Pânico: A história da metalinguagem na franquia
Pânico: A história da metalinguagem na franquia
“Não me mate, Sr. Ghostface! Eu quero aparecer na sequência!”
Uma das maiores franquias do cinema de horror, Pânico está prestes a retornar com seu sexto capítulo, trazendo uma nova matança provocada por um novo Ghostface — que, como os trailers prometem, será muito diferente dos outros assassinos que conhecemos antes.
Criada por Wes Craven e Kevin Williamson, a franquia dominou os cinemas não apenas por trazer um retorno ao slasher, mas também por brincar e analisar o mercado cinematográfico do horror através da metalinguagem, elemento que está presente em todos os capítulos lançados até agora.
Então, antes de você se preparar para Pânico VI, que tal mergulhar um pouco na história da saga, em seus comentários sagazes sobre filmes de terror e, de quebra, ainda conhecer um pouco mais dos temas abordados em cada filme? Vem com a gente — e muito cuidado para o Ghostface não te pegar!
Pânico: Como tudo começou
Em 1996, chegava aos cinemas o primeiro Pânico, filme dirigido por Wes Craven com roteiro escrito por Kevin Williamson. O longa veio mais de uma década depois do boom do subgênero slasher nos Estados Unidos, trazendo consigo um resgate dos clichês e convenções daquele tipo de filme, mas com uma abordagem muito mais ácida, ágil e satírica.
Williamson, que era um jovem roteirista na época, havia crescido assistindo clássicos como Halloween, Sexta-Feira 13 e também A Hora do Pesadelo – este último também uma criação de Wes Craven. Sua meta era não apenas honrar esses filmes, como também oferecer ao público uma história original e cheia de subversões aos tropos propagados por esses e outros filmes slasher.
Assim, conhecemos a história de Sidney Prescott, uma garota que acabou de ter sua mãe assassinada e logo se vê no centro de uma conspiração envolvendo Ghostface, um assassino que veste trajes pretos e usa uma máscara de fantasma. Sidney começa a ver seus amigos morrendo um a um, enquanto percebe que é o alvo principal dessa figura assombrosa.
Como o slasher surgiu nos anos 80 e veio carregado de convenções conservadoras — basta pensar que, se alguém em um filme do tipo transa, usa drogas ou bebe, é morto como forma de “castigo” –, o primeiro Pânico não só “cita” as regras, usando Randy Meeks, um nerd viciado em filmes de terror, para externalizar esses pensamentos para o público, como também há várias quebras de expectativa.
Ao longo do filme, Sidney se revela bem distante da “menina pura e virginal” que geralmente protagonizava um filme slasher. Não apenas isso, mas os sobreviventes do massacre são ninguém menos que Gale Weathers, a jornalista ambiciosa da cidade; Dewey Riley, um policial bobalhão; além de Sidney e Randy, personagens que tipicamente seriam vítimas em qualquer Halloween ou Sexta-Feira 13 da vida.
Pânico 2: Maior e mais sangrento
Tendo feito um sucesso estrondoso, o primeiro Pânico abriu as porteiras para o retorno do slasher, oferecendo ao subgênero um novo gás que se sustentaria até o começo dos anos 2000 e possibilitaria o remake de vários clássicos do cinema. Porém, um ano após o lançamento do original, Pânico 2 chegava aos cinemas, prometendo uma história maior, mais grandiosa e, obviamente, mais sangrenta.
A história começa dois anos após os eventos do primeiro Pânico e segue Sidney Prescott e Randy Meeks em uma universidade, enquanto tentam se recuperar de todo o trauma que viveram no filme anterior. E por ser a primeira de uma leva de sequências, o longa brinca muito com os conceitos vistos nas “Partes 2” de filmes de terror, tornando a trama ainda mais insana.
