Crítica: Invencível Temporada 2, Parte 2

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Crítica: Invencível Temporada 2, Parte 2

Por Gabriel Mattos

Invencível, a sangrenta animação da Prime Video, não quer mais manter o público esperando. Compensando a demora da série no passado, a parte final da segunda temporada já está prestes a estrear em 14 de março, poucos meses após a primeira leva de episódios. A Legião dos Heróis teve a chance de assistir tudo com antecedência para contar em detalhes o que você pode esperar dessa épica conclusão, que segue entretendo, mesmo ao perder o fôlego.

Ficha técnica

Título: Invencível (Invincible)

 

Criação: Robert Kirkman, Ryan Ottley e Cory Walker

 

Roteiro: Simon Racioppa, Matt Lambert, Adria Lang e Helen Leigh

 

Ano: 2024

 

Emissora/Streaming: Prime Video

 

Número de episódios: 4 (Temporada 2, Parte 2)

 

Sinopse: Depois de um reencontro sangrenta com seu pai, Omni-Man, o Invencível precisa descobrir que caminho seguir como herói, enquanto forja novos aliados e enfrenta grandes inimigos que podem mudar tudo.

INVINCIBLE season 2 (2023) : r/TextlessPosters

Uma derrota para o Invencível?

Depois do final surpreendente da primeira parte, com uma reviravolta gigantesca, a série não poderia deixar de dedicar boa parte de seu retorno para explorar exatamente como esta revelação impactou seus personagens. Sentiu um dejà vu? Não é por acaso. A volta da história repete a mesma fórmula do início da temporada, focando muito no drama pessoal do elenco após uma grande revelação, que curiosamente também tem o Omni-Man como peça-chave.

E apesar do roteiro explorar o emocional de cada personagem de uma forma interessante, não deixa de parecer monótono assistir a mesma estrutura novamente em um período tão curto de tempo. Nada parece exatamente inédito nos quatro episódios apresentados. Tirando uma única personagem nova, tudo é uma grande reciclagem do que veio antes: os mesmos vilões, os mesmos dilemas e as mesmas conclusões.

Quando existe uma grande ameaça multidimensional a espreita, retornar aos mesmos vilões mundanos já não funciona tão bem. Mesmo os de origem espacial parecem pequenos comparados ao potencial do multiverso, que a série nunca chega a explorar muito bem. É como se fossem apenas uma forma que os roteiristas encontraram para ganhar tempo com o público antes de chegar o momento de seu confronto principal. Pelo menos ainda rende lutas divertidas de acompanhar, com toda a bela brutalidade e dinamismo que se espera da animação.

SEASON 2 PART 2 PREDICTIONS : r/Invincible

Ainda assim, fica difícil escapar do sentimento de que a trama não está avançando como deveria. A primeira parte já demonstrava uma atmosfera típica de um período de transição. A esperança era de que a narrativa engataria na metade seguinte, o que não é o caso. Amarrando mais pontas soltas, sem pressa alguma em entregar o próximo grande momento da história, a segunda temporada como um todo tem uma grande energia de filler, mesmo que ainda adapte os eventos da obra original.

Sem grandes acontecimentos, quem rouba a cena são os personagens secundários. Os roteiristas souberam aproveitar muito bem a pausa para respirar que a trama principal tirou para esculpir mais profundidade em personagens que antes eram lisos como uma porta. O Imortal, de longe, foi o mais beneficiado, com um arco de autocrítica que traz alguma complexidade ao herói mais chocho da série, que só servia como saco de pancadas do poderoso da vez.

O Robô e a Menina Monstro também surpreendem, evoluindo lentamente sua relação com dilemas convincentes sobre limites e vulnerabilidade. Até o Donald, o assistente genérico de Cecil na agência secreta, tem o seu momento de brilhar com mais uma subtrama desimportante. E o que mais impressiona é como todos eles entregaram mais sinceridade que Rex-plosão, que com muito mais tempo de tela tem avanços mínimos e pouco sinceros em sua personalidade. Continua perdido na história, provando que não tem muito o que oferecer além de ser um alívio cômico de qualidade dúbia.

Invincible' Season 2 Part 2 Debuts New Trailer

Essas doses cavalares de drama, vinda de todos os lados, reforçam que este é um momento em que os vilões ficam de escanteio e a introspecção toma o palco principal. Esta não é uma temporada muito interessada no lado glamouroso de ser um herói. Não é uma história sobre glória, é sobre o lado mais cético desta fantasia. Os personagens estão a todo momento precisando enfrentar as consequências pelo simples fato de serem heróis, como perdas e sacrifícios pessoais — e não é diferente com Mark Grayson.

O enredo do protagonista tira uma breve folga dos complexos paternais de sempre para explorar a vida normal de adolescente que Mark precisou abrir mão para se tornar o Invencível. Grande parte dos dilemas do jovem surgem da impossível tarefa de tentar equilibrar a vida de herói, que está tentando compensar sua vasta linhagem de genocidas intergaláticos, com os planos que tinha feito para o seu futuro civil: se formar na faculdade e ter um relacionamento saudável com a namorada. Se já é difícil para a gente que tenta ter vida social com carteira assinada, para Mark Grayson o buraco é bem mais embaixo.

A forma como a trama explora seu relacionamento com Amber é surpreendentemente madura e consciente, trazendo certas mudanças ao apresentado pelos quadrinhos de uma forma mais condizente à proposta mais coesa da série. Funciona. É delicado, agridoce e carinhoso, de um jeito que faz sentido para alguém que precisa sufocar sua solidão em nome de um bem maior. Uma ótima distração antes do grande conflito interno de Mark voltar a ser o medo de se tornar como seu pai.

Invincible" Neil Armstrong, Eat Your Heart Out (TV Episode 2021) - IMDb

Nesse aspecto, o sentimento cíclico da estrutura repetitiva da narrativa se torna um trunfo. Abre espaço para situações parecidas com o passado que enquadram bem os paralelos entre a jornada de Mark para se encontrar e as ações de Nolan Grayson. Se a primeira parte da temporada refletia sobre que tipo de herói o protagonista viria a ser, os novos episódios desafiam o Invencível a descobrir na marra. Quem é Mark Grayson nos momentos de pressão? A resposta abre um caminho interessante no futuro do herói, ao mesmo tempo que recontextualiza de forma curiosa as atrocidades de seu pai.

Um ótimo desfecho que surge de um conflito um tanto anticlimático com Armstrong Levy. Apesar de seguir à risca os acontecimentos dos quadrinhos, a luta não funciona tão bem na animação. Ainda é ótimo ver o super vilão avançar com fúria nos olhos para cima de Mark, como uma América Chavez sanguinária. Mas são tantas interrupções ao ritmo da batalha, para explorar o multiverso da forma mais sem sal possível, amarrado ao máximo por questões legais, que quando parece que a ação vai engatar, ela termina de forma bem precoce. Algo a ser trabalhado na próxima temporada.

De forma geral, a segunda temporada de Invencível trouxe exatamente o que os fãs esperavam da série — nada mais, nada menos. Ao longo dos oito episódios, a animação entrega lutas incríveis, muito bem coreografadas, uma fluidez absurda e muito drama, questionando muitas situações corriqueiras de histórias de herói com um certo bom humor. O problema é que, chega em um ponto, que as reviravoltas se tornam previsíveis e corriqueiras. E a trama vai precisar mudar drasticamente de rumo se pretende conquistar o público por mais temporadas.

Nota: 3,5/5

Nota: 3,5/5

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