Review: Conv/rgence: Uma História de League of Legends é mais um bom jogo da Riot Forge

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Review: Conv/rgence: Uma História de League of Legends é mais um bom jogo da Riot Forge

Por Melissa de Viveiros

Conv/rgence: Uma História de League of Legends foi um dos primeiros jogos anunciados pela Riot Forge, distribuidora da Riot Games focada em títulos feitos para seu universo por outras desenvolvedoras. Começando com Ruined King e, mais recentemente, adicionando Mageseeker a este catálogo, chegou a vez de Ekko estrelar seu próprio título – que é um excelente jogo de plataforma, mas deixa a desejar na parte “Uma História de League of Legends”.

Tivemos a oportunidade de testar o game antecipadamente no Xbox Series S e, aqui, conto tudo que achei sobre o jogo da Double Stallion Games.

Ficha técnica

Título: CONV/RGENCE: Uma História de League of Legends

 

Desenvolvedora: Double Stallion Games

 

Distribuidora: Riot Forge

 

Plataformas: Nintendo Switch, Playstation, Xbox e PC (GOG, Steam e Epic Games)

 

Lançamento: 23 de maio de 2023

 

Gênero: Plataforma 2D

 

Tradução para o Português: Sim

 

Modos: Singleplayer

Diversão e desafio na medida certa

A maioria das pessoas que joga videogames há algum tempo já teve contato com algum platformer. Seja Mario, Donkey Kong ou games mais recentes, como Celeste, os jogos de plataforma tiveram uma alta nos anos 90, mas nunca deixaram de ter fãs. Com estilo 2D, Conv/rgence traz elementos que lembram clássicos, mas sem deixar de adicionar à mistura com algumas atualizações.

A principal delas e que mais faz a diferença no jogo é sua inspiração nos Metroidvanias. Ainda que seja essencialmente um jogo de plataforma, o game de Ekko bebe da fonte de jogos como Castlevania, trazendo várias habilidades adquiridas ao longo do progresso do jogador, que não só podem auxiliá-lo em combate, como fazem a diferença na exploração.

Assim, esses poderes servem para abrir caminhos inicialmente fechados e incentivar a exploração (embora, na maior parte do tempo, o jogo não tenha tanto a oferecer como recompensa por isso). A adição torna tudo mais dinâmico, além de exigir mais do jogador, que precisa ir se adaptando a usar suas novas habilidades combinadas para chegar cada vez mais longe.

Pode parecer difícil, mas o game tem um elemento que faz toda a diferença para ser mais divertido mesmo para quem se frustra fácil com ter que repetir uma sequência várias vezes até acertar. Em League of Legends, Ekko é conhecido como “o garoto que quebrou o tempo” – e, claro, seu domínio sobre o tempo também tem espaço na jogabilidade.

Habilidades que mexem com o tempo são muito úteis durante batalhas cheias de projéteis.

Muitas das habilidades têm inspirações óbvias nas skills do MOBA da Riot Games, como lançar o “giratempo” para dar dano em inimigos na ida e na volta (ou ligar equipamentos para abrir caminhos). Outras até tem o mesmo nome, como “convergência paralela”, que serve para desacelerar projéteis, adversários, ou mesmo plataformas, evitando quedas certeiras.

A habilidade mais notável e que torna a experiência mais fluída mesmo para quem não tem tanta facilidade com esse tipo de jogo é a possibilidade de rebobinar, voltando no tempo até certo ponto, seja para consertar um pulo, desviar de um ataque, ou acertar o timing de apertar um botão. Funciona tanto para quem não tem qualquer contato anterior com a franquia como para os fãs de longa data, tudo sendo apresentado com uma perspectiva nova que, para quem conhece o personagem, só tem um sabor de familiaridade adicional.

