Crítica – Meu Malvado Favorito 4 sofre para encontrar foco mas ainda tem fôlego para divertir

Capa da Publicação

Crítica – Meu Malvado Favorito 4 sofre para encontrar foco mas ainda tem fôlego para divertir

Por Jaqueline Sousa

Existe uma razão para Meu Malvado Favorito ainda render frutos para Illumination Entertainment, mesmo depois de mais de uma década desde o lançamento do primeiro filme. Com uma lua (meio) roubada, uma família que só cresce e as famosas criaturas amarelas na bagagem, a história de Gru, um supervilão que teve que aprender a equilibrar suas vilanias com a vida de pai adotivo, sempre aposta no lado familiar da coisa para dialogar com o público, apesar de todo o apelo lucrativo que os Minions possuem no estúdio.

Assim, graças a todos esses elementos, a grande família de Gru retorna mais uma vez, então, para Meu Malvado Favorito 4, animação que chega dois anos após o sucesso de Minions 2: A Origem de Gru (2022). Apostando em uma aventura descompromissada com direito a Minions superpoderosos, um arqui-inimigo que deixaria Franz Kafka orgulhoso e um novo bebê a bordo, o quarto longa-metragem da franquia conta com uma explosão de ideias que não vão para lugar algum, mas que, ainda assim, seguem comprometidas com aquilo que a saga de Gru sempre se propôs a entregar: diversão descompromissada.

Ficha técnica

Título: Meu Malvado Favorito 4

 

Direção: Chris Renaud

 

Roteiro: Ken Daurio e Mike White

 

Data de lançamento: 4 de julho de 2024

 

País de origem: Estados Unidos da América

 

Duração: 1h 35min

 

Sinopse: Gru dá as boas-vindas a um novo membro da família, Gru Jr., que pretende atormentar o pai. No entanto, sua existência pacífica logo desmorona quando um mentor do crime escapa da prisão e jura vingança contra Gru.

Pôster de Meu Malvado Favorito 4.

Nova animação, as mesmas vilanias

Em seu quarto ano na franquia, equilibrar a vida de agente secreto da Liga Anti Vilões com a atribulada rotina de pai de família já virou moleza para Gru (Steve Carell), mesmo com a chegada de um novo garotinho. Ao lado de sua esposa Lucy (Kristen Wiig) e suas queridas filhas adotivas Margo (Miranda Cosgrove), Edith (Dana Gaier) e Agnes (Madison Polan), o homem que construiu sua reputação na base da vilania agora precisa superar um desafio maior do que qualquer inimigo: conseguir conquistar o amor de Gru Jr., seu filho biológico cuja única diversão é atormentar o pai.

Mas é claro que, como nada está tão ruim que não possa piorar, Gru ainda tem que enfrentar a ameaça de Maxime Le Mal (Will Ferrell), um supervilão que possui uma história de longa data com o chefe dos Minions e que jura se vingar pelo mal que lhe foi causado. É assim que, mais uma vez, Gru e companhia se veem diante de uma corrida contra o tempo, em meio às trapalhadas dos bichinhos amarelos, para derrotar a nova ameaça.

Gru tenta se conectar com o filho em Meu Malvado Favorito 4.

Com retorno de Chris Renaud à direção de uma nova animação da franquia, Meu Malvado Favorito 4 é exatamente aquilo que você espera de um filme da saga de Gru, Minions e agregados. Sem se preocupar em propor reflexões ou trazer algum tipo de temática subentendida como recentes animações da Pixar, por exemplo, insistem em trazer – e não há nada de errado em seguir ambas as propostas – o quarto longa-metragem da galinha dos ovos de ouro da Illumination chega aos cinemas para contar mais uma história de Gru com aquela atmosfera descompromissada que apenas uma produção com Minions pode oferecer, para o bem ou para o mal.

Voltando um pouquinho às origens de Gru, Meu Malvado Favorito 4 já joga um novo conflito nas mãos dos espectadores logo na cena de abertura, onde acompanhamos o pai de família em uma arriscada missão para capturar Maxime Le Mal, um supervilão conhecido de seu passado que promete organizar uma vingança terrível contra Gru. Com uma característica única que relembra A Metamorfose, clássico escrito por Franz Kafka, e A Mosca (1986), de David Cronenberg, Le Mal conta com a ajuda de Valentina (Sofía Vergara), a namorada femme fatale do vilão (que não tem muito a oferecer na narrativa), e seu exército de baratas para alimentar uma revanche contra Gru, ameaçando tirar do arqui-inimigo tudo aquilo que importa para ele.

Ao lado da namorada Valentina, Maxime Le Mal é um supervilão que ameaça a paz de Gru em quarto filme.

Com uma premissa um tanto quanto batida e sem muita originalidade, a quarta aventura do nosso malvado favorito consegue encontrar fôlego nos momentos em que aposta no carisma da família de Gru, colocando o drama familiar no centro da discussão. Isso porque, mesmo que não tenha o mesmo brilho dos dois primeiros filmes da franquia, Meu Malvado Favorito 4 tem consciência de que, mais do que apenas colocar Minions fazendo qualquer palhaçada na tela, ressaltar as relações entre Gru, Lucy e as três meninas (e, agora, um novo menininho) é o caminho para continuar captando a atenção do público.

O mais legal, desta vez, é ver a família protagonizando seu próprio programa de proteção a testemunhas, pois a vingança de Maxime Le Mal os obriga a assumir novas identidades em Mayflower, um bairro florido e idílico cujos habitantes parecem ter saído diretamente da série The White Lotus graças aos comentários ácidos do roteiro assinado por Mike White – que é ninguém mais, ninguém menos do que o premiado showrunner do programa da HBO citado há pouco que adora colocar o dedo na ferida (e nas futilidades) de quem vive cheio da grana – em parceria com Ken Daurio, o roteirista de todos os filmes da franquia até o momento.

