Crítica – O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim mostra que ainda temos boas histórias para serem contadas

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Crítica – O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim mostra que ainda temos boas histórias para serem contadas

Por Chris Rantin

Marcando gerações com sua história épica e emocionante, O Senhor dos Anéis se canonizou como um dos maiores ícones da cultura pop. Eternizado em duas trilogias aclamadas nos cinemas, o trabalho consagrado de J. R. R. Tolkien ganha um novo capítulo com A Guerra dos Rohirrim, filme animado que tem a difícil tarefa de encantar um público tão apaixonado ao contar uma história que se passa mais de 200 anos antes da jornada de Gandalf, Galadriel, Frodo e todos os outros personagens que cativam o coração do público.

Em O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim, descobrimos como o Rei Helm Mão-de-Martelo se tornou uma grande lenda entre os Rohirrim, sendo eternamente lembrado pela defesa da fortaleza que passou a receber seu nome: o abismo de Helm. Com  foco em um conflito mais mundano, fugindo das grandes guerras que uniram toda a Terra-Média para destruir um grande mal, o filme é protagonizado por Hera, filha de Helm, que precisa liderar seu povo em meio ao caos criado por seu antigo amigo Wulf, que lidera  exército inimigo em um grande massacre. 

Ficha técnica

Título: O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

 

Direção: Kenji Kamiyama

 

Roteiro: Jeffrey Addiss, Will Matthews, Arty Papageorgiou  e Phoebe Gittins

 

Data de lançamento: 12 de novembro de 2024

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 2h 14min

 

Sinopse: Em Rohan, um ataque surpresa de Wulf, um senhor Dunlendino astuto e implacável em busca de vingança pela morte de seu pai, força o rei Helm Mão-de-Martelo e seu povo a fazerem uma última resistência ousada na antiga fortaleza de Hornburg.

A maravilha do mundano

A ideia de entregar o protagonismo nas mãos de Hera é louvável. Senhor dos Anéis sempre chamou a atenção por suas personagens femininas memoráveis, ainda que muitas não recebam o protagonismo que lhes eram merecido. Portanto, mesmo que a história de uma guerra entre reinos inimigos seja um tanto clichê, ter o ponto de vista de Hera adiciona um frescor para a ideia. 

O que temos em A Guerra dos Rohirrim é a luta de uma mulher para ser ouvida e valorizada, bem como o desespero em se manter livre enquanto tenta liderar um povo amedrontado mesmo em meio à crescente escuridão. Nesse ponto é impossível não lembrar de Éowyn e estabelecer alguns paralelos entre as duas guerreiras Rohirrim. Afinal, ambas reforçam o legado de uma guerreira que, contrariando tudo que era esperado, conseguem se destacar em meio à tantas ameaças. 

No filme, temos os dramas das relações de Hera, que são construídas de uma forma bem interessante. Seja com o pai, Helm, que tem dificuldades em reconhecer a inteligência da filha, os irmãos que não ouvem os apelos dela, em Wulf, um pretendente desvairado que não aceita um não como resposta, ou no próprio povo Rohirrim que precisa aprender a ouvir a jovem. É fascinante acompanhar a forma que Hera amadurece e se prova constantemente ao longo da trama.

Todavia, olhando para a ideia do filme é impossível não se perguntar: há espaço em O Senhor dos Anéis para conflitos tão mundanos? Considerando todo o aspecto fantástico, as monstruosidades de Tolkien e todas as batalhas grandiosas cheias de magia e criaturas, é impossível não sentir um certo estranhamento ao ver que o foco é o desejo por vingança entre reinos humanos. Nada de elfos, orcs, goblins, aranhas gigantes ou grandes senhores das trevas em busca de mas poder. Apenas pessoas tentando resolver suas diferenças em batalhas. 

Aqueles acostumados com os filmes evento de Peter Jackson podem acabar decepcionados com a decisão de diminuir o escopo dessa trama. No entanto, A Guerra dos Rohirrim prova que nem só de anéis mágicos vive o mundo criado por Tolkien. Até mesmo nos conflitos mais “pé no chão” é possível testemunhar cenas épicas e tramas de tirar o fôlego, provando que ainda há muitas histórias desse universo para serem contadas em outras mídias. 

Entre erros e acertos, um filme animado

Trata-se, portanto, de um projeto ousado desde a sua concepção. Não apenas por fugir de grandes eventos registrados pelo autor dessa saga — Guerra dos Rohirrim adapta apêndices e trabalhos inacabados de Tolkien — mas também por apostar em um filme animado. 

Dirigido por Kenji Kamiyama, conhecido por seu trabalho com Ghost in the Shell, A Guerra dos Rohirrim chama a atenção por sua animação nostálgica. O filme apresenta uma arte muito bonita e que remete aos animes dos anos 1990, portanto um pouco mais engessada em alguns pontos. A decisão de revisitar esse universo a partir de uma animação caí muito bem para uma narrativa mais contida que está sendo contada. 

Afinal, se faltam grandes arroubos mágicos em uma disputa entre humanos, o filme animado permite capturar todos os exageros e absurdos desta história, transformando cada batalha em algo ainda mais épico, o que só reforça o caráter lendário do que estamos vendo. Das batalhas ao visual dos personagens, passando pelas (poucas) criaturas fantásticas que aparecem na trama, a animação permite que tudo seja intenso e emocionante, uma vez que não há nenhuma tentativa de apego ao realismo que o live-action tende a seguir mesmo em obras mais fantásticas.

 

No entanto, é preciso reconhecer que nem todas as ideias são bem executadas nessa mídia. Algumas cenas tentam reproduzir movimentos de câmera do cinema produzindo um resultado um tanto confuso e desastroso, especialmente por não adicionar nada além de segundos do público olhando para o cenário vazio na espera de alguma ação que nunca acontece.

Outro ponto que deixa a desejar e precisa ser mencionado é a duração do filme, que marca duas horas e quatorze minutos. Em muitos momentos, a narrativa se arrasta sem adicionar nenhuma profundidade na relação dos personagens ou no drama que eles estão passando. Há uma tentativa de fazer isso, claro, especialmente ao retratar o desgaste do povo Rohirrim diante de um cerco, mas são cenas que não expandem a trama que está sendo trabalhada. Temos inúmeros momentos que poderiam ser cortados ou reduzidos sem afetar negativamente o que está sendo contado, especialmente porque isso adicionaria um dinamismo muito necessário na trama. 

Nota: 3/5

Apesar dos tropeços, O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim prova que ainda temos muitas boas histórias desse universo para serem exploradas. O filme faz escolhas ousadas que, na maioria das vezes, são bem acertadas e reacendem o interesse do público no universo de Tolkien. Com uma história emocionante e divertida, o longa é uma boa adição ao cânone da franquia, ainda que pudesse ter aproveitado melhor certos elementos de sua narrativa. Levando isso em consideração, o filme leva 3 estrelas da LH

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim está em exibição nos cinemas.

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