Crítica: Super Mario Bros. – O Filme acerta como um casco azul bem no coração dos fãs

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Crítica: Super Mario Bros. – O Filme acerta como um casco azul bem no coração dos fãs

Por Gabriel Mattos

Nada contra o ouriço azul, mas quando o assunto é videogames, o encanador de macacão vermelho, estrela da franquia Super Mario, é a primeira coisa que vem em mente. O mascote da Nintendo é o maior ícone da indústria desde a sua estreia, no final dos anos 80. Tanto tempo de estrada torna árdua a tarefa de traduzir a essência de suas aventuras para os cinemas: desafio que o estúdio Illumination, de Minions, tirou de letra em Super Mario Bros. — O Filme, animação da Universal que estreia dia 5 de abril.

Ficha técnica

Título: Super Mario Bros. — O Filme (The Super Mario Bros. Movie)

 

Direção: Aaron Horvath, Michael Jelenic

 

Produção: Shigeru Miyamoto, Chris Meledandri

 

Roteiro: Matthew Fogel

 

Data de lançamento: 5 de abril de 2023

 

País de origem: Estados Unidos e Japão

 

Duração: 1h 30min

 

Sinopse: Após ser transportado para uma dimensão mágica, o encanador Mario precisa juntar forças com a Princesa Peach para salvar seu irmão, Luigi, e o Reino do Cogumelo das garras do Rei dos Koopa, Bowser.

Pôster de Super Mario Bros

Um reino a altura de sua majestade

Assistir ao novo filme do Mario é como pegar aquele cartucho empoeirado na estante, de um jogo que não é usado desde a infância, e limpá-lo com um sopro de nostalgia. O game ganha uma nova vida nas telonas, com um show de referências que fazem um excelente uso de fanservice para construir o Reino do Cogumelo, em proporções épicas nunca antes vistas.

E o resultado supera qualquer coisa que um fã poderia imaginar. O que antes era apenas um amontoado de pixels na tela de uma tevê de tubo se transforma em algo visualmente imponente nas mãos da Illumination.

O foco do longa é claro: entregar o máximo do universo Mario possível — de jogos obscuros, como Wrecking Crew (NES), aos mais recentes, como Super Mario Odyssey (Switch) — em uma hora e meia de filme. Para completar essa missão, foi necessário reorganizar as prioridades do projeto. E assim, a profundidade do roteiro precisou ser sacrificada em prol da construção de mundo, do carisma dos personagens, da ação e, principalmente, da diversão.

Personagens brilham com um charme magnético ao equilibrar comédia e ação (C. Universal)

Na prática, essa decisão não se torna um problema. A franquia de jogos Super Mario, diferente de The Last of Us ou Resident Evil, nunca foi conhecida por ter uma história profunda ou mirabolante. A essência do roteiro na maioria dos games é a mesma — Mario precisa impedir Bowser de sequestrar Peach. E partindo dessa premissa, sem tentar reinventar a roda, o roteiro se desenvolve, focando em florescer cada personagem com o devido cuidado.

Neste ponto o longa realmente brilha, extrapolando a personalidade do elenco para realçar o que há de mais charmoso em cada um. Raphael Rossatto faz um trabalho excelente em criar uma voz ao mesmo tempo heróica e acessível para o adorável Mario. A atuação do dublador sozinha justifica assistir o filme dublado, mas outras vozes também se destacam, como Eduardo Drummond na pele do Toad e Márcio Dondi como Bowser.

O vilão é simplesmente espetacular. Acerta ao manter as motivações simples dos jogos com a adição de uma certa pompa que lhe cai muito bem. Bowser consegue ser ao mesmo tempo imponente em frente a seus inimigos e espalhafatoso quando está sozinho. Um verdadeiro vilão cômico, que ganha muito em ter Jack Black como a voz original. Fica evidente a influência do ator na construção do personagem, que brilha como uma verdadeira estrela.

