Review: Pikmin 4 é o jogo perfeito para o trabalhador cansado que só quer ser chefe por um dia

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Review: Pikmin 4 é o jogo perfeito para o trabalhador cansado que só quer ser chefe por um dia

Por Gabriel Mattos

Em um console recheado de games de franquias imensas como The Legend of Zelda, Super Mario Bros. e Pokémon, um jogo sobre a colonização de um planeta alienígena pode não chamar tanta atenção. E de fato, Pikmin 4, novo exclusivo de Nintendo Switch, não chega a ser o melhor que o console tem a oferecer. Ainda assim, é uma experiência absolutamente viciante, capaz de hipnotizar qualquer jogador casual procurando algo para passar o tempo.

Ficha técnica

Título: Pikmin 4

 

Data de Lançamento: 21 de julho de 2023

 

Desenvolvedora: Nintendo

 

Plataformas: Nintendo Switch

 

Gênero: RTS (Estratégia em Tempo Real), Tower Defense

 

Tradução para Português: Sim

Um dia de patrão!

Pikmin está mais bonito e adorável que nunca (C. Nintendo)

Apesar de ser teoricamente um jogo de estratégia em tempo real (RTS), como Starcraft e Age of Empires, Pikmin 4 se afasta ao máximo da experiência estressante típica do gênero. Pelo contrário, a nova edição reconhece os diversos gatilhos de ansiedade presentes na fórmula da franquia e ameniza qualquer sentimento de urgência, para que os jogadores possam curtir a aventura em seu próprio tempo.

A essência do título permanece a mesma de sempre. No controle de um astronauta preso em um planeta desconhecido, o jogador precisa aprender a comandar hordas de dezenas de minúsculas plantas-animais alienígenas, chamadas de Pikmin, para coletar recursos e então fugir do planeta. Dessa vez, porém, não há um prazo limite para concluir sua missão. A situação está sob relativo controle e o jogador pode explorar com calma este ambiente ligeiramente hostil, descobrindo novos cenários e monstrinhos para comandar.

Gerenciar tarefas ainda é importante. Mas diferente de Pikmin 3, em que o jogador precisava alternar entre três astronautas para otimizar ao máximo as atividades cumpridas no menor tempo (o infame multitasking), o foco é organizar melhor as suas prioridades e o seu tempo para conseguir cumprir o maior número de objetivos em um mesmo dia.

Organizar suas prioridades é importante, mas não é mais preciso tentar resolver tudo ao mesmo tempo (C. Nintendo)

Funciona quase como um simulador que te permite ser o chefe do seu trabalho, dando ordens a subordinados, gerenciando equipes da melhor forma possível e garantindo que os prazos sejam cumpridos para alcançar as metas. Só que aqui você está escolhendo trabalhar e ainda se diverte com isso.

Não deveria ser tão empolgante basicamente trabalhar em seu tempo livre, mas é estranhamente viciante. Ver as pequenas criaturas, que atuam quase como formigas, desempenhando os trabalhos mais impressionantes em uma perfeita sincronia é quase como assistir uma orquestra em uma bela sinfonia. E não precisar se preocupar muito com as consequências de seus atos é um ótimo bônus.

Pikmin 4 diminui drasticamente a constante sensação de perigo que fazia o jogador ficar alerta nos jogos anteriores da franquia. Qualquer erro de cálculo pode ser desfeito facilmente ao voltar alguns minutos no tempo usando um menu e um aliado canino está sempre em sua companhia, garantindo que nunca fique completamente desprotegido. Sem temer constantemente que tudo dê errado, fica mais fácil relaxar e apenas curtir o momento, sem preocupações. Desligar um pouco a mente e deixar tudo fluir no automático.