Aqui, temos uma vasta abundância de personagens, alguns vividos por nomes consagrados como Sarah Michelle Gellar e Timothy Olyphant. E não apenas a escala é maior como também os riscos corridos pelos personagens, tanto que o filme acaba sacrificando um dos sobreviventes do original, o próprio Randy. Além disso, Wes Craven faz questão de dirigir algumas das melhores cenas de perseguição que já vimos em um filme de terror.
O longa também carrega uma referência mais que especial a um clássico do terror, o próprio Sexta-Feira 13. Se, no filme original, os assassinos eram Billy Loomis (o namorado de Sidney) e seu amigo, Stu Macher, o segundo traz novamente dois vilões, um deles sendo Debby Loomis, a mãe de Billy. Isso faz uma conexão direta com o primeiro filme da saga do Acampamento Crystal Lake, onde o assassino é Pamela Voorhees, a mãe do icônico Jason.
Pânico 3: O fim da trilogia
O ano era 2000 e o mundo precisava de um novo filme para continuar a jornada de Sidney Prescott. Mesmo com todas as turbulências na produção — como a saída de Kevin Williamson, que foi substituído por Ehren Kruger como roteirista –, Pânico 3 despontava como um filme vibrante e ainda maior que seus antecessores, prometendo (e entregando) um final satisfatório para a primeira trilogia da franquia.
Aqui, Sidney tenta ficar em paz enquanto vive isolada e atende vítimas de abuso, mas tudo muda quando novos e terríveis assassinatos começam em Hollywood, no set de A Facada 3. Aliás, esse é um elemento muito bacana que está presente desde o segundo filme: após o massacre original em Woodsboro, Hollywood se aproveitou de todo o caos para lançar uma franquia de filmes baseada no livro de Gale Weathers.
Gale se reencontra com Dewey Riley e os dois precisam investigar quem está por trás de todas as mortes, enquanto Sidney tenta ao máximo evitar esse reencontro com seu passado (mas acaba retornando mesmo assim). O que temos então é um clássico “terceiro capítulo” que amarra todas as pontas e oferece revelações surpreendentes sobre tudo que já vimos até ali.
Isso está bem manifestado no próprio vilão do filme, Roman Bridger, que na verdade é meio-irmão de Sidney, fruto de um abuso que a mãe da garota sofreu quando era atriz de filmes de horror B em Hollywood. Assim, de forma consciente ou inconsciente, Wes Craven consegue explorar temas ligados ao abuso de poder e à misoginia presente na indústria cinematográfica — o que é até irônico, considerando que Harvey Weinstein era um dos produtores da saga.
Uma coisa bem interessante a respeito de Pânico 3 é que, o tempo todo, os personagens são forçados a confrontar suas “versões cinematográficas”. Jennifer Jolie é uma atriz que interpreta Gale em A Facada 3, e todas as cenas em que as duas contracenam juntas são brilhantes. Além disso, há uma excelente perseguição na qual Sidney foge de Ghostface em uma casa construída em estúdio, que é uma réplica quase perfeita da casa em que cresceu na cidade de Woodsboro.
Pânico 4: Ghostface na era dos remakes
Uma década se passou e os fãs ansiavam por um retorno da saga. Em 2011, Wes Craven e Kevin Williamson se reuniram para aquele que é considerado, até hoje, o filme mais insano da franquia. Pânico 4 traz Sidney, Dewey e Gale de volta a Woodsboro, conforme uma nova série de assassinatos começa a rolar, tendo como alvos os amigos de Jill Roberts, a prima de Sidney.
O filme saiu em uma época emblemática para o cinema de horror. Ao longo dos anos 2000, muitas franquias tinham ganhado novas versões em remakes sombrios, ultraviolentos e cheios de liberdades criativas em relação aos originais — e o quarto capítulo da saga entra na brincadeira, satirizando essa “nova leva” da época. É um filme muito violento, com uma “nova geração” de vítimas e com um senso de humor e uma metalinguagem adaptados para o novo século.
