Crítica: Mask Girl, 1ª Temporada

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Crítica: Mask Girl, 1ª Temporada

Por Flávia Pedro

Mask Girl é a nova série coreana produzida pela Netflix lançada no último fim de semana. Apesar de aparentar ser mais um k-drama convencional e repleto de clichês, ao apresentar a vida da protagonista Kim Mo-mi a série consegue aprofundar sua trama no total de 7 episódios (com uma média de 50 minutos cada) e trazer uma narrativa pausada, porém surpreendente e imprevisível. 

Ficha Técnica:

Título: Mask Girl

 

Criação:  Kim Yong-hoon

 

Ano: 2023

 

Emissora/Streaming: Netflix

 

Número de episódios: 7 (1ª temporada)

 

Sinopse: Durante o dia, ela é uma funcionária insegura com a aparência. À noite, uma personalidade mascarada da internet. Até que um acontecimento desastroso muda sua vida.

Mask Girl começa com um episódio mostrando a dualidade na vida da protagonista

Mask Girl começa com um ritmo bem lento, apresentando Kim Mo-mi, a protagonista, e sua vida como funcionária em um escritório de contabilidade. Seu sonho desde criança era se tornar uma idol coreana, mas sua vida toma outro rumo por conta de sua aparência.

À primeira vista, a história parece mais um clichê dos dramas coreanos, onde temos uma protagonista sonhadora que nutre uma paixonite por seu chefe bonitão. E a superficialidade da trama, ao menos a princípio, é reforçada pela a forma como os padrões de beleza são explorados, uma vez que Kim não se enquadra nesses padrões e sofre consequências por ser considerada “feia” dentro e fora do seu ambiente de trabalho.

Contudo, o roteiro começa a mostrar mais nuances nessa alegoria da aparência ao também abordar como as pessoas que estão dentro do padrão de beleza recebem um tratamento diferente, muitas vezes invasivo ou abusivo

É então que, como seu sonho de ser uma idol foi por água abaixo, Kim arranjou outra alternativa: ser uma Cam girl, a MaskGirl, se apresentando em lives online para seus seguidores enquanto utiliza uma máscara. A curiosidade ao redor de sua real aparência é o que prende seu público e faz com que a série tenha sua primeira “virada”, que tira de vez o ar superficial e introduz de fato profundidade na narrativa.

Mas o que de surpreendente e imprevisível tem na série, já que ela parece ser “mais do mesmo”? Bem, o mérito vai para a escolha narrativa na hora de desenvolver a trama, já que a série opta por trazer em cada episódio um novo personagem e contar a história a partir de sua visão. Isso faz com que seus personagens tenham uma maior profundidade em sua construção e levem a desdobramentos inesperados na série, com consequências das atitudes e decisões de cada um deles.

Assim, a série vai de um típico k-drama com nuances de comédia, para uma história de investigação interessante, com desejo de vingança, e desdobramentos futuros surpreendentes. 

Joo Oh-nam, personagem que narra o segundo episódio

Mas apesar dessas mudanças narrativas a cada episódio serem interessantes e manterem a série com um ritmo decente, principalmente por sempre trazer um novo evento inesperado, isso se torna cansativo em alguns momentos. Depois do quarto episódio, a dinâmica já foi estruturada e, por mais que continue apresentando reviravoltas que o público sequer imaginou, o telespectador já sabe que deve esperar por um desdobramento impensado, seja ele qual for.

Não que o elemento surpresa da série seja ruim, pois cada episódio termina deixando o público pensando no que pode acontecer a seguir, mas ele ser recorrente faz com que o propósito seja parcialmente perdido, já que esperamos e sabemos que veremos um novo plot twist a cada episódio.

Ainda assim, essa alternância de personagens contando uma mesma história consegue perpassar por temas muito relevantes e presentes na série, como inseguranças, violência de gênero, homens com comportamento abusivo, assédio, violência sexual, obsessão e pressão por padrões que só são alcançados com procedimentos estéticos. Todos esses tópicos acabam conversando muito bem com um tema comum que atravessa boa parte dos personagens relevantes: como a pressão estética afeta o psicológico de cada uma dessas pessoas. Todas essas tramas são muito bem desenvolvidas cada vez que aparecem, não sendo apenas jogadas para que a história continue a qualquer custo. Pelo contrário, elas funcionam como impulso para os personagens e causam sentimentos mistos no público.

É importante ressaltar que o suspense que pauta a trama da série se inicia no ano de 2009 e termina em 2023, o que realmente é algo inimaginável quando assistimos ao primeiro episódio. Apesar da protagonista ser a Mask Girl, há um revezamento de atrizes que dão vida a Kim Mo-mi, algo que pode parecer arriscado à primeira vista, mas que o diretor Kim Yong-hoon conseguiu administrar muito bem. As atuações se destacam, cada uma a sua maneira e assim, temos: Lee Han-byeol, sendo a Kim Mo-mi mais jovem, Nana, que interpreta a personagem após suas mudanças; e Go Hyun-jung, a protagonista em sua fase atual.

Porém, quem rouba a cena nesse projeto é a atriz Yeom Hye-ran, que dá vida a Kim Kyung Ja, uma mãe solteira que tem um passado bem complexo atrelado às ações de Mask Girl. O roteiro trabalha em conjunto com a atriz e consegue apresentar eventos que, futuramente, são revisitados com uma nova perspectiva, com novos detalhes revelados aos poucos, o que melhora a experiência do público quando todas as peças se encaixam.

Kim Kyung-ja, uma personagem divorciada que dedicou sua vida ao filho

Com certeza, o ponto que mais se destaca na linha do tempo da história de Mask Girl é como tudo que é apresentado – desde o primeiro episódio – acaba se tornando uma consequência para o futuro. Não só o elenco principal sofre com o peso dos desastres e incidentes que acontecem, a série trabalha as consequências que caem sobre descendentes e pessoas que nem sequer existiam na época dos ocorridos. Mais uma vez, temos a trama exibindo a visão de uma sociedade que pode ser cruel e julgadora, mostrando que incidentes violentos não afetam apenas quem comete crimes, como todos à sua volta.

Apesar de se enquadrar como k-drama, Mask Girl traz elementos diferentes do que se tornou habitual no gênero. Enquanto encontramos nuances de comédia, romance e dilemas do dia a dia em doramas tradicionais, essa série traz uma linguagem mais dura, muita violência, conteúdo sexual e a falta de ingenuidade. Isso pode afastar o público que já está habituado com esse tipo de produção coreana (que geralmente é mais leve), mas abre as portas para que um público novo chegue, trazendo uma trama adulta e voltada para pessoas acima dos 18 anos. Essa linguagem diferente é o que faz de Mask Girl bem inovadora, trazendo esse ar de novidade e frescor para o gênero.

Mask Girl é uma grata surpresa ao catálogo da Netflix, trazendo um choque de realidade ampliado pela dramaturgia dos k-dramas, inovando ao sair do que é habitual para essas produções. O bom roteiro, repleto de reviravoltas convincentes, bem como o ritmo narrativo ser ideal para a proposta da série, que é a frequente troca de personagens a cada episódio, são alguns dos pontos mais positivos sobre a produção. Além disso, a série consegue trabalhar temas como “padrão de beleza” e “pressão estética” de forma madura, considerando tudo que impacta na vida de seus personagens. Por fim, o excelente trabalho de seu elenco, assim como do diretor Kim Yong-hoon, completam o conjunto que  levou Mask Girl a receber 4 estrelas da Legião dos Heróis!

Nota: 4 de 5.

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