Em greve, atores dos games esclarecem preocupações da categoria com o uso de IA em painel da Comic Con
Em greve, atores dos games esclarecem preocupações da categoria com o uso de IA em painel da Comic Con
Painel especial contou com representantes do sindicato
Desde que a greve dos atores foi deflagrada, a categoria não está mais envolvida na divulgação de séries e filmes, o que inclui também uma pausa nas participações na tradicional San Diego Comic Con, a maior feira de cultura pop do mundo. Contudo, para esclarecer as reivindicações da classe perante a imprensa, representantes do Sindicato de Atores (SAG-AFTRA) estiveram presentes em um painel especial sobre a inserção de inteligência artificial no entretenimento, confirma correspondente da Legião dos Heróis no evento.
Nesta sexta (21), os dubladores Ashly Burch (Aloy de Horizon), Cissy Jones (Fúria em Darksiders III) e Zeke Alton (Elias Porter de The Callisto Protocol) estiveram ao lado de Tim Friedlander, diretor da Associação Estadunidense de Dubladores (NAVA) e Duncan Crabtree-Ireland, negociador-chefe da categoria, para comentar pontos chaves da negociação com os grandes estúdios em relação a IAs.
Apesar das restrições, grupo tem permissão de participar de eventos desse porte por conta de sua atuação na indústria de jogos, que opera sob um contrato diferente do que está sendo discutido pelo sindicato para trabalhos de cinema e televisão. Entretanto, o mercado vem enfrentando problemas parecidos na questão do uso indevido da inteligência artificial.
Diferente do que vem sendo divulgado, Alton explica que os atores não são contra a existência de IA. Segundo o dublador, a ferramenta é benéfica e usada para ajudar a melhorar a vida de muitas pessoas, quando usada de forma ética. O problema surge da falta de regulamentação, condições claras de concordância de uso e uma falta de remuneração adequada para diferentes usos de voz.
Além da preocupação com o uso da voz em contextos ofensivos ou humilhantes, expressado por Jones, a tradução de uma atuação original para outro idioma, mantendo a voz do dublador, também preocupa a categoria. O receio é que estúdios tentem utilizar a mesma gravação, alterada digitalmente, para evitar pagar os dubladores originais de forma devida e também evitar pagar dubladores nativos na língua desejada, como os dubladores brasileiros.
“Nós estamos lutando hoje pra que isso também seja posto em contrato. Se a voz original será usada e manipulada pra ser traduzida através de inteligência artificial, o ator precisa receber por isso, e receber muito bem!” defende Crabtree-Ireland. “Seria o mesmo que pagar uma celebridade pra dublar aquele filme. No final das contas sairia ainda mais caro pro estúdio fazer isso do que contratar um dublador pra localizar o conteúdo pra outro país.”
Recentemente, a Capcom foi acusada de utilizar inteligência artificial para as vozes de personagens do jogo Exoprimal no Brasil. O resultado foi completamente desprovido de emoção ou até mesmo o uso certo de entonação e maneirismos típicos da língua portuguesa, algo que Alton também alerta em sua fala no painel.
“Também existe a questão do local onde o material é produzido.Se algo é filmado na Coreia, no Brasil, existem expressões e maneirismos que não funcionam ao levar esse conteúdo pra outro país. Muitas vezes, o trabalho da adaptação é mais complicado que dublar, senão ou você não entende a mensagem original ou fica uma merda. Isso é algo que a Inteligência artificial também não consegue fazer,” explica Zeke Alton.
Ashley Burtch reforça que esta é a importância de valorizar o trabalho dos roteiristas, sindicato do qual também faz parte e que entrou em greve meses antes da categoria dos atores. Para a atriz, a força conjunta das associações em greve vem para defender os interesses de todo tipo de artista que por vezes não enxergam as práticas predatórias impostas por estúdios.
Por fim, Duncan Crabtree-Ireland diz que o que eles querem é que as coisas sejam bem explicadas.Hoje eles assinam contratos que podem ser muito flexíveis e, no final das contas, o ator pode ser muito prejudicado, principalmente porque muitas dessas IAs ainda não estão devidamente documentadas, então eles querem que os contratos sejam mais claros sobre o quanto eles estão seguros de terem suas imagens exploradas e não receber por isso.
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