Review: Redfall decepciona com sua mediocridade
Review: Redfall decepciona com sua mediocridade
Problemas de funcionamento são parte pequena do porquê jogo da Arkane não agrada
Muitos jogadores menos familiarizados com o processo de desenvolvimento de jogos podem não ter noção dos inúmeros detalhes e da dificuldade que os títulos cheguem a várias plataformas com qualidade e funcionando adequadamente. Quando o assunto são jogos AAA – grandes e com orçamento equivalente – isso se torna ainda mais perceptível. Skyrim, por exemplo, é um título aclamado que contava com problemas sérios, que muitas vezes impossibilitavam o progresso no game, mostrando que muito pode ser tolerado em um lançamento se algo nele prova seu valor. Infelizmente para Redfall, novo game da Arkane Studios, esse está longe de ser o caso.
Ficha Técnica
Título: Redfall
Desenvolvedora: Arkane Studios
Distribuidora: Bethesda Softworks
Plataformas: PC (Windows), Xbox Series X|S
Lançamento: 1 de maio de 2023
Gênero: FPS (Atirador em primeira pessoa)
Tradução para o Português: Sim
Modos: Singleplayer e multiplayer (cooperativo online até 4 jogadores)
Requisitos mínimos
Requer um processador e sistema operacional de 64 bits
Sistema Operacional: Windows 10 ou superior
Processador: Intel Core i5-8400 @ 2.80Ghz ou AMD Ryzen 5 1600
Memória: 16GB de RAM
Placa de vídeo: AMD RX 580 ou Nvidia GTX 1070
Rede: Conexão de internet banda larga
Armazenamento: 100 GB de espaço disponível
Requisitos recomendados:
Requer um processador e sistema operacional de 64 bits
Sistema Operacional: Windows 10 ou superior
Processador: Intel Core i7-9700K @ 3.60GHz ou AMD Ryzen 7 2700X
Memória: 16 GB de RAM
Placa de vídeo: AMD 5700 ou NVIDIA RTX 2080
Configurações utilizadas para a review:
Sistema Operacional: Windows 11
Processador: Intel Core i7-11800H @ 2.30GHz 2.30 GHz
Memória: 16 GB de RAM
Placa de vídeo: GeForce RTX 3060
Uma proposta que te deixa sedento pelo que poderia ser
A premissa do game não convenceu muitos mas, na minha opinião, contava com muito potencial. Na cidade-ilha de Redfall, um grupo de heróis improváveis escolhe lutar após seu lar ser subitamente tomado por vampiros. Não há nada muito complexo na ideia, que basicamente colocaria os protagonistas no papel de descobrir como tudo aconteceu e reverter a situação, uma vez que a cidade está completamente isolada do resto do mundo e até o sol foi bloqueado.
Mas, no que diz respeito à narrativa, esta não era uma abordagem muito comum aos vampiros em anos recentes. Na maioria das vezes, vemos as criaturas sanguessugas como refinadas e poderosas, mesmo quando em posição vilanesca (vide Drácula, seja o de Bram Stoker ou o de Castlevania). Inúmeras outras obras os colocam como objeto de desejo, como os inúmeros romances que seguiram o exemplo de Crepúsculo. Outras tantas realizam a fantasia de poder do jogador ao colocá-lo no papel do vampiro, como os jogos (digitais ou não) de World of Darkness – o famoso Vampiro: A Máscara.
Ao longo da trama, fica bastante evidente o quão diferente é a ideia apresentada no game sobre vampiros, retomando um pouco da raiz desse mito. Em seu cerne, os vampiros são criaturas parasíticas, insaciáveis, cuja sede e poder os distanciam da humanidade. Tudo isso é utilizado como alegoria em Redfall, trazendo esses elementos para modelos de ganância e horror menos sobrenaturais – médicos abusivos, pesquisadores sem ética e pessoas com tamanha sede de poder que matar mesmo aqueles mais próximos a eles não é o bastante para impedir sua ganância.
É uma pena que, o que parece interessante na teoria, em prática não traz nada de realmente inovador. A história se desenvolve do modo mais previsível o possível, e é difícil se apegar a qualquer um dos personagens não-jogáveis, mal estabelecidos e pouco explorados.
Mesmo os protagonistas não se destacam no modo para um jogador. Foi apenas durante o multiplayer, onde explorei um pouco do mundo ao lado de outra pessoa, que eles tiveram a chance de brilhar. Enquanto joguei com Jacob na companhia de uma Layla, ambos se tornaram muito mais interessantes e vivos, pela primeira vez parecendo realmente personagens em uma história.
O nível de amizade entre eles aumenta com o passar do tempo jogado junto, trazendo novas interações, além dos comentários sobre situações e locais. Não é uma escolha ruim, necessariamente, mas impede que esses personagens brilhem na campanha principal, uma vez que no modo de um jogador você não é acompanhado por nenhum dos outros personagens jogáveis.
O que nos leva ao que parece ser o problema fundamental do game: Redfall não se comprometeu com ser algo em específico, e acabou não sendo nada no geral.
