Review: Star Wars Jedi Survivor quase se perde na obsessão de entregar tudo o que os fãs querem

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Review: Star Wars Jedi Survivor quase se perde na obsessão de entregar tudo o que os fãs querem

Por Gabriel Mattos

Nos últimos anos, Star Wars tem deixado muitos fãs na mão. Afinal, a pressão para entregar algo à altura do trabalho original de George Lucas acaba sufocando diversos projetos que ruíram tentando agradar demais um público dividido, tanto filmes como A Ascensão Skywalker quanto séries como O Livro de Boba Fett. Star Wars Jedi: Survivor, novo jogo desenvolvido pela Respawn e distribuído pela EA Games, quase segue o mesmo caminho sombrio, porém encontra forças em uma ambientação rica e uma jogabilidade deliciosa para encontrar o lado da luz.

Ficha Técnica

Título: Star Wars Jedi: Survivor

 

Desenvolvedora: Respawn Entertainment

 

Distribuidora: EA Games

 

Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series S|X e PC

 

Lançamento: 28 de abril de 2023

 

Gênero: Ação e aventura, metroidvania/soulslike

O medo é o caminho para o lado sombrio

No mesmo período em que a série Obi-Wan Kenobi acontece, Jedi: Survivor continua a história de Cal Kestis. Sobrevivente da Ordem 66, o jovem luta para restabelecer a Ordem Jedi em uma galáxia dominada pelo Império Galáctico. Depois de proteger crianças sensitivas à Força da perseguição dos Inquisidores, em Jedi: Fallen Order, o rapaz segue em direção a um novo objetivo: encontrar um novo lar para os sobreviventes Jedi.

Talvez você imagine que uma premissa tão interessante daria uma história incrível. E talvez até funcione em alguma série no futuro, mas se depender de Star Wars Jedi: Survivor, vai continuar sendo incrível só na imaginação. A trama começa muito bem até cair no erro de se prender muito ao objetivo final, aonde quer chegar, e esquecer de desenvolver qualquer coisa minimamente interessante na maior parte do jogo.

A teimosia em se prender a este único fio narrativo até o rolar dos créditos vira uma âncora, que nunca deixa o enredo decolar. Afunda completamente o ritmo da história e desarma o impacto que o jogo poderia ter caso se permitisse ir mais além. Irônico, considerando que o principal tema da história — um eco da jornada de Anakin Skywalker em A Vingança dos Sith — acaba sendo exatamente o maior erro do game: o drama de como a obsessão pode corromper as pessoas.

Daqui em diante é ladeira abaixo, na narrativa (C.EA)

E neste caso, a obsessão dos desenvolvedores é pelo planeta de Koboh. Palco principal da busca de Kestis, o planeta parcialmente esquecido pelo Império é como um pedaço do velho oeste do universo de Star Wars, fervendo de puro potencial. O lugar tem um passado muito rico e uma diversidade de ambientes impressionante. Sem precisar recorrer a outros cantos da galáxia, o mapa entrega pântanos e cânions, fortalezas abandonadas e laboratórios nos céus. E ainda oferece uma confortável base para onde o jogador pode voltar, sempre com novas atividades e usos para seus colecionáveis, na cantina local. Do ponto de vista da jogabilidade, não faltam motivos para retornar para Koboh. Quem não consegue aproveitar o lugar é o roteiro.

Em nenhum momento a história consegue criar uma justificativa sequer razoável para voltar para uma nova aventura em Koboh. Pelo contrário, sempre apelam para uma desculpa barata. Depois que os vilões principais são apresentados, a trama se torna uma incansável perseguição de objetos fantasmas, MacGuffins que nunca cumprem o seu propósito. Quase como nos primeiros jogos de Super Mario Bros, em que a princesa sempre estava em outro castelo. E como na franquia do bigodudo, o que salva o jogo de ser um frustrante mar de repetição é a sua jogabilidade deliciosa.

Como treinar o seu Jedi

Nem o céu é um limite em Koboh (C. EA)

Logo nos primeiros momentos, em que somos agraciados com uma explosiva visita a Corruscant, o game parece como um verdadeiro sonho dos fãs veteranos. Perseguição, explosões, muito uso da Força e sequências de ação dignas de um Uncharted espacial. Tudo lembra muito o cancelado e aguardado Star Wars 1313, mais ambicioso jogo jamais lançado da franquia.

E este doce gostinho inicial de promessa mostra o verdadeiro tom da aventura, que dilui um pouco a dificuldade para reforçar a atmosfera aventuresca da jogabilidade. Se afastando um pouco da sua inspiração em Dark Souls, Survivor consegue evoluir basicamente todos os elementos que tornaram Fallen Order absurdamente divertido, apostando em uma estrutura mais similar a Metroid Prime. E no final, talvez esta tenha sido a sacada mais genial do game.