Vale acrescentar que, para além das definições básicas de dificuldade, o game se torna ainda mais acessível com as possibilidades de personalizar a dificuldade. Na dificuldade média padrão, tive a impressão de que, em certos momentos, o jogo exigia muito mais do que deveria. Mesmo assim, se insisti em passar por elas mesmo assim, tudo foi por escolha, pois o game de fato traz muitas opções de mudar a dificuldade de seus elementos, não só no combate mas também na exploração.

Poder voltar no tempo garantiu que eu não morresse nessa parte aí.

Para além do próprio protagonista, a jogabilidade brilha com seus inimigos diversos, que exigem estratégias diferentes para além de atacar infinitamente, muitas vezes levando a combinações de poderes muito satisfatórias quando executadas como pretendido. Claro que, como todo game, alguns inimigos são mais divertidos que outros, mas há uma boa variedade, e a experiência de aprender o padrão e tempo de adversários traz uma sensação muito satisfatória.

Isso se torna um destaque ainda maior com as batalhas de chefe. Alguns outros personagens de LoL dão as caras por aqui, como havia sido revelado em trailers do game. Sem dar muitos detalhes para evitar spoilers, foi o confronto contra um dos outros campeões do game que se tornou meu favorito – bem como a sequência que leva até ele, lembrando inúmeros outros jogos de plataforma clássicos com uma parte de perseguição que exige evitar obstáculos enquanto a tela se move.

Individualmente, cada chefe é bem diferente entre si. Outros campeões também evocam suas habilidades de LoL (Jinx, uma das reveladas em trailers, usa todas as suas skills do jogo, com algumas variações bem interessantes). Mesmo assim, os chefes originais do game não ficam para trás – um destes é, inclusive, o mais desafiador de todo o jogo, e outros são bem divertidos de enfrentar.

 

Ainda que Ruined King se mantenha como meu favorito, mais pelo estilo de jogo, Conv/rgence é uma das melhores experiências da Riot Forge até agora no quesito jogabilidade. Você continua querendo chegar até um local diferente, ganhar uma nova habilidade, tentar derrotar um inimigo só mais uma vez. É um game delicioso, daqueles que não dá vontade de parar de jogar.

Isso é acentuado por seu estilo artístico muito único. É tudo super colorido e cartunizado, dando personalidade ao game de modo interessante e bonito. Diversas vezes, me peguei fascinada pelos cenários, cheios de detalhes e construídos de modo belíssimo. O Cultivar visto ao fundo da zona do Entressol, por exemplo, é um dos inúmeros cenários de que me lembro ao pensar no game novamente. E não por ter algum grande evento narrativo – só porque é, realmente, um cenário bonito que chama a atenção quando você passa por ali.

Mesmo cenários mais “comuns” são extremamente detalhados e bonitos.

Vale notar que, ainda assim, o game apresenta alguns problemas, em parte graças a seu esquema de cores. É lindo, sim, mas se torna facilmente caótico quando há muitos inimigos e poderes na tela. Por vezes, fica muito difícil encontrar Ekko em meio a batalhas, o que deixa as coisas simplesmente frustrantes em um game de plataforma, que exige mais precisão para desviar de projéteis e ataques, enquanto acertando inimigos. E, nesse caso, não parece uma adição proposital à dificuldade: só uma falha em avaliar como as cores do cenário, dos inimigos, do herói e dos poderes interagiriam quando mescladas em combate.

As já citadas recompensas também não são atrativo o bastante para justificar a exploração. Para mim, a vontade de explorar foi mais para jogar mais do game do que realmente por querer encontrar alguma coisa. Baús dificilmente tem algo a oferecer, os visuais adquiridos serem apenas cores diferentes é muito pouco para o trabalho que dá para consegui-los, e fora peças para melhorias e cromas não há muito a ser encontrado.

Mesmo assim, considerando a arte, música e jogabilidade no geral, Conv/rgence é um excelente game de plataforma. Seus acertos são muito maiores que seus erros – exceto no que diz respeito à história.

