Como Stan Lee usou uma história do Homem-Aranha para enfrentar organização que censurava quadrinhos
Como Stan Lee usou uma história do Homem-Aranha para enfrentar organização que censurava quadrinhos
O cocriador do herói peitou de frente o Comics Code Authority!
Stan Lee foi um dos maiores nomes do mercado de quadrinhos. Tendo sido o cocriador de diversos heróis famosos do Universo Marvel, como os X-Men, o Pantera Negra, o Quarteto Fantástico e o Homem-Aranha, o autor norte-americano deixou sua marca na indústria da Nona Arte para sempre – e um dos momentos mais importantes de sua carreira se deu quando ele enfrentou o Comics Code Authority (via Collider).
Para quem está por fora, o Comics Code Authority foi uma organização fundada na década de 50, composta em sua maioria por integrantes do mercado editorial de quadrinhos. Sua função era “aprovar” gibis com base em sua moral e bons costumes, censurando qualquer coisa que fosse considerada inapropriada para jovens leitores. A organização então colocava um selo de aprovação na capa das HQs, e vendedores geralmente se recusavam a vender quadrinhos que não tivessem essa marca.
Durante anos, o Comics Code Authority foi responsável por banir e inviabilizar a produção de histórias de horror e suspense, ou tramas envolvendo criaturas sobrenaturais como vampiros e lobisomens. Foi graças a eles que as editoras especializadas em horror, como a EC Comics, tiveram que fechar as portas.
Lee e a Marvel sempre se mantiveram nos limites do aceitável para o CCA, de modo que nunca cruzaram a linha dos temas “pesados” combatidos pela organização, como uso de drogas, gore, sexualidade e desrespeito às autoridades. E o sucesso da empresa de Lee foi tanto que, em 1971, o Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar norte-americano encomendou uma história educativa sobre os perigos das drogas.
Assim, surgiram as histórias de The Amazing Spider-Man #96-98, ilustradas por Gil Kane. Na trama, o nosso Amigão da Vizinhança precisa enfrentar o Duende Verde, enquanto salva um homem drogado de cair do topo de um prédio. Eventualmente, descobrimos que esse homem era Harry Osborn, que havia se viciado em pílulas.
Quando a história foi apresentada para o CCA, ela logo foi rejeitada, com a desculpa de que não batia com os valores da organização, por mais que Stan Lee declarasse que a mensagem era “anti-drogas“. Sem a aprovação, Lee decidiu publicar as duas histórias sem o selo do CCA, em uma manobra inédita no mundo dos quadrinhos.
As duas edições foram um sucesso de vendas, mesmo sem a aprovação da organização. Além disso, elas foram muito bem elogiadas pelos pais de jovens leitores e pelo Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar. O CCA então se viu em uma situação delicada, sendo forçado a retrabalhar sua lista de normas para não cair no ridículo.
Pouco tempo depois, nas décadas de 7o e 80, tanto a Marvel quanto a DC Comics iriam desafiar ainda mais as regras impostas pelo Comics Code Authority. Por volta do começo dos anos 2000, várias editoras pararam de se “adequar” ao selo, que caiu em desuso oficialmente em 2011. Mas a desobediência de Lee foi o pontapé para uma mudança bem grandiosa na indústria.
Essa história é contada no documentário Stan Lee, presente no Disney+.
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