Marvel cancelou HQ do Luke Cage por medo de ataques da extrema-direita
Marvel cancelou HQ do Luke Cage por medo de ataques da extrema-direita
Projeto do escrito Ho Che Anderson foi cancelado semanas antes de seu lançamento
Em uma entrevista exclusiva para o CBR, o escritor Ho Che Anderson, responsável por uma biografia em quadrinhos de Martin Luther King, revelou o porquê de seu primeiro trabalho na Marvel, Luke Cage: City of Fire (Luke Cage: Cidade de Fogo em tradução literal), ter sido cancelado. De acordo com Anderson, a situação foi “dolorosa” e incluiu o medo de ataques da extrema-direita por parte da editora.
Relembrando a conversa que deu fim ao seu projeto, o roteirista comentou que a minissérie seria concluída após três edições e que a notícia do cancelamento chegou até ele quando estava finalizando a escrita.
“Para resumir a história, eles sentaram comigo e disseram: ‘Estamos cancelando a série. Estamos com medo do assunto te prejudicar. Não queremos que você seja atacado por doidos da extrema-direita'”.
Com uma história incluindo a Demolidora de Elektra Natchios, Anderson disse que precisou trabalhar duro para fazer a sua ideia sair do papel. Antes mesmo de darem um sinal verde para a minissérie, Anderson trabalhou em um rascunho de cinco páginas que, posteriormente, foi sugerida ser expandida para um quadrinho solo e, por fim, encomendaram a série de três edições.
O desenvolvimento do mesmo estava tão avançado quando surgiu a notícia de seu cancelamento que o roteiro já havia passado pelas mãos de Marco Checchetto e estava em fase final de inserção de texto e coloração. Além de estarem decidindo como iriam inserir um aviso de gatilho dado o assunto que o quadrinho tratava.
História teria inspiração no caso de George Floyd
Isso por que a temática de City of Fire tirava inspiração do assassinato brutal de George Floyd em 2020. O mesmo ocorreu durante a prisão de Floyd pelas mãos do policial Derek Chauvin que sufocou o rapaz com um dos joelhos.
O ocorrido gerou uma série de protestos pelo mundo, levantando o movimento #BlackLivesMatter (#VidasNegrasImportam) e fazendo com que, mesmo em meio a pandemia, pessoas saíssem de suas casas em apoio a família de Floyd e repúdio ao ocorrido.
De acordo com Anderson, a premissa do quadrinho seria “o que teria acontecido se a mãe de George Floyd contratasse Luke Cage para proteger Derek Chauvin, o assassino de seu filho?”.
Porém, os executivos da editora viram na abordagem de Anderson um problema que apenas atiçaria uma situação racial delicada. Isso por que, além de tratar do assassinato de George Floyd, o quadrinho seria lançado na época em que Kyle Rittenhouse, homem conhecido por atirar em três protestantes do movimento BlackLivesMatter, foi absolvido de todas as acusações.
“Eles estavam preocupados que a série iria atingir os apoiadores do Kyle Rittenhouse ou algo do gênero. Então, decidiram ser cautelosos”, explicou.
O futuro de histórias impactantes na Marvel
Mesmo com a preocupação da Marvel em possíveis ataques direcionados a Anderson, a verdade é que o autor achou a decisão da editora ainda mais revoltante. Não apenas pelo seu trabalho desperdiçado, mas pela participação de outros criadores, como Sean Damian Hill, Ray-Anthony Height e Farid Karami.
“Eu li o PDF da primeira edição completa e eu não conseguia acreditar que havia escrito aquele quadrinho. Não parecia com uma de minhas histórias. Parecia algo oficial em comparação a tudo o que eu havia feito antes”.
Depois do ocorrido, Anderson questionou toda a sua carreira como escritor. A conclusão do mesmo, infelizmente, foi se ater a história sobre heróis e vilões e deixar a ideia de algo como City of Fire no passado.
“Eu nunca vou fazer um trabalho para a Marvel que não seja algo como ‘O vilão da semana quer dominar o mundo'”.
Hoje, Anderson está trabalhando com a Marvel para um futuro projeto envolvendo o herói Blade.
“Senti como se tivéssemos a oportunidade de fazer algo relevante. O fato de que foi cancelado tão rápido significou para mim que eles não queriam fazer isso. Eles não querem fazer isso. Eles apenas querem material seguro. Então, se me contratarem de novo, é o que eu irei entregar. Eu darei material seguro. Mas ainda é revoltante, por que tínhamos a oportunidade de contar uma história com alguma relevância e eles teriam ficado do lado certo da história, por terem sido fortes o suficiente para contar essa história. Então, foi uma oportunidade perdida”.
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