Uma História de League of Legends

Se Conv/rgence se destaca por sua jogabilidade, o mesmo não pode ser dito de sua narrativa. E, considerando que esse é o primeiro game da Riot Forge que lida com personagens conhecidos para um público bem maior que fãs de LoL, é particularmente decepcionante que esse seja o caso.

Arcane se consagrou como uma das melhores adaptações de games, bem como uma produção estelar independentemente de ser parte do universo de League of Legends. Muita gente já conhecia Jinx como a garota-propaganda do game, mas acabaram sendo apresentados a outros personagens que os conquistaram. Ekko foi um grande exemplo disso – apesar de sempre querido entre os jogadores de LoL, o garoto conquistou um público muito maior com a série animada da Netflix.

É uma pena que o game traga tão pouco do que vemos na animação. A caracterização dele, em si, talvez não seja tanto o problema, e sim como o personagem interage com o resto do mundo. Fica a impressão de que a história foi escrita com base na concepção original do garoto, sem levar em conta possíveis desenvolvimentos, relacionamentos ou qualquer coisa que o tire do vácuo desse vácuo. É como se apenas uma biografia do herói tenha sido lida, e ele se mantém preso a ela – sem ter laços convincentes, sem passar por mudanças, sem qualquer coisa que o tire do lugar.

Nem toda história precisa levar adiante um universo. Às vezes, basta levar adiante um personagem. Mas, na realidade, Conv/rgence falha em qualquer um dos dois. A trama não acrescenta nada à jornada de Ekko, além do superficial; ela também não traz impactos para o universo de League of Legends e, por vezes, parece até bem desatualizada em relação a ele.

Comparado ao Ekko de Arcane, versão do game é bem mais sem graça.

Isso é compreensível, em vista do longo desenvolvimento do jogo, mas não se justifica em relação a elementos que já estavam presentes nesse universo lá em 2019, quando o título foi anunciado. Uma das maiores decepções é, justamente, a interação entre Ekko e Jinx, que mal parece levar em consideração que deveria existir alguma relação entre eles.

Mas a história se torna uma falha ainda mais grave para o game como título da Riot Forge em vista do outro lançamento recente da distribuidora. Mageseeker apresenta Sylas como ele é construído em sua biografia e base no LoL – para então desenvolvê-lo, mudá-lo, deixar que ele cresça e que a história se mova adiante, impactando todo o universo de Runeterra, de acordo com os eventos que o afetam.

Conv/rgence não faz nada disso, e falha até em algumas de suas caracterizações básicas. Camille, uma outra personagem conhecida que já estava confirmada na história, ocupa um espaço que não parece se encaixar com sua personagem de verdade. Vale e Drake Poingdestre, personagens originais do game, mal tem caracterização além de serem caricaturas vilanescas. Rubra, uma dos amigos de Ekko, chega a se tornar irritante com sua burrice diante de uma situação óbvia, parecendo uma necessidade da trama justificar seus eventos mais do que uma personagem de verdade.

A trama é funcional para o game e para quem não se importa muito com isso, ainda que seja simplista e previsível. Não há nada que chega a ser “ofensivo” de tão ruim. Ainda assim, é certamente decepcionante diante do que já vimos que poderia ser, seja com outros games da Riot Forge ou outras mídias adaptando Ekko e a história de Piltover e Zaun.

A trama e caracterização são os pontos mais baixos do jogo de plataforma da Double Stallion. O game tem visuais belíssimos, com este sendo um de seus grandes destaques, junto com a diversão proporcionada pela exploração, adversários únicos, batalhas de chefes marcantes e habilidades divertidas. Há muito mais a elogiar do que criticar, e o jogo certamente adiciona ao catálogo da Riot Forge, que conta com cada vez mais acertos.

No fim, Conv/rgence: Uma História de League of Legends deixa a desejar no quesito narrativa, mas compensa por isso com uma jogabilidade fantástica que faz você não querer largar o controle.

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