Toad consegue ser simpático em todas as suas variantes (C. Universal)

Junto ao Toad, a dupla carrega a comédia de grande parte do longa nas costas. E o filme em si é um tanto engraçado, mas o mais importante: não gastaram todas as suas melhores piadas nos trailers. Ainda tem algumas tiradas geniais que pegam o público de surpresa, vinda de personagens inusitados. No geral, o bom humor leve que permeia toda a história  acaba replicando bem o clima despretensioso dos jogos, o que só é reforçado pelas espalhafatosas sequências de ação.

Os cenários gigantescos ganham uma vida extra durante as muitas cenas de ação. Quem jogou qualquer game da franquia certamente lembra de momentos que ficaram marcados na memória: seja um salto improvável, um poder favorito ou até um nível icônico. E o longa acerta em aproveitar a linguagem que tornou o game tão especial, sua jogabilidade fluida, para construir sequências visualmente irresistíveis.

A mesma sensação de movimento, liberdade e invencibilidade que surge ao disparar por uma fase, derrotando todos os inimigos em seu caminho, está no cerne da ação do filme. Os momentos que melhor aproveitam essa dinâmica são as perseguições em kart e as fases 2D. Com um esperto jogo de câmera lateral, os diretores transmitem a perspectiva dos games para a telona de uma forma bastante orgânica em hipnotizantes sequências de ação regadas à parkour que elevam as habilidades de salto do Super Mario a um novo nível.

Sequências de ação capturam a essência dos jogos (C. Universal)

Mais do que buscar referências, os produtores mergulharam a fundo para entender o coração que torna os jogos da Nintendo tão divertidos. O roteiro é uma colcha de retalhos amarrada por conveniência e muito boa vontade? Sim, mas de um jeito que funciona. Em poucos momentos fica a sensação de que falta liga na história. Apesar das soluções serem simples e diretas, não foge do padrão de outros nostálgicos filmes dos anos 2000.

Colorido, vibrante e cheio de vida, o longa preza, acima de tudo, por manter a sua inocência infantil. Não espere um roteiro cabeça, profundo e cheio de camadas, como em Gato de Botas: O Último Desejo ou Pinóquio de Guillermo Del Toro. Assim como no genial Glass Onion, de Rian Johnson, não há mensagem especial alguma por trás da trama. Super Mario Bros. — O Filme é exatamente o que parece na superfície: apenas uma aventura divertida tirada diretamente dos videogames.

O que não quer dizer que não existam lições a serem absorvidas no desenvolvimento de cada personagem, para quem estiver disposto a ouvir. Tanto Mario quanto Donkey Kong enfrentam problemas de autoestima decorrentes da pressão paterna, o que pode reverberar entre muitas crianças (e até alguns adultos). Peach assume a função de ser um bom exemplo para as crianças, sendo uma líder altruísta e competente, ao invés do papel de donzela em perigo que assume em diversos jogos. E até o Luigi, que fica um pouco apagado na trama, pode ensinar a enfrentar seus medos.

Simplicidade da trama encanta, especialmente quem jogou qualquer coisa do Mario (C. Universal)

E foi exatamente essa simplicidade que me deixou tão contente. Ao longo do filme, a minha preocupação não era acompanhar uma trama mirabolante ou dissecar os sentimentos mais profundos dos personagens como um terapeuta. Este é um filme leve que você pode simplesmente curtir, com ou sem crianças, de uma forma que não é feita há uns anos.

Saí da sessão de Super Mario com plena certeza de que encontrei meu novo filme de conforto pros dias ruins. Da mesma maneira que Vida de Inseto foi na minha infância, mas sem metáforas políticas que eu só iria entender depois de 20 anos. O filme do Mario esbanja alegria. Ouvir a trilha sonora gloriosa, que traz arranjos muito mais refinados das melodias dos jogos, é revigorante. Um respiro para a alma, o que é exatamente o que precisamos em tempos tão desgastantes.

Sem tropeçar no erro de tentar repetir com exatidão o enredo de um jogo específico, Super Mario Bros. — O Filme acerta como um casco azul bem no coração do que faz os games do Mario funcionarem tão bem. Esta é uma história para toda a família que, apesar do roteiro raso, alcança toda a grandiosidade do ícone dos games da melhor maneira possível.

Nota: 4.5/5

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