Review: Superfuse mostra que é preciso mais do que os ingredientes certos para uma receita de sucesso

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Review: Superfuse mostra que é preciso mais do que os ingredientes certos para uma receita de sucesso

Por Melissa de Viveiros

O que acontece quando se mistura a jogabilidade de Diablo II, um mundo sci-fi pós-apocalíptico e super-heróis criados pela elite para servir ao interesse deles? Superfuse, RPG de ação da Stitch Heads Entertainment, traz essa mistura que aparentemente tem tudo para dar certo – mas mostra que não basta ter as peças certas sem saber colocá-las para funcionar do melhor modo possível.

Ficha Técnica

Título: Superfuse

 

Desenvolvido por: Stitch Heads Entertainment

 

Distribuído por: Raw Fury 

 

Plataformas: PC (Steam)

 

Gênero: RPG de Ação (ARPG)

 

Data de lançamento: 31 de janeiro (Acesso Antecipado)

Requisitos

Mínimos

Sistema Operacional: Windows 10+
Processador: i5-6500 / AMD Ryzen 3 3300U ou equivalente
Memória: 8 GB de RAM
Placa de vídeo: Geforce 1060 3GB / AMD Radeon RX 5600 ou equivalente
Armazenamento: 15 GB de espaço disponível

Recomendados

Sistema Operacional: Windows 10+
Processador: i7 9700 / AMD Ryzen 5 4600U
Memória: 16 GB de RAM
Placa de vídeo: Geforce 2060 6gb / Radeon RX 5700
Armazenamento: 15 GB de espaço disponível

Configurações do sistema utilizado

Sistema Operacional: Windows 11
Processador: Intel Core i7-11800H @ 2.30GHz 2.30 GHz
Memória: 16 GB de RAM
Placa de vídeo: GeForce RTX 3060

Quando heróis não são o bastante para salvar o dia

Antes de mais nada, gostaria de destacar que o jogo está em Acesso Antecipado. Assim, a review foi feita de acordo com a experiência atual, que pode mudar muito até o lançamento oficial do game. 

Se um dia super-heróis foram um interesse de nicho, esse tempo atualmente é um passado distante. Dos filmes que apresentam essas figuras de modo tradicional, como o Universo Cinematográfico da Marvel, às séries que tecem críticas ao que seres superpoderosos seriam na vida real, como The Boys, o que não faltam são abordagens do tema nas mídias atuais. Nos games, Superfuse decidiu utilizar de uma construção semelhante que chama a atenção no início – mas não se sustenta por muito tempo sem trazer algum frescor para o tema.

Foi seu visual inspirado em quadrinhos que mais me chamou a atenção inicialmente, e mantenho que é um de seus elementos mais interessantes. A arte do game é ótima, seus personagens jogáveis tem silhuetas diferentes que logo deixam claro o tipo de jogabilidade que proporcionam. É uma pena que isso não se reflita nos cenários, prejudicados por uma mesmice que não torna interessante explorá-los – e é ainda mais triste que este seja um problema que permeia todo o jogo.

Visual do jogo tem forte inspiração em HQs.

O game é um ARPG, ou seja, um RPG de ação, combinando estes dois elementos de modo a enfatizar o combate em tempo real inspirado em hack and slashs ou shooters. Superfuse bebe em particular da fonte de Diablo II, como a própria descrição do game em sua página na Steam deixa claro. No momento, três classes estão disponíveis: berserker, elementalista e technomancer.

Seu grande diferencial seriam os “fuses” ou “fusões”, que até mesmo dão nome ao jogo. Com este sistema, o jogador desbloqueia fusões que são adicionadas às suas habilidades, prometendo um grande nível de personalização de habilidades e classes de acordo com as diferentes combinações que podem ser feitas.

Os problemas começam quando, apesar de este ser o grande diferencial do jogo, este é um sistema muito limitado. Adquirir fuses depende de looting, ou seja, de inimigos derrotados deixarem os itens para trás ou deles serem encontrados em baús, o que já torna um pouco mais complexo maximizar seu efeito de forma satisfatória. 

Fusões são desbloqueadas por meio de looting.

Este, porém, está longe de ser o maior problema. É a capacidade reduzida de utilizar fusões que realmente impede que o sistema faça uma grande diferença na jogabilidade, independente da classe. Isso porque, a cada nível, o espaço disponível para fusões aumenta em um ritmo muito menor que o custo delas, impedindo que várias fusões sejam combinadas em cada habilidade.

Se os efeitos dos itens fossem notáveis ou grandiosos individualmente, isso não seria tão problemático. Mas quando muitos deles simplesmente aumentam números de ataque, velocidade ou dano, a diferença de utilizar um fuse ou dois não é notada como customização, se tornando apenas uma escolha obrigatória para manter forte a habilidade do personagem que se deseje utilizar. 

