Crítica – Super/Man: A História de Christopher Reeve faz emocionante retrato de um ícone da cultura pop
Crítica – Super/Man: A História de Christopher Reeve faz emocionante retrato de um ícone da cultura pop
Documentário sobre o eterno Superman mostra trajetória do astro e história de superação após trágico acidente que o deixou tetraplégico
Christopher Reeve parece ter sido um homem de muitas vidas. Falecido há 20 anos, o astro saiu dos palcos do teatro para se transformar em uma lenda inesquecível do cinema com Superman: O Filme (1978), longa-metragem de Richard Donner (Máquina Mortífera, Os Goonies) que, para muitos, ainda é considerada a adaptação cinematográfica definitiva do herói com o “S” no peito. Ele tinha apenas 24 anos e já moldava a percepção do público, misturando realidade e ficção, com o que viria a ser a imagem do Superman na cultura pop até os dias de hoje.
Mas é claro que Reeve não era apenas o homem por trás da capa vermelha, e tudo se tornou ainda mais complexo quando o ator sofreu um trágico acidente, em 1995, que o deixou tetraplégico pelo resto de sua vida. Uma história de superação, frustrações e esperança que o documentário Super/Man: A História de Christopher Reeve busca compreender. Fazendo um recorte aprofundado na vida do ator no que diz respeito ao acidente, a produção não abre mão do formato tradicional de um documentário para percorrer momentos importantes da carreira e da vida pessoal de Reeve de forma simples porém tocante e respeitosa, sempre relembrando a força e a determinação de um herói da vida real.
Ficha técnica
Título: Super/Man – A História de Christopher Reeve
Direção: Ian Bonhôte e Peter Ettedgui
Roteiro: Peter Ettedgui, Ian Bonhôte e Otto Burnham
Data de lançamento: 17 de outubro de 2024
País de origem: Estados Unidos da América e Reino Unido
Duração: 1h 44min
Sinopse: A ascensão de Christopher Reeve ao estrelato como Superman, bem como sua luta para encontrar uma cura para lesões na medula espinhal depois que ele ficou tetraplégico após um acidente de cavalo.
Um herói da vida real
Não era um pássaro, muito menos um avião. Era o Superman entrando para a história dos quadrinhos em 1938 para se tornar um dos super-heróis mais populares e icônicos de todos os tempos. Criado por Joe Shuster e Jerry Siegel, o homem com força sobre-humana que voava por uma cidade chamada Metrópolis usando um uniforme azul e vermelho, enquanto salvava pessoas do perigo, foi um marco da DC Comics e ainda transformou a maneira como seres superpoderosos eram percebidos por nós, os meros mortais.
Dá para imaginar, então, que alguém como Christopher Reeve seria o candidato perfeito para fazer com que Clark Kent saísse das páginas dos quadrinhos e brilhasse nas grandes telas do cinema. Com seus mais de 1,90 metro de altura, Reeve saiu do anonimato para se tornar uma lenda de Hollywood, fazendo um intenso processo de treinamento para conseguir fazer o Superman voar na frente das câmeras.
Mas muito se engana quem achava que ele também tinha a pose séria do herói: como amigo próximo do inesquecível Robin Williams (Sociedade dos Poetas Mortos), Reeve até poderia não ser um comediante nato mas ele tinha seus momentos de descontração, algo que só aumentava seu carinho perante ao público e ainda acrescentava novas camadas de complexidade à sua personalidade.
Pai, ator, marido, herói… Muitos eram os nomes usados para se referir a um homem que, durante toda sua vida, precisou lutar contra seus próprios demônios para ter a vida que ele queria ter – uma vida repleta de nuances e contradições que, de certa maneira, o transformaram em um herói ainda mais impressionante do que aqueles que conhecemos das páginas de quadrinhos.
Partindo disso, Super/Man: A História de Christopher Reeve poderia ir pelo caminho mais fácil, apegando-se à nostalgia ao redor dos filmes clássicos do herói para narrar fatos como uma página da Wikipédia. Felizmente, não foi essa linha que os diretores Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, conhecidos pelo documentário McQueen (2018), optaram por seguir.
Assumindo que o público já conhece ou, pelo menos, tem uma breve noção sobre a trajetória de Reeve, o documentário tem como foco explorar – por meio de áudios de entrevistas dadas pelo próprio ator em vida, arquivos pessoais e relatos de amigos e familiares – o difícil período após o acidente de 27 de maio de 1995, quando ele foi jogado de cima de um cavalo durante uma competição nos Estados Unidos. O ator caiu de cabeça, fraturando a primeira e a segunda vértebra da coluna, uma queda que deixou o artista tetraplégico.
Por mais que Super/Man: A História de Christopher Reeve possa parecer um tanto quanto apressado e superficial quando fala da relação do ator com os pais separados, ou quando tenta mostrar algumas contradições de sua personalidade (como sua dificuldade de se comprometer por causa das turbulências que viveu dentro de casas divididas na infância, por exemplo), ainda assim não chega a ser algo incômodo em meio a narrativa levemente abrangente que o documentário constrói.
Isso porque o foco maior no acidente, ao invés de tentar contar toda uma vida em menos de duas horas, é uma escolha que permite com que os diretores aprofundem os momentos decisivos da família de Reeve após o ocorrido, e como o ator transformou sua missão na Terra em uma busca incessante por avanços na medicina para tentar se recuperar.
Algumas questões podem, sim, parecer meio apressadas ou até “jogadas” devido à decisão do recorte – e caso o espectador não conheça muito da jornada profissional de Reeve, como a breve menção ao caótico desenvolvimento de Superman 4: Em Busca da Paz (1987), período em que o astro estava bastante relutante em continuar vivendo o herói nas telonas – mas, no final das contas, não é um empecilho para que o objetivo final seja alcançado: mostrar como Christopher Reeve foi muito mais do que um herói da vida real.
Afinal, ao ouvirmos histórias e relatos de Reeve vindos de seus familiares e amigos próximos, há uma oportunidade de conhecer um pouco mais do homem que, por trás daquela imagem imponente do Superman, era imperfeito e falho como qualquer ser humano, mas que fazia o possível para ser a melhor versão de si mesmo. Isso se fez presente até em sua vida após o acidente, quando Reeve continuou superando seus próprios limites e escolhendo viver com esperança todos os dias.
Assim, Super/Man: A História de Christopher Reeve é emocionante na medida certa e não apela para a nostalgia com o intuito de criar um laço com o espectador — o carisma de Reeve já faz esse trabalho sozinho. Simples e modesto, o documentário faz uma bela homenagem ao ator com (re)contextualizações de seus trabalhos na frente das câmeras, traçando paralelos com a vida pessoal de Reeve de um jeito ágil e inteligente que auxiliam ainda mais na compreensão da persona do ator.
Indo e voltando no tempo, o documentário de Christopher Reeve percorre a vida de um ícone da cultura pop que inspirou multidões, seja usando uma capa vermelha ou compartilhando sua história de superação, com um carinho tão grande que é praticamente impossível não se sentir próximo do ator e de seus familiares. No final, o que fica é a reflexão de que o “ser um super-herói” vai muito além da imagem perfeita e imbatível que esses seres superpoderosos emanam. Christopher Reeve bem sabia disso.
Super/Man: A História de Christopher Reeve estreia em 17 de outubro nos cinemas brasileiros.
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