado para entrar no tema, você encontra Thor, Freya e até a Jormungandr, mas tudo isso, com exceção dos Bots que você recrutou, fica por ali. Você pode dar replay, mas as mecânicas do nível ficam contidas ali e isso é corajoso e tecnicamente impressionante.

É realmente um sentimento estranho encontrar um game assim; ele te faz feliz, te deixa em êxtase, te lembra porque você ama videogame e tudo mais, mas também te faz comparar e questionar o porquê de Astro Bot ser a exceção e não a regra, especialmente quando os elementos empregados nele foram vendidos como o “futuro”. 

Sim, nos últimos anos tivemos títulos excelentes, inclusive alguns dos melhores já criados, que não precisaram de grandes estímulos sensoriais ultramodernos. Além do mais, jogos hiperrealistas tem seu espaço, são sensacionais e tecnicamente imponentes por si só, independente do que muito crítico possa dizer sobre o que é “videogame de verdade”. No entanto, boa parte desses games ainda funcionariam e até foram lançados para a geração anterior. A novidade real, que moldou a ideia da nona geração, era a “experiência imersiva” – que, para a PS, foi vendida como algo similar a Astro’s Playroom e, agora, Astro Bot. No fim, não é o que estamos recebendo, com exceção de pequenas jóias aqui e ali.

Era para essa ser uma review de Astro Bot, mas acabou sendo um comentário sobre a indústria no geral. Não importa, no fim, porque todos os elogios de Playroom ainda funcionam aqui; na verdade, esse projeto é maior, mais refinado e mais viciante que o anterior, mostrando que, enquanto os grandes nomes estão estagnados, a Team Asobi continua evoluindo.

 

Esse é o tipo de game que, por mais que você possa torcer o nariz para um jogo mais “bobinho” custando caro, ainda vale pagar para experimentar. É espetacular para qualquer idade, para qualquer público, principalmente se você ama videogame como um todo. Não uma marca, não um estilo, mas a forma e suas possibilidades. 

 

Assim, Astro Bot merece um estelar 10/10 da Legião dos Heróis! Realmente, um game para sentir.

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