A ideia das fusões é muito interessante, na teoria, mas na prática se mostra frustrante. É difícil realmente realizar algum nível de construção relacionada à jogabilidade. Uma habilidade acaba sendo favorecida pelo uso das fusões, já que é difícil ter espaço para adicionar às outras sem tornar seu personagem mediano ou fraco, ao mesmo tempo em que a habilidade escolhida não é potencializada a ponto de torná-la mais legal do que seria inicialmente. 

Se tornar realmente poderoso no game é parte de uma jornada pouco recompensadora ou divertida.

O resultado é um combate que se torna rapidamente cansativo, ao invés de ir se tornando mais interessante conforme você se fortalece, e nem o looting ajuda. Em determinado ponto ganhei um item da melhor raridade possível – mas que só era equipável para outra classe. Nenhum, mesmo de qualidade inferior, foi dropado para a minha; e vale notar que isso foi em um modo offline e para um jogador. Jogando com uma classe diferente, encontrei uma única fusão após horas, e permaneci assim por mais algum tempo, até desistir de jogar.

Mapas pouco interessantes, inimigos sem muita variedade e recompensas que muitas vezes não tem nada de recompensadoras tornam a experiência entediante. É difícil não questionar por que jogar este jogo ao invés de outro ARPG que aplique melhor seus fundamentos, como o próprio Diablo II.

Em seu estado atual de Early Access, os problemas de performance também não tornam a experiência melhor. Mesmo com um computador que tem requisitos acima dos recomendados, tive muitos problemas com queda de frames, o que atrapalha demais em um combate contra hordas de inimigos. 

A movimentação é outro ponto negativo, levando o personagem a ficar preso em partes do cenário o tempo todo. Em classes ou situações de combate corpo a corpo, o jogo simplesmente não deixa que você se movimente às vezes, ou agarra nos próprios inimigos.

Bugs, como inimigos que não desaparecem após serem derrotados ou que ignoram o chamariz da classe Technomancer, são bem frequentes.

Ainda assim, as questões técnicas, ou mesmo de jogabilidade, podem passar por muitas mudanças até o lançamento oficial do jogo. O Early Access é, afinal de contas, um período onde muito ainda está sendo desenvolvido e testado. Tudo isso pode melhorar – pode ser que daqui a um ano essa crítica esteja completamente obsoleta, nesse sentido.

Acho mais difícil que mudanças significativas sejam feitas no sentido da história. Este não é o elemento principal para muitos fãs do gênero, mas, como alguém que em geral se interessa muito pela narrativa em jogos, acredito que também merece ser apontado.

Não acho que a história aqui, até onde foi possível vê-la, seja ruim, só não é do tipo que me convence. A premissa do game é que, após a Terra se tornar inabitável, a elite do mundo “salvou” o povo comum, tirando eles do planeta e financiando essa expansão da humanidade. Com o tempo, eles se mostraram os tiranos que são, e além de explorar o povo, usaram da ciência para se tornarem praticamente deuses. 

Eventualmente, surgiram problemas com uma contaminação, que atinge lugares e pessoas, as transformando em monstros. Ao mesmo tempo, o povo começou a se rebelar contra seus “deuses” governantes, o que levou os poderosos a selecionarem algumas pessoas e usarem sua tecnologia para dar poderes a eles. É isso, basicamente, que você é: um guarda-costas que recebeu poderes da elite para fazer o trabalho sujo dela.

Escute enquanto a história de como o mundo e as pessoas foram prejudicadas pela ganância de poucos é contada – e então ignore tudo isso e continue seu caminho servindo aos interesses desses poucos porque não há outra opção.

O jogo não é sutil ao apresentar uma óbvia situação de elite gananciosa e sem humanidade explorando as classes mais baixas, mas nem por um segundo permite que o protagonista questione isso até que a narrativa ache conveniente. A sensação que fica é a de ser obrigado a estar na posição certa para que aquela crítica possa ser feita, mas sem uma construção natural, criando uma falta de conexão entre jogador e história. Em jogos digitais, essa sempre me parece uma grande falha, uma vez que a mídia, pelo modo como funciona, faz com que o jogador se torne o protagonista.

Tanto jogabilidade quanto história deixam a desejar, mas o jogo tem potencial. Com mais polimento e, principalmente a mudança no sistema de fusões, pode se tornar divertido jogar. Pode ser que mesmo a narrativa tome rumos mais inesperados quando estiver completa, e seja capaz de apresentar personagens carismáticos ou situações marcantes.

Superfuse parece ter os ingredientes certos para se tornar um prato bem feito. No momento, porém, esse prato está longe do ponto, resultando em um jogo cheio de problemas e desinteressante.

Nota: 4 de 10.

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