Ao colocar a família de Gru em um novo local e até mesmo com novos nomes, a animação reencontra seu potencial com sequências divertidas que mostram a adaptação de todos em um cenário aparentemente inofensivo, mas também performático. Afinal, o grupo precisa se adaptar para se manter seguro e permanecer longe das patas de Maxime Le Mal, nem que, para isso, Lucy tenha que fingir ser uma cabeleireira experiente e Gru tenha que resgatar seu Rivais (2024) interior para se conectar com o vizinho esnobe.

Um malvado mais que favorito

Apesar de a franquia Meu Malvado Favorito ter perdido um pouco da vivacidade que o primeiro filme possui, vale reconhecer os esforços da Illumination em continuar dando vida a uma saga que, por maior que seja o interesse monetário por trás, ainda consegue levar famílias às salas de cinema sem muito compromisso, optando por contar histórias simples e divertidas que provavelmente não vão mudar a sua vida – e elas nem se propõem a isso – mas que encontram seu espaço próprio sem precisar apelar para metáforas escondidas ou complexidades que apenas adultos vão entender.

Meu Malvado Favorito diverte com aventura familiar, mas tem dificuldade em encontrar foco na narrativa.

Novamente, não há nada de errado em querer usar o formato para dialogar com todos os públicos, mesmo que o foco seja o público infantojuvenil, e se aprofundar em certos temas. A Pixar vem fazendo esse trabalho bem-sucedido (apesar da recente crise) há anos, como fica nítido no recém-lançado Divertida Mente 2, que agora apresenta a protagonista, Riley, no início da adolescência, explorando novos sentimentos, como a Ansiedade e a Inveja, para tratar de temáticas universais e extremamente identificáveis por qualquer ser humano, ou no curioso caso de Elementos (2023), que aposta em uma enxurrada de metáforas para tentar emplacar uma história estrelada por elementos da natureza.

Se feito de maneira sincera e humana, existe sim uma beleza em usar a animação para falar sobre as adversidades da vida, dos altos e baixos do amadurecimento e da complexidade dos nossos sentimentos. Mas também é preciso levar em consideração que a existência de propostas diferentes no formato – até mesmo aqueles filmes que muitos classificam apenas como “bobinhos e divertidos” – possuem seus méritos, e aí que Meu Malvado Favorito entra.

Afinal, às vezes, uma cena musical ao som do clássico Everybody Wants to Rule the World, do Tears for Fears, no meio de uma prisão pode transformar o seu dia com um simples sorriso. Ou até mesmo ver Minions ajudando o chefe a cuidar do filho pequeno, do jeito mais Minion de ser.

Com Minions fazendo suas trapalhadas, Meu Malvado Favorito 4 repete entretenimento descompromissado de filmes anteriores.

Ainda assim, não dá para ignorar que Meu Malvado Favorito 4 tem seus problemas. Se, por um lado, a narrativa diverte o público com o drama familiar de novas identidades, a produção da Illumination sofre para encontrar um foco. Com uma trama que parece quase episódica, a sensação que fica quando os créditos sobem na tela é que houve uma dificuldade em amarrar todas as subtramas que vão aparecendo ao longo da história, sendo que algumas acabam ofuscando consideravelmente a grande ameaça do filme.

A chegada de Poppy (Joey King), por exemplo, a filha do vizinho esnobe de Gru que sonha em ser uma supervilã, certamente acaba conquistando mais a atenção do que Maxime Le Mal e sua fraca motivação de vingança contra o rival. Ou as tentativas da família em se adaptar ao novo lar, que acabam ganhando mais destaque do que a relação de Gru e seu filho, um conflito que permeia toda a narrativa, mas que não tem tempo suficiente para ser desenvolvido justamente pela dificuldade da trama em selecionar suas batalhas.

Poppy, filha do vizinho esnobe de Gru, sonha em ser uma supervilã e conta com a ajuda do protagonista para orquestrar um roubo.

Até mesmo a inclusão de Minions super-heróis luta para encontrar espaço na animação, que parece esquecer, em vários momentos, da existência deles na narrativa. Ao que parece, a tal fadiga de super-heróis, que protagonizou algumas discussões da indústria cinematográfica nos últimos anos, mal chegou à franquia da Illumination e já perdeu seu apelo em pouco mais de uma hora e meia.

Logo, seja na jornada de vilania de Poppy, na recusa de Agnes em mentir um nome para se proteger das ameaças de Maxime Le Mal ou nos Minions com poderes especiais, Meu Malvado Favorito 4 não sabe muito bem para onde quer ir com todas as ideias que apresenta. É uma animação divertida, mas que também não consegue sustentar sua narrativa por muito tempo devido à ânsia para colocar tudo que for possível à disposição do público.

O resultado, então, é mais uma adição inconstante à franquia, que já não conseguiu animar muito com o fraco Meu Malvado Favorito 3 (2017) e encerra sua quarta jornada sofrendo para construir ritmo e desenvolvimento de personagens na trama. Resta saber se esse comprometimento do estúdio em sempre apostar na diversão familiar, por mais válido que seja, ainda vai conseguir sustância com a passagem do tempo, ou se a marca por trás das criaturas amarelas é forte o bastante para, assim como Gru, ultrapassar qualquer obstáculo que aparecer no caminho apenas se apoiando nos Minions.

Nota: 3/5.

Meu Malvado Favorito 4 estreia em 4 de julho nos cinemas.

Aproveite também: