Review: Resident Evil 4 é a reimaginação ideal de um dos maiores sucessos da Capcom

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Review: Resident Evil 4 é a reimaginação ideal de um dos maiores sucessos da Capcom

Por Ygor de Oliveira Ferreira

Resident Evil é uma franquia que passou por muitos altos e baixos, mas apesar disso sempre fui um grande fã de seus jogos, principalmente da trilogia original que marcou minha infância. Ainda assim, nunca fui muito fã de Resident Evil 4, mesmo reconhecendo seu impacto, principalmente na geração do PlayStation 2, sempre achei ele meio arrastado e a pegada mais ação não me chamava a atenção.

Com a Capcom atualmente caminhando com seus remakes dos Resident Evil clássicos, chamados por eles de reimaginações, uma nova versão do quarto jogo foi anunciada, elevando minhas expectativas, já que era uma possibilidade de consertar pontos que eu não gostava no original. Mas, além disso, era uma responsabilidade gigantesca da empresa de refazer talvez o jogo mais querido da franquia.

Felizmente a Capcom conseguiu segurar essa responsabilidade e criar um jogo que, assim como Resident Evil 2, reimagina o projeto, mantendo tudo que faz o quarto jogo ser tão icônico e adicionando algumas novidades e surpresas. O resultado é mais um dos grandes jogos da empresa, que não fica na sombra do original.

Ficha Técnica

Título: Resident Evil 4

 

Desenvolvedora: Capcom

 

Distribuidora: Capcom

 

Plataforma: Xbox Series S/X, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC

 

Lançamento: 24 de março

 

Gênero: Tiro em terceira pessoa, Ação

Enfrente mais uma vez os Ganados!

Acompanhe a jornada de Leon e Ashley mais uma vez

A premissa de Resident Evil 4 continua a mesma e é algo bem simples. Leon S. Kennedy, após sobreviver ao seu primeiro dia de policial em Racoon City começou a trabalhar nas forças especiais do Presidente dos Estados Unidos. Em um de seus trabalhos ele é enviado para uma vila no interior da Europa para recuperar a filha do presidente, Ashley, que havia sido sequestrada.

Chegando lá, mais uma vez Leon se vê em uma terrível situação, mas ao invés dos zumbis infectados pelo T-Virus, encontra pessoas afetadas pela Las Plagas, um parasita que toma conta de seu corpo, os transformando em Ganados. Agora, nosso protagonista precisa sobreviver enquanto tenta encontrar a garota e levá-la em segurança de volta para casa.

A premissa é bem simples e funcionava perfeitamente para o jogo original. Nessa nova versão também sustenta as quase 15 horas de jogo, mas com alguns detalhes que melhoram ainda mais a jornada. A principal é que basicamente todos os personagens secundários recebem um pouco mais de destaque, em especial a própria Ashley e Luis, um homem que Leon encontra bem no começo de sua jornada.

Ashley ganha mais construção desde sua primeira aparição, deixando de ser só a donzela indefesa que Leon precisa resgatar para ser uma personagem própria. Isso a torna ela bem mais interessante e menos insuportável, caso você ache ela insuportável no jogo original.

No outro lado temos Luis, que no original aparecia vez ou outra em momentos oportunos e tinha algumas terríveis piadas. Aqui ele esbanja carisma, talvez sendo o personagem mais carismático de Resident Evil 4. Suas aparições tem uma motivação maior, parecendo menos que ele surge e vai embora quando convém. Junto disso, suas piadas e comentários sobre o corpo de Ashley presentes no jogo original foram substituídas por um humor mais interessante e condizente com a franquia atualmente.

Por fim, até mesmo os vilões que Leon vai encontrar no caminho são melhor trabalhados. Seja em termos narrativos ou em jogabilidade, tudo aqui é amplificado e polido. Mas, apesar da história ser algo importante para Resident Evil, o que faz com que a franquia seja querida é a experiência de jogar, principalmente o combate, ambientação e exploração dos locais, e é aqui que a reimaginação foi levada a outro nível.