O que torna Pânico 4 tão grandioso é a forma como o filme se recusa a cair nos vícios dos incontáveis remakes que eram lançados na época. Aqui, descobrimos que Jill não era a jovem e inocente garotinha que iria levar a franquia em um novo rumo. Na verdade, ela era a grande “cabeça” trajando o manto do Ghostface, motivada pela inveja de ter crescido ouvindo sobre sua prima que sobreviveu a três massacres.
O filme ainda apresenta uma “nova viciada em filmes de terror”, Kirby Reed, que é melhor amiga de Jill e não faz a menor ideia de que ela é uma assassina. Kirby cita diretamente vários remakes de filmes de terror, em uma cena que espelha a abertura do primeiro filme, quando ela precisa responder a uma pergunta de Ghostface para salvar outro amigo, Charlie Walker — que também é um assassino que está trabalhando com Jill.
É importante ressaltar que Pânico 4 foi o último filme da parceria Craven/Williamson. O cineasta infelizmente faleceu em 2015, e este foi seu último projeto na direção. Já o roteirista continua vivo e tem vários projetos na TV e no cinema, além de atuar como produtor executivo dos novos filmes da franquia.
Pânico (2022): Um novo começo
Durante muito tempo, acreditou-se que não haveria um novo filme de Pânico após a morte de Wes Craven. Ainda assim, a franquia continuou crescendo através de uma série de TV da MTV (sem relação alguma com os filmes, exceto pela premissa), mas tudo mudou quando a Paramount e a Spyglass Media adquiriram os direitos da saga e optaram por dar continuidade à história estabelecida nos quatro capítulos anteriores.
O quinto filme, intitulado apenas como Pânico, traz Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett — os mesmos diretores de Casamento Sangrento, de 2019 — na direção, com um roteiro escrito por James Vanderbilt e Guy Busick. A ideia era surfar na onda das “sequências de legado”, que estavam se popularizando em Hollywood através de filmes como Star Wars: O Despertar da Força, Jurassic World e, é claro, o Halloween de 2018.
Por isso, temos o retorno do trio original, Sidney, Dewey e Gale, mas agora a franquia muda de protagonistas com a inclusão de Sam e Tara Carpenter, duas irmãs que começam a ser perseguidas pelo Ghostface. Além disso, nós descobrimos também que uma delas está associada a um dos assassinos do filme original. E assim, mergulhamos em uma nova onda de crimes que assola a cidade de Woodsboro.
Cheio de homenagens a Wes Craven e o legado que o diretor deixou para a franquia, o quinto filme ainda faz vários comentários sobre o estado do terror no final dos anos 2010, com o surgimento do “pós-terror”. A própria Tara, a personagem de Jenna Ortega, deixa bem claro que seu filme favorito é O Babadook, por ser “uma reflexão sobre maternidade e luto”.
Para fechar, o filme ainda deixa muito claro quais serão os protagonistas daqui para frente. Tara e Sam saem vivas, junto de Chad e Mindy Meeks-Martin, os dois sobrinhos de Randy. Agora, eles vão deixar Woodsoboro e vão cair em uma cilada ainda mais assombrosa…
Pânico VI: Nova York, Novas Regras
A história continua em Pânico VI, que chega aos cinemas no dia 9 de março. O filme conta com o retorno de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett na direção, enquanto o roteiro é mais uma vez escrito por Guy Busick e James Vanderbilt.
Agora, a história nos leva até a cidade de Nova York, um ano após os eventos do quinto filme. Tara, Sam, Mindy e Chad estão recomeçando suas vidas quando começam a ser perseguidos por um novo Ghostface, dessa vez ainda mais ameaçador e com um visual razoavelmente diferente, com a máscara envelhecida.
O filme ainda deve trazer de volta alguns personagens clássicos da franquia, como Gale Weathers, que como ficou estabelecido no filme anterior, é uma jornalista importante em Nova York, e Kirby Reed, que sobreviveu e agora se junta à caçada pelo novo Ghostface.
Pânico VI chega aos cinemas no dia 9 de março. Compre já seus ingressos!
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