Review — WarioWare: Move It! traz o espírito do TikTok para os games de um jeito ridiculamente divertido
Review — WarioWare: Move It! traz o espírito do TikTok para os games de um jeito ridiculamente divertido
Minijogos rápidos, hilários e esquecíveis refletem bem a geração atual
Muito antes da existência do TikTok, outro lugar já oferecia entretenimento de qualidade duvidosa, com poucos segundos de duração, bastante variedade e risadas garantidas — a franquia WarioWare. O bigodudo ganancioso pode ter estreado no Nintendo Switch com Get It Together!, mas é com WarioWare: Move It! que mostra todo seu potencial no console. Mais uma vez o game entrega o que a série sabe fazer de melhor, só falha em evoluir de forma condizente com a era mais instantânea da internet para ser ainda melhor.
Ficha Técnica
Título: WarioWare: Move It!
Data de Lançamento: 3 de novembro de 2023
Desenvolvedora: Nintendo
Plataformas: Nintendo Switch
Gênero: Microgames, party
Tradução para Português: Não
A versão mais bizarra de “o mestre mandou”
Como de costume, Move It! é uma coletânea de microgames absurdamente simplificados preocupados em explorar a intuição e o pensamento rápido dos jogadores em seus desafios. Em cerca de cinco segundos, o narrador pode te pedir para servir uma bandeja como se fosse um garçom ou desviar de obstáculos voando em uma vassoura como uma bruxa. É basicamente uma versão da clássica brincadeira infantil “o mestre mandou” comandada por Wario e seu senso de humor torto. Não existem limites para a criatividade dos minigames e é isso que os torna tão interessantes e imprevisíveis.
Um humor bobo de escola também é marca registrada da franquia. Com um robusto elenco de personagens, cada fase reúne pouco mais de uma dúzia de desafios que são apresentados com uma breve história bem boba, mas com personagens que esbanjam personalidade e carisma. É muito difícil não esboçar um sorriso com as situações mais esquisitas que essa galera se sujeita só para te divertir.
Assim como WarioWare Smooth Moves, de Nintendo Wii, os microgames foram pensados para explorar ao máximo o potencial do controle de movimentos do Nintendo Switch. Para interagir com os estranhos desafios, o jogador precisa imitar poses genuinamente ridículas e pensar como adaptá-las para a situação apresentada. Abrir os braços como a boca de um jacaré, imitar um trem, uma galinha, um arqueiro… As possibilidades são bem curiosas, abrangentes e bem utilizadas, desafiando os limites da vergonha alheia pelo bem do entretenimento.
Trocar os controles tradicionais de botão por algo mais inovador com certeza foi a escolha certa. Essa é uma marca registrada dos melhores games da franquia, como WarioWare Touched!, de Nintendo DS — saber explorar ao máximo o que há de único no console em que foi lançado. E Move It! faz um esforço considerável para surpreender com os Joy-Con, utilizando de maneiras que muitos sequer lembravam que eram possíveis. Uma certa pose, por exemplo, usa a câmera infravermelho do fundo do controle direito para ler os gestos de sua mão, permitindo jogos de jokenpo e outras interações simples. Simplesmente genial. Porém, nem sempre a execução funciona de forma tão consistente.
Existem certas poses que, não importa o quanto tentava, não eram registradas da melhor maneira possível e acabavam transformando a intuição que muitos microgames acabam proporcionando em pura frustração. Especialmente a pose de agachamento, já que o Switch não tem sensores nativos para as pernas, e a que se espelha em um cabo de guerra. Talvez experimentar com outras poses que funcionassem com o nível de precisão que o Joy-Con oferece teria oferecido um resultado mais consistente.
E a maneira que essas poses são apresentadas ao jogador também não é muito boa. Cada fase costuma introduzir uma ou duas novas formas de jogar — o que é bem inteligente, para não sobrecarregar o jogar — mas que exige uma pausa na jogabilidade frenética, que costuma pular de um desafio para o próximo, para que o narrador leia as instruções da forma mais lenta possível. Não existe um modo de simplesmente pular essa leitura ou encurtar o tempo, o que acaba sendo frustrante. Para um jogo que está sempre acelerando o seu ritmo, forçar um freio tão artificial acaba tirando o jogador da experiência.
Acaba sendo uma sensação parecida a ser obrigado a assistir propagandas no meio de um vídeo do YouTube. Porém, a experiência de WarioWare é mais parecida com o TikTok e a plataforma chinesa sabe que, para manter o público engajado, a melhor maneira é sempre entregar mais conteúdos de forma quase infinita. Pausas obrigatórias, como essa das instruções, não funcionam e a falta de diversidade também é outro problema.
Apesar de ter uma seleção razoável de microgames, por serem tão curtinhos, completá-los não toma muito tempo. Depois de poucas horas com o jogo, bate rapidamente a sensação de já ter visto tudo que há para ser visto. E como muitos microgames apostam no choque das situações ridículas, acabam perdendo um pouco da graça quando são repetidos. Para prender a atenção dos jogadores poder mais tempo, Move It! poderia ter aplicado uma lógica parecida com o TikTok — permitir que os próprios jogadores criassem seus microgames. Não é uma ideia inédita na série, afinal é toda a proposta de WarioWare: D.I.Y., do Nintendo DS, e encaixaria como uma luva no Nintendo Switch.
Para quem tem companhia, isso não chega a ser um grande problema. Quando o conteúdo inédito acaba, existem formas ainda mais divertidas de interagir com os microgames do Move It! graças aos criativos modos multiplayer local. As maneiras que o jogo encontra de expor o jogador ao ridículo na frente dos amigos são geniais e garantem momentos de diversão genuína. Existe, por exemplo, um modo que pede para que um jogador de costas para a televisão tente vencer os microgames só imitando os movimentos de um amigo. E é fácil imaginar como isso pode ficar vergonhosamente divertido muito rápido. Vale a pena experimentar sempre que tiver a oportunidade de sacanear um novo amigo.
Falta uma certa sensibilidade em WarioWare: Move It! em olhar ao redor para entender como a franquia pode evoluir da melhor maneira. Ainda assim, este é um game perfeito para relaxar e rir um pouquinho de como a vida pode ser ridícula. Move It! acerta em cheio no que mais importa, que é resgatar o espírito zombeteiro tão marcante da franquia e apresentar para uma nova geração ainda mais acostumada com sua natureza hilária e instantânea. Pode ser um pouco sofrido desembolsar tanta grana em um jogo de microgames, mas quem estiver disposto vai encontrar uma fonte de risadas genuína.