O combate mais estiloso da franquia

A faca é o grande destaque do arsenal de Leon.

Apesar da jogabilidade de Resident Evil 4 ter marcado a geração do PlayStation 2, atualmente ela é bem datada. Um dos maiores exemplos disso é o fato de que, sempre que Leon mira para atirar, o personagem fica parado, algo que é difícil de imaginar atualmente. Mas na época de seu lançamento, ele era dinâmico, recompensador e, mais do que isso, era legal acertar a cabeça dos Ganados e fazer com que Leon desse um chutão derrubando o alvo e outros inimigos próximos.

Assim com a narrativa, a Capcom pegou os pontos importantes que faziam a ação do original chamar tanta atenção e fez as modificações necessárias para que funcione atualmente. O resultado é quase a perfeição. Inicialmente, é possível que o jogador ache os controles meio pesados, mirar é um pouco diferente do que os remakes de Resident Evil 2 ou 3, mas depois de meia hora acertar a cabeça dos Ganados para realizar seus chutes não deve ser um problema, o que dá espaço para entender as novidades dos confrontos.

Um pedaço que sempre foi o ponto de reclamação dos jogadores era a Ashley. No original ela podia facilmente morrer, ou ser pega pelos inimigos e levada embora. Agora ela ainda pode causar o seu game over, mas por exemplo, para ela ser pega pelos Ganados leva mais tempo, o que dá espaço para o jogador se planejar.

Sua inteligência artificial foi bem aprimorada, já que o original foi lançado há quase 20 anos e ela vai ser atacada com menos frequência. Além disso, existe uma função para fazer com que ela se mova mais distante de Leon, evitando que ela seja pega em ataques focados no protagonista ou então de explosões de granadas e outros explosivos.

Além disso, temos a faca, um item de extrema importância em quase todos os jogos da franquia. Aqui, assim como no Remake do primeiro Resident Evil, você pode coletar várias facas, e todas elas tem uma barra de durabilidade, fazendo com que quando ela chegue ao fim sua faca quebre. Mas, diferente do original, a arma serve para finalizar inimigos, seja furtivamente – já que agora é possível ficar agachado e se mover sem chamar atenção dos inimigos -, ou então se eles estiverem no chão.

É possível também usar o objeto para se livrar de agarrões e alguns golpes que te matariam instantaneamente, como o corte mortal da serra elétrica dos inimigos que a utilizam, chamados de Dr. Salvador. Mas o maior destaque do item é poder aparar golpes. A maior parte dos ataques de inimigos que utilizam objetos, sejam arremessáveis ou não, Leon pode utilizar sua faca para aparar a maior parte dos ataques. Caso o botão de aparo seja apertado no momento certo o inimigo ficará atordoado, fazendo com que o herói possa dar um chute.

As novas utilidades da faca levam o combate a um outro nível, já que agora nem sempre descer a bala sem pensar é a solução. Um outro detalhe que complementa esse combate é que também é possível desviar de ataques, seja abaixando ou então correndo, já que a hurtbox de Leon (a área do personagem que caso acertada causa dano ao herói acertada), é construída de forma perfeita. Assim, caso ele esteja a alguns milímetros do machado de um Ganado ele não será acertado. Com todas essas novas adições a dificuldade pode ser um pouco mais elevada até que o jogador aprenda, mas após isso o jogo tem uma boa curva, onde os desafios aumentam junto com o arsenal de Leon.

Com a faca e as animações perfeitas é possível fazer algo que boa parte dos jogos da Capcom apresentam: criar momentos bonitos e eletrizantes. Isso é algo presente em Monster Hunter e é a alma de Devil May Cry, e agora, em também está Resident Evil. Dependendo do seu domínio e suas armas, que assim como no original, tem uma ótima variedade, é possível criar cenas tiradas de filmes de ação como John Wick, com explosões, golpes exagerados e no final somente Leon está de pé.