Sem escolhas e sem destaques
Conhecida por seus Immersive Sims (jogos que enfatizam a escolha do jogador, com sistemas que permitem soluções diferentes e criativas para as situações apresentadas), a Arkane em geral é lembrada por títulos como Prey e Dishonored. Quem espera muitas escolhas quanto a como explorar o mundo certamente ficará decepcionado com Redfall: mesmo quando múltiplos caminhos são oferecidos, todos levam aos mesmos resultados.
Por si só, isso não seria um problema, uma vez que o jogo é caracterizado como um jogo de tiro em primeira pessoa. Ainda assim, é um elemento que se torna um ponto negativo quando o próprio jogo indica que você tem múltiplos caminhos para solucionar uma situação.
O personagem com quem joguei, Jacob, é focado em furtividade. Com habilidades para detectar inimigos e ficar invisível, parece uma conclusão óbvia que jogar em stealth seria possível. E é – mas só até certo ponto.
Eu explico: é possível passar por inimigos sem ser detectado e realizar certos objetivos sem enfrentar ninguém, ou derrubando adversários silenciosamente (de modo decepcionante, diga-se de passagem, já que é só realizar um ataque corpo a corpo enquanto furtivo e não detectado, sem qualquer indicação ou animação diferente do ataque normal).
Mesmo assim, em quase todo cenário que te coloca em um local fechado, como uma casa, é impossível não ser detectado em algum momento, seja pela quantidade de inimigos ou por certos elementos de missões simplesmente te obrigarem a entrar em combate quando algo é completado.
Menciono o stealth apenas como um exemplo de um problema bem mais geral, que é o game querer afirmar que proporciona escolhas devido a influência dos Immersive Sims, mas isso não se comprovar na prática. No fim, a possibilidade de fazer as coisas de modo diferente se limita a entrar pela frente ou pelo telhado, matar todo mundo desde o começo ou não – algo bem distante do que outros games da empresa permitem.
Tudo isso é piorado pelos problemas de performance do game. Em um notebook que deveria estar dentro dos requisitos apresentados, Redfall tem problemas constantes de queda de FPS, o que é particularmente incômodo ao enfrentar muitos inimigos. As texturas são outro ponto negativo na parte técnica: algumas não carregam, demoram minutos para carregar, ou ficam aparecendo e desaparecendo constantemente.
E, claro, o jogo conta com alguns bugs, vez ou outra que requerem que o game seja reiniciado, o que pode levar o jogador a perder um pouco de seu progresso. Apenas uma vez ocorreu algo do tipo na minha experiência, com o jogo se desconectando sozinho e sendo fechado. Mais comuns eram os problemas que não quebravam o jogo inteiro, mas exigiam que certas coisas fossem recarregadas ou que eu voltasse parte do caminho que tinha feito.
Ao que parece, os problemas de performance serão corrigidos no futuro (o game ainda conta com previsão de atualizações, incluindo novo conteúdo e mais personagens jogáveis). Mesmo assim, isso não é o bastante para salvar o título. Livre desses problemas, Redfall ainda seria apenas mediano – com eles, é um jogo que não faz valer qualquer tempo gasto com ele.
Ainda assim, a maior falha de Redfall parece estar em não saber o que quer ser. Frequentemente, o game se coloca no meio do caminho, não chegando a ser um Immersive Sim apesar de insistir que há múltiplas maneiras de interagir com o mundo, nem sendo um bom jogo de tiro, o que o impede de ser extraordinário em qualquer aspecto.
Os inimigos não trazem variedade nem mecânicas interessantes, enquanto as missões rapidamente se tornam repetitivas e desinteressantes. Não é bom atirar e enfrentar inimigos em batalha, tampouco temos uma excelente história e possibilidades variadas e divertidas.
Nem tudo é uma perda completa – como dito, há pontos interessantes na narrativa e potencial nos personagens jogáveis. A história não precisa ser a melhor história de todos os tempos, desde que cumpra seu papel e seja minimamente intrigante, o que, pelo menos a princípio, conseguiu ser. A jogabilidade não merece elogios no geral, mas é o bastante para entreter (e tem seus destaques em elementos mais criativos, como a ult de Layla ser o ex-namorado vampiro da personagem). O game é funcional o bastante, mas não passa disso.
O resultado é um jogo que pode ser “divertidinho”, mas em sua forma atual não vai além. Nas horas iniciais, foi fácil querer explorar mais, e por cerca de 5 horas o jogo me manteve entretida. Mas, para mais que isso, seus problemas começam a ficar cada vez mais nítidos e maçantes.
Que fique claro que não acredito que todo jogo precisa ser extraordinário. Nem toda mídia tem que ser revolucionária, reinventar um gênero, ter a narrativa mais fantástica dos videogames. Nem todo jogo mediano é ruim; mas não há muito o que se elogiar quando essa é a maior defesa possível para o game.
Não é o pior jogo do mundo (talvez nem o pior dos últimos anos), mas certamente não é um jogo bom. A melhor maneira de defini-lo é como medíocre, no sentido mais literal da palavra: algo de qualidade mediana, comum, banal, inexpressivo.
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