X-Men ‘97: Roteirista manda recado e abandona o Twitter após acusações de “whitewashing”, entenda
X-Men ‘97: Roteirista manda recado e abandona o Twitter após acusações de “whitewashing”, entenda
Roteirista, que é negro, chegou a ser chamado de “traidor da raça”
A primeira produção da Marvel Studio estrelada pelos tão aguardados mutantes, cujo a existência foi sugerida na série Ms. Marvel, será na animação X-Men ’97. O projeto continua a história de X-Men: A Série Animada, o desenho clássico dos anos 90, introduzindo novos heróis ao elenco. Porém, a divulgação do ator escolhido para dar voz ao Mancha Solar, o brasileiro Gui Agustini, causou revolta nas redes sob acusações de whitewashing – quando . Os ataques ao roteirista Beau DeMayo foram tão pesados que o produtor resolveu abandonar o Twitter, mas não sem antes deixar um recado para os fãs (via CBM).
O que aconteceu?
Em uma série de publicações, DeMayo avisa que vai se ausentar por tempo indeterminado da rede. O produtor garante que ouviu as reclamações educadas sobre o assunto, mesmo daqueles mais acalorados, por entender que é um tópico sensível.
Contudo, o bombardeamento de críticas, em suas palavras, “corre o risco de funcionar contra o que vocês querem fazer, já que acabou fechando um canal de acesso com a produção”, uma vez que o roteirista decidiu deixar de atualizar o público sobre os bastidores da animação para se proteger. O produtor ainda repreendeu aqueles que atacaram diretamente a sua pessoa em vista de uma decisão que, provavelmente, foge do seu escopo.
“E aqueles que atacaram o meu corpo, meu estilo de vida, minha inteligência, ou que me chamaram de traidor da raça por conta de um vazamento que eu nem posso comentar no momento… Eu não sou a típica pessoa que vocês veem nessa posição em uma marca desse tipo, e quando usuários começam a tentar me reportar ou pedir minha demissão, é desanimador. Agora, não é só porque eu pertenço à essa raça ou aquela identidade que vamos sempre concordar. Nós valorizamos o individualismo. Parte do que eu valorizo em representatividade é a chance de um indivíduo finalmente contar a sua história com a sua voz,” declara.
DeMayo é um roteirista negro que cresceu se sentindo representado nas histórias dos X-Men. Adotado por uma família branca do sul dos Estados Unidos, o produtor precisou aprender sozinho a enfrentar o isolamento que vem do preconceito, algo que via refletido nas páginas dos Filhos do Átomo. Alguns fãs usaram estereótipos de sua raça e de sua sexualidade, como homem gay negro, para desmerecer sua posição como showrunner da animação.
O histórico de whitewashing do Mancha Solar
Os ataques começaram após a divulgação precoce de que o brasileiro Gui Agustini seria a voz de Roberto da Costa, o Mancha Solar. O personagem, negro retinto nos quadrinhos originais, foi adaptado para live-action em duas ocasiões, sendo interpretado por atores brancos em ambos os casos: Adan Canto, em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, e o brasileiro Henrique Zaga, em Os Novos Mutantes.
Durante esta última escalação, o diretor do longa Josh Bone deu uma declaração bastante polêmica alegando que não se baseou na cor de pele para escalar seu personagem. Seu objetivo foi “representar o Brasil de uma forma positiva” com “alguém que se parecesse como quem nasceu em um berço de ouro, que tem um pai realmente rico”, coisas que o diretor não relaciona com uma pessoa preta.
Esta mentalidade é um dos principais motivadores da prática de whitewashing em Hollywood, que consiste em escalar atores brancos em adaptações de personagens originalmente negros para manter a hegemonia branca do imaginário de poder. Acontece especialmente por produtores e diretores que não acham que um ator negro combinaria com as características positivas de um personagem, como aqueles que tem prestígio na sociedade.
O que o roteirista tem a dizer sobre a situação?
Assim, depois do gosto amargo deixado pelas declarações racistas da última grande aparição de Mancha Solar em um filme da Marvel, havia uma grande expectativa de uma mudança em X-Men ’97, que enfim refletisse o personagem como foi concebido. Entretanto, não foi o caso. E quando a informação veio a público no Twitter, o primeiro instinto de DeMayo foi desencorajar uma discussão mais ampla sobre o assunto, o que gerou uma onda de críticas. Sua resposta na ocasião foi a seguinte:
“Não é uma crítica válida. É uma crítica desinformada e eu vou defender minhas decisões e minha equipe — que inclui uma série de pessoas racializadas que viveram o mesmo ódio e dificuldades que os X-Men enfrentam. Elas não são brinquedos para o seu debate. E eu não vou tolerar fãs que acreditam que tem o direito de serem juízes na identidade de alguém, se eles são ‘isso’ ou ‘aquilo’ o suficiente. É ignorante e uma violação da humanidade de um indivíduo e eu não vou deixar. Tal comportamento troca classe por desrespeito.
No momento certo, vai ficar bem mais claro quais decisões tomamos e o porquê. Quando a Marvel me liberar, vou ser bem franco e transparente. Mas agora eu sinto o mesmo cheiro de engajamento por ódio que é muito comum em nossa cultura — em que nós tipicamente vemos uma única folha caída que não gostamos por algum motivo e exigimos que toda a floresta seja queimada para satisfazer nossa indignação furiosa.
Se poupem do estresse e apenas aguardem. Vocês podem se surpreender.”
A resposta pegou o público de surpresa considerando o histórico do próprio produtor. No início da produção, DeMayo sugeriu que havia trocado a dubladora da Jubileu, por exemplo, em prol de uma atriz asiática. Parece ser um caso de confusão da parte do roteirista em entender as nuances da questão de raça para o povo brasileiro e da América Latina em um geral.
Mesmo sem confirmar a escalação de Agustini, as declarações de DeMayo sugerem que o roteirista acredita que o ator escalado possa ser considerado negro, talvez levando em consideração o entendimento estadunidense de etnia. Assim, na visão do produtor, o público poderia estar questionando a negritude de um ator, na mente de DeMayo, negro, o que é uma situação bem complexa.
Mas e você? Qual é a sua perspectiva na questão? Não deixe de comentar.
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