O único lado negativo é que os Quick Time Events (momentos onde o jogador precisa apertar um botão rapidamente para prosseguir) foram totalmente retirados e acredito que em uma cena ou outra funcionariam muito bem.

Apesar do combate ser um de seus principais pontos, a exploração é igualmente importante para um Resident Evil, às vezes até mais, e aqui temos um avanço em relação ao original.

Cuidado com o escuro

O escuro está muito mais presente no novo jogo.

Sendo um fã dos três jogos originais, nunca gostei muito de como a exploração funciona em Resident Evil 4, já que o jogo parece meio linear. Não existe muita possibilidade de retornar a locais antigos e, mesmo que fosse possível, não haveria muito o que fazer. Como o novo é uma reimaginação, sua estrutura não foi alterada completamente, mas ela apresentou mudanças que me fizeram gostar muito mais de seu ritmo.

A primeira delas é sua ambientação. Resident Evil 4 basicamente se divide em 3 grandes áreas diferentes e você passar por elas enquanto completa os capítulos e avança a história. O primeiro local, que já pode ser visto na demo que foi divulgada, é a Vila e tudo o que está à sua volta. No original ela já é assustadora já que o jogo está começando e Leon ainda é indefeso, não tem muitas armas e muito menos munições.

Além disso, os locais onde passamos são grotescos, seja dentro das casas todas imundas, ou explorando a floresta à noite sem saber o que esperar. Mas com o avançar sinto que o tom amedrontador vai se perdendo. No remake as coisas são diferentes. A primeira parte ainda assim é mais assustadora que as outras, mas as outras áreas conseguem manter seu tom macabro.

Além dos novos modelos, o principal ponto que faz todos esses lugares se tornarem assustadores de verdade é sua iluminação. As luzes muitas vezes iluminam somente uma área próxima, fazendo com que encontremos mais momentos escuros, o que por si só abre brechas para sustos – planejados ou não. Além disso, existem momentos onde a única iluminação é a lanterna de Leon, algo que funciona de forma primorosa.

Nesses momentos geralmente existem alguns sons no fundo, seja de inimigos ou só de cenários, deixando o jogador ainda mais apreensivo de avançar. O único problema da ambientação é que na versão de review no Xbox Series S, existiam alguns bugs nas poças do cenários. Elas ficavam com sua textura piscando sem parar, algo que pode distrair embora não incomode muito – mas que possivelmente será corrigido na atualização de dia um, que será disponibilizada no lançamento do jogo.

Mas além de ser assustador, explorar esses locais é mais interessante ainda. Apesar da estrutura de capítulos continuar presente, o mundo parece bem mais interconectado, sendo possível retornar para locais anteriores para talvez pegar algo que foi deixado para trás. A tradução do jogo original para o novo não é um para um, deixando uma sensação de “Nossa, será que isso aqui é aquela parte X do original?” e às vezes é, mas em outras pode ser algo bem diferente.

Existe um frescor em chegar em um novo capítulo já que não dá pra saber se os eventos serão exatamente os mesmos, se teremos novos inimigos, ou até mesmo se os quebra-cabeças continuam idênticos. Com isso, esse novo Resident Evil 4 consegue se manter fresco até mesmo para alguém que jogou o original milhares de vezes e decorou todos os seus segredos.

Nota: 10 de 10.

Resident Evil 4 é uma das reimaginações mais bem feitas que a Capcom já fez. Mesmo não sendo tão assustador quando o segundo jogo, ele compensa com a ação espetacular e momentos divertidos, sendo uma ótima pedida para alguém que não jogou o original e está afim de conhecer a franquia, mas também para os fãs de carteirinha, mostrando que a empresa tem um caminho promissor para a franquia mais uma vez.

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