[Crítica] A Lenda de Vox Machina: 3ª Temporada

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[Crítica] A Lenda de Vox Machina: 3ª Temporada

Por Chris Rantin

Basta ser fã de RPG para já ter cruzado com alguma menção ao grupo Critical Role, dubladores norte-americanos que começaram, de forma despretensiosa, um jogo entre amigos e acabaram construindo um império absurdamente lucrativo. E foi assim que A Lenda de Vox Machina, a primeira campanha do grupo, conquistou a oportunidade de ser transformada em série animada pelo Prime Video — com a animação da segunda campanha já em desenvolvimento. 

A Legião dos Heróis recebeu a terceira temporada completa de A Lenda de Vox Machina e gostou do que viu.

Depois de dois anos abusando de momentos de violência intensa e gore — por vezes de forma gratuita para se posicionar como uma obra adulta e ousada, como pontuamos na crítica da primeira temporada — a terceira temporada de A Lenda de Vox Machina toma uma decisão ousada em frear esse exagero. 

Ainda temos cenas bem gráficas em que a ação resulta em desmembramentos, tortura e toda a carnificina que os fãs tanto gostam de ver, mas se antes isso era o grande destaque do seriado, agora as entranhas sanguinolentas murcham em comparação com o desenvolvimento dramático que Vox Machina recebe. 

Com três dragões do Conclave Cromático para enfrentar, com um deles tendo o poder de um Deus e o outro sendo uma criatura ardilosa que pode ou não estar preparando uma armadilha para os heróis, o grupo está lidando com muita pressão. Em meio a essa tensão sufocante, a série entrega momentos que servem para amadurecer a equipe na mesma medida que machuca seus integrantes. 

Se a primeira temporada foi quase integralmente focada em Percy e a segunda deu destaque principalmente para os arcos de Vax, Grog e Scanlan, a terceira temporada entrega o protagonismo nas mãos de Vex, Pike e Keyleth. Mesmo sendo muito bom ver as heroínas finalmente ganhando um aprofundamento necessário, essa divisão continua causando desconforto

Divisão do protagonismo da série continua causando desconforto

Afinal, enquanto Critical Role é um programa com centenas de episódios de mais de quatro horas de duração, A Lenda de Vox Machina tem apenas doze episódios de trinta minutos para adaptar essa história. Na prática, isso significa que muita coisa precisa ser deixada de lado para que a história da temporada seja desenvolvida de forma fluída e direta. 

Com isso, vemos personagens que, ainda que classificados como protagonistas, aparecem pouquíssimas vezes na trama e tem um impacto quase nulo nos arcos principais. O que é uma pena, considerando o quanto cada herói esbanja carisma em suas peculiaridades e relações intrapessoais. 

Apesar da divisão complexa, Pike, Vex e Kiki entregam histórias diferentes que caminham para o mesmo lugar: as dores do amadurecimento. As três personagens passam por momentos dramáticos que adicionam camadas de complexidade e nuance para as heroínas, que precisam confrontar seu passado e suas incertezas para finalmente crescer. E isso é fascinante de assistir, trazendo a sensação de ápice para arcos narrativos que estavam presentes desde o começo da série.

A decisão de priorizar o desenvolvimento pessoal e dramático em detrimento da ação sem limites que vimos nas temporadas anteriores não significa que a terceira temporada é um marasmo. Afinal, além de três dragões para lidar, o grupo também precisa marchar para o inferno em busca de mais poder. Dessa forma, a série parece ter encontrado um ritmo menos frenético mas que resulta em cenas impactantes, provando que na, maioria das vezes, menos é mais

Reduzindo a ação para focar no drama, terceira temporada segue por caminhos arriscados

É uma decisão que parece ousada, especialmente quando lembramos que a segunda temporada já se iniciava com o massacre promovido pelo Conclave Cromático, mas que serve para exaltar os dramas pessoais do grupo. 

Ainda que a ação seja uma parte essencial para Critical Role, os fãs de RPG se apaixonaram por Vox Machina por conta da dinâmica entre o grupo e os arcos narrativos emocionantes. No entanto, resta saber se os fãs do seriado não estranharão essa pisada no freio bem na conclusão do arco do Conclave Cromático.

Falando sobre os aspectos mais técnicos, a cada ano que se passa a animação de Vox Machina parece se tornar cada vez mais elegante. Nessa terceira temporada, os momentos de desconforto que tiravam a imersão do espectador nas trocas de estilo de arte (do 2D para o 3D para priorizar cenas com mais movimento ou que demandavam mais profundidade) foram reduzidos. O resultado é algo visualmente mais suave

Os fãs que amam Critical Role terão um balde cheio de referências, easter-eggs e cameos. Para não perder nada, é importante prestar atenção no plano de fundo das cenas, uma vez que muita coisa se esconde por lá. Isso resulta em uma caça ao tesouro bem divertida, especialmente para relembrar de alguns momentos do jogo de RPG que acabaram não sendo incluídos no seriado. 

A Terceira temporada de Vox Machina leva 3,5 da LH

Tomando algumas decisões ousadas e ainda encontrando dificuldade em desenvolver todos os protagonistas em uma quantidade limitada de tempo, a terceira temporada de A Lenda de Vox Machina cumpre a árdua missão de adaptar uma obra tão fascinante. Divertido e contendo doses cavalares de entretenimento e drama, o terceiro ano de Vox Machina leva 3,5 estrelas da Legião.  

A terceira temporada de The Legend of Vox Machina, estreia no dia 03 de outubro de 2024.

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