Afinal, não é atoa que Metroid deu origem a seu próprio subgênero: o metroidvania. Encontrando o equilíbrio perfeito entre combate e desafios de plataforma, esses games foram aperfeiçoando como trabalhar o sentimento de exploração nos games da forma mais satisfatória possível. Survivor ainda pega emprestado elementos de outra franquia de sucesso da Nintendo, The Legend of Zelda, resultando em uma experiência viciante.

Cada nova área funciona quase como uma dungeon tirada diretamente da era de ouro de Zelda — um verdadeiro espetáculo em apresentação, com mecânicas únicas daquele lugar que não te deixam enjoar e desafios que só podem ser superados com a nova habilidade desbloqueada no arsenal de Cal Kestis.

Explorar as dungeons com habilidades malabarísticas é uma delícia (C. EA)

Ganhar um novo poder e já imaginar as mil possibilidades de onde usá-lo é sempre uma experiência excitante. E o mais interessante é ver como eles podem ser combinados em sequências de tirar o fôlego. Certos momentos parecem, de verdade, um grande balé aéreo, em que o jogo te desafia a acertar cada passo usando manobras só capazes com o poder da Força. E o menor erro pode significar a morte.

Poucos jogos conseguem transformar a própria movimentação em adrenalina pura. Naqueles minutos em que um apertar de botão errado pode te fazer cair para o seu fim depois de uma série de feitos que desafiam as leis do que deveria ser possível, o coração bate a mil. Você se sente como se um com a Força. O próprio Cal Kestis. Pode não ser a primeira coisa que alguém imaginaria ao pensar em Star Wars, mas funciona de um jeito estranho.

O mesmo serve para o combate. Survivor abre muito o leque de opções apresentado inicialmente em Fallen Order. E a regra aqui é entregar exatamente o que mais levaria os fãs à loucura. Regras da própria franquia são quebradas, com explicações que fazem muito sentido, só para permitir que os fãs consigam viver as suas mais loucas fantasias quando o assunto é ser um Jedi.

Survivor permite lutar com os sabres duplos de Ahsoka, o sabre medieval de Kylo Ren e até mesmo uma arma (C. EA)

Lutar com um sabre continua sendo extremamente satisfatório. Os chefes, especialmente aqueles que usam um sabre de luz, continuam sendo um desafio que exige um grande domínio dos sistemas. Mas dessa vez, ao invés de precisar se adaptar a maneira que o jogo espera que você funcione, parece que é o jogo que se adapta ao jogador. Conseguiram pensar em posturas de combate variadas o suficiente para que abraçar cada tipo de jogador, dos mais imprudentes aos mais precisos. Tantas opções permitem que você seja exatamente o tipo de Jedi que você quer ser, seja isso como for.

E esta postura parece estar no cerne da experiência de Survivor. Enquanto Fallen Order trazia uma personalização bastante limitada, poder escolher cada aspecto da aparência e das habilidades de Cal Kestis permite moldá-lo para se tornar exatamente o tipo de Jedi dos seus sonhos. Sem abrir mão das motivações e da personalidade do herói, o jogo permite que ele seja uma extensão do jogador, se moldando às suas fantasias de como seria viver no universo de Star Wars.

E construir a caracterização desse universo é outra coisa que o game faz com maestria. Sem deixar a era do domínio imperial, mais próxima da trilogia original dos filmes, os desenvolvedores conseguem apresentar motivos para introduzir elementos de outras eras de Star Wars sem quebrar a imersão. Os dróides da era prequel, por exemplo, encontram uma função na expansão da variedade de inimigos no combate. E o mais surpreendente é o trabalho perspicaz feito com a era da Alta República, que explica as mini-dungeons opcionais espalhadas pelo mapa.

Na vestidão de Koboh, o passado é presente (C. EA)

Misturar estes elementos sem implodir a mitologia da saga já é um desafio tremendo. Fazer tudo isso de uma forma que só enriquece a jogabilidade é um trabalho de mestre. De certo modo, não deixa de ser fanservice para agradar os fãs, mas acaba sendo implementado de uma maneira tão natural que não incomoda. Pelo contrário, só aprimora a imersão na cultura de uma galáxia tão distante.

Pena que essa imersão acaba sendo quebrada inúmeras vezes por pequenos problemas técnicos. Leves erros visuais, paredes que não funcionam como deveria… Nunca é nada muito grave, mas são problemas tão frequentes que é difícil de ser ignorado. Os glitches tem sido um problema constante nos jogos da nova geração de consoles e Survivor não é uma exceção. Mesmo no PlayStation 5, o game não roda com perfeição a todo momento.

Nota: 7/10

Ainda assim, no final, o saldo é positivo. Star Wars Jedi: Survivor brilha mais por ser um game divertido, com mecânicas memoráveis, que por sua história promissora, que não chega a lugar nenhum. Poderia pertencer a qualquer outra franquia que funcionaria bem, uma prova da sua excelente jogabilidade.

Chega perto de decepcionar os fãs com sua trama vazia, porém compensa com uma ambientação detalhada que vai fisgar qualquer um que ame Star Wars, mesmo quando a história não oferece nada de muito interessante para continuar.

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