Batalhas contra Folhanos são o máximo de competitividade que pode esperar desse jogo (C. Nintendo)

De certa forma, o título é uma resposta da Nintendo, e principalmente de Shigeru Miyamoto, a esse mundo extremamente veloz, repleto de estímulos, que vivemos. Pikmin 4 é um convite para desacelerar por um instante para focar em uma tarefa de cada vez, sem imediatismo, sem a pressão de produção constante, com a certeza de que tudo dará certo no final. E os produtores fizeram questão de incluir múltiplas ferramentas para permitir que os jogadores ditem o próprio ritmo da experiência, como a inclusão de cavernas que basicamente congelam o tempo.

Ao adentrar estes ambientes, espalhados por todas as áreas, o jogador se depara com uma série de quebra-cabeças focados em uma certa mecânica, quase como shrines em The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom. E ao invés de se preocupar na forma mais rápida de resolver os desafios em questão, a ideia é explorar com calma para entender a melhor forma de avançar. Assim, essas áreas são uma ótima oportunidade para conhecer melhor as forças de cada tipo de Pikmin, entender em que situações são mais efetivos, para depois aplicar na exploração tradicional.

Não existem tantos tipos inéditos de Pikmin. Pode parecer contra intuitivo vindo de uma lógica de franquias que valorizam quantidade, como Pokémon. Contudo, é uma escolha certa para não sobrecarregar demais os jogadores com opção, o clássico processo de Paralisia por Análise. Sabe quando um streaming oferece tantas opções de filmes e séries que você acaba não escolhendo nada? Então, introduzir poucas opções de Pikmin ajuda a evitar esse pânico mental. Porém, um tipo adicionado faz toda a diferença: o Pikmin Gelo.

Pikmin Gelo revoluciona a maneira de encarar os desafios (C. Nintendo)

Presente desde o início da experiência, essas criaturas, como o nome sugere, são capazes de congelar tudo o que tocam. Esse poder revoluciona completamente as opções de exploração, sendo possível até mesmo congelar lagos com monstrinhos o suficiente, e também o combate, incapacitando inimigos por tempo o suficiente para bolar um contra-ataque.

Ainda mais que os antecessores, as batalhas estão longe de ser o foco da experiência. Os inimigos surgem como apenas mais um obstáculo em seu caminho para coletar recursos e resgatar civis. Os próprios chefes não são tão grandes, imponentes e perigosos quanto outros da franquia. Os momentos que trazem um pico de adrenalina foram movidos para novas dinâmicas: as Batalhas Dandori e as noites.

Em uma Batalha Dandori, o objetivo é coletar mais recursos que um rival antes do tempo acabar. Enfrentar diretamente — não uma simples criatura, mas outro estrategista — estimula um comportamento muito mais agressivo, muito bem-vindo para variar o ritmo do título. Mas o mais interessante são as noites, que a dinâmica tática muda completamente de um game de estratégia em tempo real para um tower defense.

À noite, o jogador precisa usar Pikmin Pirilampos para proteger uma espécie de formigueiros (C. Nintendo)

Por um tempo, a lógica muda completamente de organizar a ordem de tarefas para gerenciar a prioridade de inimigos, sem perder de vista exatamente de onde vem as futuras ameaças. Toda a ansiedade que o game vem evitando de repente se torna a melhor arma do jogador para combater os inimigos com a agilidade necessária sem entrar em pânico. E por mais destoante que possa parecer da experiência tranquila de sempre, esses segmentos trazem adrenalina na medida certa sem destruir a essência do jogo.

Pikmin 4 não tem medo de se adaptar quando é necessário. Navega entre diferentes subgêneros da estratégia sem descaracterizar a proposta do título e mantendo o jogador fisgado até o final. Consegue ser tão viciante especialmente por não se entregar a mesmice. E assim a estreia da franquia principal em um console portátil consegue entregar uma experiência perfeita para o jogador contemporâneo. Fácil de jogar no seu próprio tempo, encaixando em sua rotina, na correria do dia-a-dia.

Nota: 8/10

Nota: 8/10